ARTIGO

Procurando compreender a morte

Por André Sallum |
| Tempo de leitura: 3 min

Todos os seres vivos, sejam humanos, animais ou vegetais, encontram-se em trânsito do nascimento para a morte. Viver neste mundo é, portanto, breve experiência, e por mais que tentemos prolongá-la, nos encontramos a caminho de outras dimensões da existência, conforme ensinamentos das religiões e escolas espiritualistas, bem como dos que alcançaram um contato consciente com níveis mais profundos de si mesmos e da vida.

Diante da inevitabilidade da morte, torna-se necessário desapegar-se de tudo o que é transitório, para que se esteja tão preparado quanto possível para o momento da despedida deste mundo. E se nada nos pertence, nem mesmo nosso corpo, parece-nos sensato que não nos consideremos donos de nada nem de ninguém, a fim de evitarmos sofrimentos decorrentes de nossa possessividade.

Aqueles que atingiram um elevado nível de consciência, demonstrado por seus ensinamentos e conduta, além de encararem a morte com naturalidade, se referiram a um estado de viver concentrado no aqui e no agora, sem nostalgia pelo que passou nem ansiedade acerca de um futuro incerto.

Estamos a todo instante morrendo e renascendo. O minuto que se foi não mais nos pertence, tanto quanto o instante seguinte nos foge ao controle. Diante desse fluxo contínuo da vida, sabe-se que a sementeira que realizamos no presente é a garantia de nossa colheita no futuro, portanto cabe-nos a construção do próprio destino, mediante as escolhas que fazemos.

Preparar-se para a morte não deve ser expectativa niilista diante do inevitável fenômeno biológico, mas um contínuo processo de espiritualização, na certeza de que a qualquer momento seremos, tanto quanto aqueles que conosco convivem, surpreendidos pela morte do corpo. Uma correta instrução espiritual, que traga informações seguras, coerentes e confiáveis acerca do sentido da vida, nesta dimensão e após a morte, aliada a orientações que permitam a cada um expressar suas potencialidades anímicas, favorece a dissolução dos temores acerca da morte. Compreender a impermanência de tudo o que existe na matéria, ao lado da certeza da imortalidade da vida e da consciência traz uma serenidade que nenhuma outra condição é capaz de proporcionar. Os caminhos espirituais enfatizam a importância de se estar preparado para morrer bem, vivendo bem, ou seja, em harmonia com as leis que regem a vida, para uma transição serena quando se extinguir a vida corporal.

É chegado o tempo de retirarmos da morte os véus de mistério e as superstições, fantasias e temores que a seu respeito foram criadas ao longo dos tempos, a fim de compreendermos seus componentes espirituais e evolutivos, aceitando-a como uma experiência libertadora. Tanto para quem deixa o corpo quanto para os que ficam, a morte representa uma radical transformação, cada um dando diferente significado ao processo, de acordo com seus valores, crenças, experiências e estado interior.

Estar com a consciência tranquila em relação ao cumprimento dos deveres, ao mesmo tempo sem culpas, ressentimentos, medos ou apegos é, de acordo com diversos instrutores espirituais, seguro passaporte para um destino melhor na viagem que todos faremos quando deixarmos este plano em que temporariamente nos encontramos.

Lembrarmo-nos que nossa bagagem nessa jornada será unicamente o que carregarmos na consciência pode servir de orientação segura quanto a nossas escolhas, condutas e ações, não apenas nos últimos instantes de nossa vida, mas a cada momento do caminho, desde aqui e agora.

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