DIA DA MULHER

Árbitras de futebol: ‘Para cada 1 covarde, há pelo menos outros 21 para nos defender’

Em um esporte majoritariamente masculino, árbitras de futebol tentam se impor por sua capacidade técnica

Por Erivan Monteiro | 07/03/2024 | Tempo de leitura: 2 min
erivan.monteiro@jpjornal.com.br

Divulgação

Fran: ‘nós recebemos reclamações, mas isso acontece em todos os gêneros’
Fran: ‘nós recebemos reclamações, mas isso acontece em todos os gêneros’

A publicitária, pedagoga e estudante de educação física Franciele de Moraes, a Fran Moraes, atua há um ano e seis meses na AAPR (Associação de Árbitros de Piracicaba e Região) como árbitra-assistente. Em sua função, ela já passou por alguns momentos de tensão à beira do campo de futebol, mas afirma que nunca sofreu agressão física por parte dos jogadores.

Em um esporte majoritariamente masculino, ela tenta se impor com sua capacidade para bandeirar as partidas e tem feito um bom trabalho. “No sentido de machismo, nunca passei nenhum tipo de constrangimento pelos jogadores; nós recebemos reclamações é claro, mas isso acontece em todos os gêneros”, diz.

Fran conta que a grande maioria dos atletas sabe respeitar a autoridade em campo. E, no caso das mulheres, eles mesmos são os primeiros a protegê-las. “Em algumas partidas, jogadores já vieram ‘pra cima’, mas para cada um covarde que há no campo, há pelo menos outros 21 para nos defender; então nunca sofri agressão física”, declara.

“Quanto às torcidas sim. A cultura brasileira, infelizmente, é habituada a ofender a arbitragem”, lamenta. “E nós, como mulheres, sofremos não apenas com questionamentos de lances, mas também com assédio moral e sexual vindo da torcida. Lógico que não são todos os jogos, felizmente é a minoria, mas acontece sim”, revela.

Além disso, a “bandeirinha” conta que as profissionais do apito ainda sofrem com a falta de uma estrutura adequada para elas no futebol amador. “Os campos não são projetados para receber mulheres; não temos banheiro feminino e vestiário para árbitras”, conta Fran, que também é coordenadora pedagógica da Escola João Paulo de Araújo, o Centro de Formação da AAPR.

O lado bom, diz ela, é que também existe a curiosidade, os afagos e a força que ganham de mulheres e homens. “Ao mesmo tempo que temos olhares de preconceito quando chegamos no campo, também recebemos elogios de mães de jogadores; olhares de admiração de meninas na torcida e respeito da maioria dos jogadores e técnicos”.

Hoje, existem 15 árbitras atuantes na AAPR, mas a maioria atua como mesária, a responsável pela súmula do jogo. São as profissionais que registram o nome, o número, os cartões e os gols, além de recolher assinaturas dos capitães, entre outras atribuições.

Uma delas é Camila Urbano Passeri Limongi, que garante ter o respeito dos atletas durante seu trabalho. “Na verdade, nunca sofri com diferença por ser mulher. Em raras exceções, há os que não respeitam, mas nada por ser mulher”, explica Camila.

EVOLUÇÃO

A abertura do futebol para as mulheres é nítida, se compararmos com a situação vivida há duas, três décadas... “Nessa época, nem se ouvia falar em arbitragem feminina e a profissão jogadora era inaceitável”, lembra Fran.

“Hoje temos uma visão muito diferente, graças a craques da bola, como Marta, Formiga, Sissi e tantas outras. O futebol feminino conquistou o seu espaço, e na arbitragem temos o antes e depois de Edina (Alves). E outros nomes, como Neuza Bach, Daiane Muniz, Fernanda Colombo, que abriram os olhos da sociedade para aceitar nosso lugar”, finaliza Fran.

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