ARTIGO

Carnaval? Vou... pular

Por Edson Rontani Júnior | 08/02/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Nem lembramos mais. Mas foi outro dia. O Carnaval chegou a ser cancelado em 2021 e 2022. As empresas trabalharam normalmente. A pandemia da Covid-19 obrigava o distanciamento social. Foi a mais recente interrupção da folia de Momo.

O Carnaval tem várias faces ao longo do tempo. Aquilo que conhecemos hoje como festa popular carnavalesca passa a tomar sua distinção social e cultural no final do século retrasado. Curioso é ver que, cem anos atrás, os carros alegóricos do Rio de Janeiro traziam sambistas de terno e chapéu, numa moda europeia incondizente com o calor superior aos 41 graus do solo fluminense.

Em contrapartida, o Carnaval se torna atrativo de uma determinada classe social com sua introdução nos clubes sociais. Não digamos que seria uma festa da elite e sim da classe média e que levava famílias aos festejos noturnos e os petizes às matinês normalmente realizadas de domingo e terça-feira. Os tempos eram outros. Motivavam até as coberturas nas emissoras de rádio, como acontecia até os anos 1990 em nossa cidade.

Piracicaba teve um dos melhores carnavais de rua do interior paulista. Ao menos era o propagada pela imprensa local nos anos 1970 e 1980. Estrelas da TV e do cinema por aqui aportavam para cair na folia como o colunista Giba Um, as atrizes Elke Maravilha e Wilza Carla, entre outros.

Muitas são as memórias do piracicabano no Coronel Barbosa, Cristóvão Colombo, Regatas, Atlético, Palmeirinhas e muitos outros. Também completa a memória coletiva local as agremiações Caxangá, Ekipelanka, Ekyperalta, Ekypechato e muitas que desfilavam pela Armando de Salles Oliveira, Boa Morte ou Governador Pedro de Toledo. As escolas remanescentes conseguiram fazer a apoteose no Sambódromo instalado na Estação da Paulista na segunda metade dos anos 1990. 

Dos blocos populares, como o Bloco da Ema, o piracicabano também seguiu o trio elétrico da Banda do Bule e da Banca da Sapucaia.

Bem antes disso tudo, houve o cancelamento do Carnaval, antes mesmo da atual pandemia. Sua realização foi marcada para abril, mês em que normalmente comemora-se a Páscoa. Foi o que ocorreu em 1912.

O barão do Rio Branco havia falecido em 10 de fevereiro de 1912 provocando comoção nacional por sua dedicação à diplomacia brasileira. Foi ele o responsável por delinear geograficamente o país, formando o mapa que hoje conhecemos da nação brasileira. Estima-se em 300 mil pessoas presentes ao seu velório e enterro, 25% dos habitantes do Rio de Janeiro na época.

Decretado luto oficial por sua morte, isso atrapalharia o carnaval de 1912 que ocorreria no sábado seguinte ao falecimento, 17 de fevereiro. Os festejos deveriam ser adiados para 6 a 10 de abril.

Barão do Rio Branco teve maior reconhecimento quando morto, do que vivo. Foi o responsável pela transição política entre império e república, realizando acordos internacionais para ocupação de territórios sem utilizar-se de armas ou de guerra. Serviu a quatro presidentes. Foi jornalista habilidoso assumindo o Itamaraty em 1902, em cuja sede, na Guanabara pautava os principais jornais do país através de pseudônimos escrevendo artigos de profundidade política.

A recente história mostra que por duas ocasiões o carnaval foi adiado. Uma foi esta citada. A mais antiga ocorre em 1892, quando o ministro do interior, Fernando Lobo Leite Pereira, resolveu alterar a festa popular para 26 de junho, alegando que o mesmo gerava muito lixo e que o novo mês era mais “salutar” para o brasileiro, distante do calor peculiar da época. Como bom sambista, o brasileiro comemorou o carnaval nos dois meses.

Como bom brasileiro, neste Carnaval, vou pular ... fora disso tudo.

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