Desde os primórdios da civilização, abordar sobre a morte é um assunto que fascina e também aterroriza a humanidade. E os supostos eventos que sucedem a morte são historicamente fonte de inspiração para diversas doutrinas filosóficas e religiosas, bem como uma inesgotável fonte de inseguranças, temores, angustias, que geram muita ansiedade nos seres humanos. Pensar na morte como fenômeno físico, embora muito estudado, continua sendo considerado um mistério quando pensamos no psiquismo dos seres humanos.
Embora falar sobre a morte contribua a elaborar a constatação do fim da vida humana em algum momento, também provoca muito desconforto, pois mergulhamos na reflexão da certeza de que um dia a vida chegará ao fim. E essa certeza da morte humana estimulam mecanismos psicológicos, na tentativa de melhor compreensão de como o ser humano pode lidar com sua morte; seus medos; suas angustias; suas defesas e atitudes mediante ao que acontecerá em algum momento, em um futuro próximo ou distante, e começa uma contagem regressiva desde que lhe foi concedida a existência.
Dentre os vários enfoques teóricos que possibilitam a reflexão sobre a morte, o enfoque psicanalítico, através da analise pessoal pela busca dos indivíduos por respostas a suas indagações, e a concepção que se tem sobre a morte e a atitude do homem diante dela, podendo o indivíduo vivo tudo e o morto não pode nada.
Vivemos em um mundo onde não abandonamos os mortos, fixamos eles na nossa existência através de lembranças, implicando sobre a sobrevivência deles dentro de cada ser humano que já tenha perdido um ente querido. Temos muitos exemplos através de diversas culturas que trazem uma ideia de continuidade em relação a morte, não sendo a morte considerada um fim de si mesmo.
Há uma certa tentativa através desses contextos de controle mágico sobre a morte, não havendo uma cisão abrupta entre a vida e a morte, e isso certamente aproxima o homem da morte com menos terror. Porém esse descontrole com a morte, traz a consciência do homem da atualidade a conviver com a ideia de que uma bomba pode cair do céu a qualquer momento, e o ser humano mediante a tanto descontrole sobre a vida, tenta se defender psiquicamente, de maneira cada vez mais intensa contra a morte.
Desde de muito cedo, ainda bebes, quando passamos a distinguir nosso próprio corpo do corpo da mãe, somos obrigados a aprender a nos separar de quem e daquilo que amamos. A princípio, convivemos com separações temporárias, como por exemplo, manter –se distante dos tutores no decorrer do período que estão trabalhando, posteriormente pode acontecer mudança de escola, mas chega um momento que acontece a nossa primeira perda definitiva, alguém que é muito importante, um dia se vai para sempre, é esse para sempre que nos incomoda muito. Porém, quanto mais conscientes estivermos de nossas mortes diárias, mas estaremos preparados para o momento da grande perda de tudo que nutrimos durante a vida; toda bagagem intelectual, todos os relacionamentos afetivos e o corpo físico.
Na nossa cultura aprendemos evitar a dor, a perda, revelando que o homem tenta se afastar, fugindo ao máximo da ideia da morte, considerando sempre que o outro vai deixar de existir e ele não. Segundo Freud ninguém crê em sua própria morte, inconscientemente estamos convencidos de nossa própria imortalidade, o medo da morte é o medo básico e ao mesmo tempo fonte de todas as nossas realizações e tudo aquilo que fazemos na vida é para transcender a morte. Assim todas etapas do desenvolvimento humano são na verdade formas de protesto universal contra o acidente considerado a não existencia. E cada indivíduo no decorrer de sua existência terá que entender seu próprio processo para encarar esse momento fatídico.
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