ARTIGO

Dinossauro da internet

Por Edson Rontani | 28/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Foi graças a um “pé de meia” que, em novembro de 1996, entrei pela primeira vez na internet. Juntei centavo por centavo para pagar à Merconet pelo acesso via linha discada pouco mais de um ano após a internet comercial ser lançada no Brasil. Internet era uma ostentação à época. Poucos a tinham. Era cara. Igual ao telefone celular. Cabe lembrar que antes a internet era restrita à algumas áreas governamentais e faculdades. Não era aberta a todos, como atualmente.

Ainda hoje creio ser eu o único usuário com o domínio Merconet em toda Piracicaba, o primeiro provedor local. Por isso, me sinto um tanto quanto “jurássico”. Na época, a navegação era restrita à texto e poucas fotos. Gráficos mais sofisticados ou vídeos demoravam uma eternidade para se formarem na tela. Downloads, então, nem pensar! Uma música – uma única ! – demorava cerca de 90 minutos para ser baixada. Me lembro que, para navegar na internet, eu tinha que levar disquetes para que fosse fornecida uma das primeiras versões do Netscape, navegador que sobreviveu ao tempo, mas está entre os menos usados, perdendo em muito para o Internet Explorer, Chrome, Edge ou o Firefox.

Mas ... para que servia a internet em 1996? Era um objeto de consumo sem sentido. Seus amigos ainda nem sabiam ao certo o que era e-mail. Para pesquisar algo, só sendo um expert. Creio que ainda servia para pouca coisa. SPAM era uma palavra que pouco se ouvia falar. Vírus ... muito menos ... Servia para troca de e-mails e principalmente para conversas on-line através de programas como o mIRC, conhecidos por internet relay chat, ou sala de bate-papo. Scaner para troca de fotos era caro. Máquina digital nem existia. MP3 surgiu no início da década de 2000, com proliferação através do extinto Napster. Alguém se lembra ?!?!?

Na época, nada de Google. Isso mesmo! Não havia pesquisa! Eu lia revistas e jornais e recortava os anúncios para depois visitar a página da Coca-Cola, da CNN ou de outas multinacionais. Isso porque o Brasil não tinha designers para criar home-pages empresariais ou pessoais. Nada de mídias sociais ! Me lembro que havia uma versão abrasileirada do Google chamada de Cadê, comprado anos depois pelo Yahoo. Mesmo assim, surfar pela rede era pegar uma gigantesca onda sem saber em qual praia você seria jogado. Era navegar sem bússola!

As visitas eram demoradas. As páginas no navegador demoravam para se formarem. Isso, claro, depois das 21 horas, já que a tarifa era mais barata. O pior é que a linha caía todo instante e quando você reconectava... a linha estava ocupada! Você nem tinha formado a mensagem toda e precisava atualizar a página. Era um terror fazer uma transação bancária na época.

Muito mudou. Antigamente, o rádio era a terceira fonte de confiança do consumidor, perdendo, em primeiro lugar para a lista telefônica. Lembra disso? Aquele livro grosso com nomes, endereço e telefones ... Coluna sociais rendiam uma boa reserva financeira para televisões, jornais e revistas. Hoje, publica-se gratuitamente no Instagram, desbancando a posição do colunista social pelos influenciadores digitais. Não existe nada nocivo nisso. São mudanças provocadas pelo tempo e pela tecnologia. Semana passada, comemoramos os 1.900 anos da criação do papel pelos chineses. O papel saiu de moda? Não ! Está aí no dia a dia, seja para preservar memórias em livros ou para embrulhar presentes.

Confesso que hoje não vejo graça em receber corrente, piadas, dicas de segurança e toda tralha que vem pelos e-mails. What’s app surgiu cerca de dez anos atrás. Nem era um meio de comunicação. Surgiam os torpedos ou SMS. Tiveram vida curta. De tão antigo que sou na net, isso para mim soa como uma eterna e constante reprise. Até para piadas sou meio seco : meus colegas pensando que vou rir de uma piada que para eles é nova, tasco-lhes: “essa eu li pela primeira vez na década de 90!”. Recordações de um fóssil cibernético.

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