ARTIGO

Entre sons e silêncios

Por André Salum | 24/02/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Na sociedade apressada e ruidosa em que nos movimentamos, parece termos nos esquecido do valor do silêncio, tanto quanto da beleza de ouvir os sons e a quietude da Natureza à nossa volta. A todo instante cercados por incontáveis sons, muitos dos quais desarmônicos, não nos apercebemos do quanto o nosso viver tem se distanciado do equilíbrio necessário ao bem-estar e à saúde psicofísica.

Nosso cotidiano geralmente é saturado de ruídos desconexos, grande parte deles criados pelas atividades humanas; por isso, sempre que possível, breves momentos de silêncio, principalmente em meio à Natureza, têm propriedades restauradoras e harmonizadoras, preventivas e terapêuticas, acessíveis a todos quantos se concedam tais oportunidades.

Não é necessário que alguém se afaste de onde a vida o situou, nem que se force a permanecer artificialmente em silêncio, pois o próprio conflito interior resultante desse esforço já significa ausência de quietude. Saudável silêncio emerge naturalmente quando se permitem momentos de contemplação e oração, meditação e atenção plena. Nessas ocasiões, breves pausas nos pensamentos criam um espaço interno onde o silêncio pode se manifestar. Essa experiência, essencialmente interior, prescinde de condições externas ideais, pois mesmo em ambientes agitados é possível experimentá-la. Por outro lado, quem se encontra interiormente perturbado, inquieto e ansioso, mesmo em local silencioso, torna-se incapaz de experimentar e de usufruir os benefícios da quietude e da paz. Serenar o pensamento, acalmar as emoções, limitar desejos e ambições e controlar os próprios impulsos constituem, pois, providências necessárias para que o estado de silêncio possa emergir, oferecendo todos os seus benefícios.

Na alternância entre sons e silêncios, a fala e a música exercem grande influência na qualidade de vida e das relações interpessoais, por serem forças plasmadoras da realidade objetiva.

No caso da música, esta possui especial poder de influenciação sobre o psiquismo humano, o que, na maioria dos casos, infelizmente não é levado em consideração, seja na sua execução privada ou nos espaços coletivos. Sabe-se que tanto a letra quanto a melodia de uma música são portadoras de energias específicas e, dependendo de sua qualidade, influem positiva ou negativamente quem a escuta. Músicas de teor degradante, agressivo e brutalizante exercem efeito devastador sobre o psiquismo humano, intoxicando e saturando de energias destrutivas as pessoas e o ambiente. A escolha de músicas que expressem beleza, harmonia e inspiração reveste-se de especial significado, especialmente no mundo atual, tumultuado e conflituoso, por isso mesmo imensamente necessitado de forças curativas e restauradoras. Ouvir, disponibilizar e compartilhar músicas harmoniosas e elevadas, além de ser procedimento defensivo e curativo, constitui importante serviço ao bem comum. Diversos instrutores espirituais afirmam que, do imenso acervo musical disponível, pequena parcela justifica sua existência e merece ser ouvida, poque a maioria não cumpre a função evolutiva que deveria caracterizá-la.

Transitar entre sons harmoniosos e silêncios significativos é um desafio que enfrentamos em nosso cotidiano. Para quem busca um viver sadio sempre é possível, mesmo em meio a ruídos externos, a manutenção da quietude interior, a qual se torna inspiradora de pensamentos claros, emoções equilibradas e ações construtivas, na promoção do bem comum e do convívio saudável.

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