ARTIGO

O que nos motiva

22/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Nossas ações, por mais simples e corriqueiras, sempre resultam de alguma motivação, de algum impulso que as movimenta. A fim de melhorarmos a qualidade de nossos atos, tornando-os equilibrados, saudáveis e benéficos, parece-nos importante considerarmos a origem do nosso agir e os fatores que nele interferem, compreendendo a que forças estamos servindo, pois isso é determinante na trajetória de nossa vida e no efeito que provocamos no ambiente em que vivemos.

Quando sob o domínio do ego – o que ocorre na maior parte do tempo – somos impulsionados por desejos, fantasias, ambições, ressentimentos, medos, orgulho, e qualquer ação resultante desses e de outros aspectos de nossa natureza egoica geralmente traz consequências negativas, a nós e aos outros, como efeito de leis que nos regem a vida.

A sabedoria milenar (a qual permeia as religiões) traz como um de seus ensinamentos a tomada de consciência dos impulsos que nos movem, afirmando que somente ações altruístas e isentas de desejo de recompensa são legítimas. Nesse sentido, quando temos expectativa de resultado, de gratidão ou de reconhecimento pelo nosso trabalho, ainda estamos agindo sob influência do ego.

No processo de autoconhecimento, quando se atinge um nível mais profundo de consciência, reconhece-se a si mesmo e aos demais como parte e expressão da vida universal. Esse despertar revela dimensões antes ignoradas, ampliando a compreensão da vida. Com isso, manifestações egoicas deixam de predominar, cedendo espaço a interesses de outra ordem, os quais sempre incluem o bem-estar alheio e o cuidado com todos os seres. Esse estado inclusivo, compassivo e altruísta pode ser alcançado com um mergulho interior, com uma compreensão mais profunda da vida e das relações entre os seres. Não é teoria intelectual, dogma religioso nem especulação filosófica, mas uma percepção interior que muda o olhar sobre o mundo e a vida, alterando o modo de agir. Todos os que empreenderam essa jornada interior, nos mais diversos povos, religiões e tradições, transformaram-se para melhor, tornando-se catalisadores e promotores de mudanças positivas, criativas e curativas na sociedade de que fizeram parte. Notabilizaram-se, alguns, pelas obras e ensinamentos; outros tantos, mesmo no anonimato, beneficiaram significativamente o grupo social a que pertenceram.

Agir a partir de nossa natureza essencial, profunda, nos permite mudar os padrões de comportamento, o que se faz urgente diante dos imensos desafios do mundo contemporâneo. Na superfície do ego pouca coisa conseguiremos realizar, pois é nesse nível que consideramos nossos irmãos como adversários ou inimigos, que criamos e alimentamos conflitos, gerando distorções nas relações entre os seres, destruição da Natureza, guerras intermináveis que ameaçam a sobrevivência da humanidade e transtornos emocionais e mentais que têm assumido proporções pandêmicas.

Chegamos, como humanidade, a um ponto no qual é imprescindível uma mudança de perspectiva – consequentemente de atitude –, e essa mudança é favorecida pelo descobrimento interior, pelo reconhecimento, cultivo e valorização de nossa natureza essencial, espiritual, independentemente de condicionamentos ou convenções, sejam sociais ou religiosos. Essa caminhada de autodescoberta e de comunhão com a fonte da vida permite que nossas ações sejam permeadas de energias diferentes, harmonizando-se com os propósitos superiores da vida, ao menos a parcela deles que conseguimos vislumbrar.

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