ARTIGO

O dever de ficar doente

Por Walter Naime |
| Tempo de leitura: 2 min

Ai, Ai, Ai, é o grito da doença. Às vezes, esse grito é emudecido e, quando se percebe, não temos tempo para dar tchau para a vida.

Definir a saúde vai além da ausência de doença. É um estado de bem-estar físico, mental e social. A doença, de outra forma, é um sinal de desequilíbrio desse estado. Essa dualidade intrínseca destaca a necessidade de uma abordagem do todo para promover a saúde e tratar a moléstia.

A saúde é uma jornada em constante movimento, influenciada por fatores físicos, emocionais e ambientais. É um estado fluido que reflete a interação complexa entre o corpo e a mente. Compreender essa dinâmica é essencial para abordar as questões cruciais relacionadas ao direito de ficar doente.

Cuidar da saúde implica reconhecer que, em algum momento, podemos nos encontrar no lado mais baixo da gangorra, enfrentando a doença. A questão verdadeira é como equilibrar essa balança de maneira a promover a cura e o bem-estar duradouro.

Quem se beneficia dêsse desequilíbrio entre a saúde e a doença?

Em muitos sistemas de saúde desiguais, e acesso limitado há cuidados que ultrapassam as disparidades. É imperativo reconhecer que todos têm o direito fundamental de buscar a cura e que a sociedade como um todo se beneficia quando essa busca é facilitada.

Além dos direitos individuais, existe um dever coletivo de promover a saúde e facilitar a cura. Comunidades saudáveis são fundamentais para criar ambientes propícios ao equilíbrio dinâmico. Educação, acesso equitativo a cuidados de saúde e apoio emocional são as peças-chave nesse quebra-cabeça.

Em análise, o direito de ficar doente é natural e inerente à condição humana. No entanto, a busca pela cura é um dever que recai sôbre todos nós.

Os sistemas de saúde, por sua vez, tentam acompanhar o desequilíbrio da balança. A condição de obter lucros e sustentabilidade impõe um cuidado nos orçamentos, que se vê reduzido pelos gastos.

Quando isso acontece, surge a necessidade do aumento do valor das parcelas mensais, o que, não cabendo no bolso do contribuinte, se vê prejudicado, diminuindo seu número, exigindo a diminuição do quadro de servidores, negativando a qualidade dos atendimentos em número e eficácia, pondo em risco o sistema.

Com a tendência crescente que a medicina preventiva se apresenta, os problemas orçamentários diminuem, o que dá um certo fôlego para o sistema, mas é demorado.

Com tudo isso acontecendo, alguns sobrevivem e continuam oferecendo seus serviços. Porém, no fundo comercial, a torcida para que se aumente o número de doentes é grande, e chega a ponto de inverter os conceitos e querer que você tenha o dever de ficar doente, pois com mais doentes a arrecadação aumenta e continua sustentar a organização.

Se você não ficar doente, o sistema atual perece. O sistema disse, fique doente senão eu morro.

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