ARTIGO

Os trilhos do trem - A estação da Paulista

Por Walter Naime |
| Tempo de leitura: 3 min

Os trens foram feitos para andar nos trilhos.

Onde estivessem as riquezas, fossem elas, minerais, vegetais, animais, culturais e de aventuras, eram sempre os atrativos para que a ambição humana se colocasse para poder transportá-la de um lugar para outro, onde houvesse consumo desses produtos.

Assim, surgiram as ideias do transporte ferroviário para transportar cargas, que também era aproveitado para transportar pessoas, valores, notícias, através da correspondência escrita, jornais e outras cositas mais.

Na base dos trilhos, no início das linhas férreas, eram colocados dormentes de madeira sobre pedras britadas, que com o tempo foram substituídas por dormentes de ferro ou plástico reciclado, colocados meticulosamente não apenas como vias, mas como garantias de estabilidade e segurança. Cada curva e cada reta tinham razões fundamentadas com execução de solidez para quando o veículo circulasse.

As estações de partida e chegada não eram apenas pontos de partida, mas verdadeiros centros de abastecimento para o maquinário e os condutores dos mesmos.

A coordenação administrativa e econômica do comboio delineava uma rede interligada sustentada pela visão de um sistema ferroviário eficiente.

Após sua instalação, a viagem de trem tornou-se uma aventura de confôrto e paisagens com desafios inerentes ao atravessar pontes e climas diversos. Estações transformadas em museus narram essa evolução, sendo testemunha de um passado que se tornou imortal.

A estação da Paulista, tendo se transformado em estação de cultura, lazer e esportes, onde hoje caminho exercitando os músculos, ainda na adolescência, quando estudava em São Paulo, às vezes, corria logo de manhã para não perder o trem. Era a Maria Fumaça a máquina que puxava os vagões. Aquela montanha de ferro inspirava força.

Logo, estacionada na plataforma da estação, aquela “pata-choca” incubava os ovos da viagem à frente dos vagões já atrelados ao comboio.

A “pata-choca”, com o aquecimento da água pela caldeira, chiava cada vez mais forte, pois necessário era atingir a pressão de vapor ideal para a locomoção.

Enquanto na plataforma da estação se movimentavam os viajantes, o xiiiiiiiiiiii….penetrava nos tímpanos dos ouvidos, pondo em expectativa sua partida estrada afora. Aguardava-se os três trinados do apito do chefe de trem postado no final do comboio e boa viagem. Nos dias de hoje, naquele local estando, surge a ideia da memorização das aventuras daquele tempo. Com esse desejo, nos transpomos para o que eu denominei de “viagem na maionese”, fazendo a mesma viagem mentalmente, pois, neste caso, a faríamos em via, sem trilhos e sem estações, viajando nos trilhos da imaginação nostálgica, onde as sensações fazem acelerar nossos corações após voltarmos ao ponto de partida, sem sentir o cansaço da realidade. É um espetáculo sem preço!

Durante o percurso da “viagem na maionese”, algumas analogias surgem em nossa mente. Uma delas, diante das dificuldades do dia a dia, com a vida política brasileira sem horizontes claros, onde o governo saiu dos trilhos e está descarrilhando, apela-se para o bom senso para não se admitir o pior.

A recolocação do governo nos trilhos em que foi pensado é uma necessidade para que o progresso seja transportado com sabedoria, intermitentemente, sustentando o proposto na carta magna da Constituição, não dando chance a uma “viagem na maionese” em que a estação de chegada tenha desaparecido e não se possa mais, uma vez, ouvir as badaladas do sino da Maria Fumaça que nos punham alegres e felizes na chegada do comboio. Belém...Belém...

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