ARTIGO

Violência Política e Misoginia: pautas para a Educação em Direitos Humanos

13/03/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Uma trajetória de luta e resistência! Tive a alegria de conhecer a vereadora Raí de Almeida ainda nos idos dos anos 2000, logo depois de minha chegada à Piracicaba. Era o início do segundo mandato do prefeito José Machado. Na ocasião, Raí de Almeida, que já registrava em sua trajetória e currículo político dois mandatos como vereadora, ocupava a pasta da Coordenadoria da Mulher. Aquele era um tempo interessante, a cidade acalentava muitos sonhos de cidadania e expectativas no campo dos direitos sociais, culturais e ambientais.

Pelas mulheres! Lembro que a primeira vez que me encontrei pessoalmente com a Raí de Almeira era justamente num mês de março. Assim como hoje, ela estava à frente da organização de um ato em alusão ao dia Internacional da Mulher. A imagem daquela mulher nordestina, forte, cheia de empatia, de braços erguidos e punho cerrado, conclamando por um tempo livre do machismo, da misoginia e de todas as formas de violência contra a mulher ainda se destaca. Este é um dos mais belos registros políticos presente em minha memória.

Em 2017, juntamente com um grupo qualificado de professores do Instituto Federal, criamos, em Piracicaba, o primeiro curso lato sensu do Brasil em direitos humanos da Rede Federal de Educação. Quis a história que, naquele mesmo ano, Raí de Almeida se tornasse aluna pesquisadora, compondo a primeira turma, no curso de Pós-Graduação Educação em Direitos Humanos, do Instituto Federal de São Paulo, campus Piracicaba. Tive então o privilégio de coordenar a implantação do curso e também de ter a Raí de Almeida em sala de aula, como dedicada e atenta aluna, dinamizando debates e diálogos densos e fundamentais, sempre apontando para a urgência da defesa dos direitos sociais e culturais na cidade.

Ativista pelos direitos humanos! Para além de um título acadêmico de especialista em direitos humanos, Raí de Almeida tem feito da defesa da dignidade humana, particularmente da luta em prol dos direitos das mulheres, o grande tema de sua vida política. De maneira incansável, a vereadora Raí, agora em um terceiro mandato, revela toda sua capacidade de liderança, articulando, sensibilizando, mobilizando, convocando e organizando a população para a defesa intransigente dos direitos de cidadania.

Contra a violência política e de gênero! Talvez seja impossível quantificar quantas mulheres Raí de Almeida já abraçou ao longo de sua militância política, assumindo gestos de solidariedade, acolhimento e proteção. Agora nos chega a notícia que a vereadora Raí está sendo ameaçada de morte: trata-se de uma evidente tentativa de imobilizar, parar, silenciar sua voz forte, sempre contundente; seu braço estendido, pronto para a resistência e suas mãos abertas, dispostas e receptivas. 

O Brasil é um país que guarda uma história colonial, de ceifar a vida de quem ousa, com rara coragem, erguer a voz contra esse sistema de opressão e exploração. A realidade das mulheres é ainda mais grave. Os índices de violência contra as mulheres são devastadores, inaceitáveis. Raí de Almeida sabe bem disso, como mulher, nordestina e política. Conhece, profundamente, a violência de mundo que está longe de superar todo machismo e misoginia. A covarde ameaça que se manifestou contra a vereadora Raí de Almeida não deixa de ser também uma afronta contra nossos melhores sonhos, nosso desejo único por um tempo de igualdade, liberdade e fraternidade. É preciso que fique claro: estamos com a Raí, semeando a esperança e forjando um novo tempo que inexoravelmente virá!

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1 COMENTÁRIOS

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  • JORGE SOUZA
    10/04/2024
    De acordo com o Atlas da Violência, de 2011 até 2021 houve 616 mil homicídios no Brasil. Destes, 49 mil foram feminicídios e quase 480 mil (a maioria absoluta!) foram crimes contra NEGROS. Ainda assim, o autor do texto escreve que \"os ÍNDICES de violência contra as mulheres são devastadores, inaceitáveis\"... A que \"índices\" ele se refere exatamente? Será que ele crê que 49 mil feminicídios são mais devastadores e inaceitáveis do que o assassinato de 480 mil negros?