ARTIGO

O Tremendão

Por Edson Rontani Jr. | 07/02/2024 | Tempo de leitura: 4 min

Me lembro como se fosse hoje: – “É uma justa homenagem a uma personalidade que marcou Piracicaba”.

A frase foi dita por Evaldo Vicente, jornalista, não me recordo ao certo o dia, mas sei que foi em 1974. Há quase 50 anos atrás. As palavras foram dirigidas ao meu pai Edson Rontani o qual na ocasião eu, com meus sete anos de vida, acompanhava.

A “justa homenagem” era destinada ao comendador Humberto D´Abronzo, o “Tremendão”, que falecera pouco antes.

Foi deste princípio que parei para rememorar um pouco sobre o “Tremendão” Humberto D´Abronzo que faleceu em 23 de maio de 1974, quase meio século atrás.

Filho de italianos que inicialmente se instalaram em Mombuca na lavoura do café, foi em Piracicaba nos idos anos 20 e 30 que iniciou o processo artesanal de cultivo de licores, vinagre e bebidas destiladas em uma época difícil adaptação para aqueles que procuravam vida nova no Brasil. Com o tempo, expandiu os negócios para os refrigerantes gasosos. Piracicaba era pequena e sua estrutura socioeconômica ainda não havia se estabelecido. Amparado pelo pai Paschoal D´Abronzo e pela mãe Rosa Pizelli (ou Picerni) D´Abronzo, Humberto teve seu ápice industriário nos anos 50 e 60 quando notabilizou-se como o industrial da aguardente, com sua famosa marca “Caninha Tatuzinho” que por anos levou o nome de Piracicaba para todos os cantos do país e que chegou a ser exportada como “sugar liquor” (licor de açúcar). Foi na primeira metade do século passado que a família, com seu dom visionário, adquiriu aos poucos áreas onde da atual avenida Rui Barbosa. Então, além do Engenho Central, o horizonte da cidade era restrito e a geografia da Vila Rezende era ocupada por chácaras e muito mato.

O “Tremendão” tornou-se notório e vários lembram-se dele por seu engajamento no esporte, não apenas no como presidente do Esporte Clube XV de Novembro, mas também como dirigente do basquete alvinegro em sua época de orgulho e muitas vitórias. Também dirigiu o Clube Atlético Piracicabano, o qual tentou elevar para a divisão principal do futebol paulista.

D´Abronzo começou a se interessar cedo pelo esporte. Chegou a jogar nos anos 20 no Clube de Regatas de Piracicaba, como amador. Nas fotografias de família, parece engraçado ver fotos deste homem de “ar sério” com um uniforme de jogador.

Foi também um empresário que antecipou o futuro, acreditando, já nos anos 60, naquilo que se notabilizaria três décadas depois: o time empresa, muito evidenciados hoje pelos grandes times do eixo Rio-São Paulo e pelas principais equipes europeias. Revelações foram feitas em suas mãos. Também trouxe a Piracicaba ídolos da capital como o caso de Picolé e tantos outros. Waldemar Blatkauskas também foi uma aquisição sua enquanto dirigente da bola ao cesto.

Mas, Piracicaba pouco conhece da história de Humberto D´Abronzo diante do basquete quinzista, numa época de estrelas como Pecente, Wilson Renzi, Wlamir e Emil Rached (que a minha geração conheceu como figurante de “Os Trapalhões”). D´Abronzo, como dirigente, levava o nome de Piracicaba, através de seu basquete, para países como a Inglaterra durante o Torneio Cristal de Grã-Bretanha em 1960 e para disputas amistosas como contra times da Tchecoslováquia e Áustria.

Após o Basquete, Humberto assume a presidência do futebol do XV de Novembro. Promete crescimento, aposta nos jogadores, eleva o moral da equipe, passa a ser considerado um dos destaques do futebol paulista, chegando a ser comparado com os dirigentes dos grandes times de então. Era um nome muito lembrado e respeitado pela imprensa.

Piracicaba deve a D´Abronzo uma de suas principais alegrias vividas na segunda metade dos anos 60 : a conquista do XV do Acesso do Futebol Paulista de 1967, retornando o alvinegro à elite do futebol paulista. A cidade parou na volta dos atletas.

Pensou em se envolver na política, sendo candidato a vice-prefeito, desistindo da ideia pouco antes das eleições. Em 1971 decide deixar o XV que passou por nova mudanças a caminho da era Romeu Ítalo Rípoli. Humberto dedica-se à família e abandona a produção de aguardente.

A saudade não tem tempo para acabar. É infinita. Esta saudade de homem firme e determinado já dura 50 anos. Desde que ele partiu. E pensar que poderia estar ao nosso lado forte e firme como suas irmãs Luzia, Anna e Suzana – todas também já partiram mas algumas ultrapassaram a faixa dos 90 anos de idade oferecendo um belo exemplo de vida ! Exemplo que a cidade deve reverenciar ao velho “Tremendão”.

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