ARTIGO

Palavras, apenas, palavras 3

Por Rubens Vitti | 15/01/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Há alguns anos eu escrevi dois textos neste espaço sobre uso diário e abusivo de diversas palavras que estavam “na moda” -- e muitas parecem que seguem por aí sendo usadas loucamente.

Das listadas estavam “visceral”, “empoderamento”, “gratidão”, além de termos do estrangeirismo como “save the date” e “top”.

Eu sei que minha implicância é em vão, já que palavras vão e vêm e vão e são como o tempo, assim como as ondas do mar.

Metáforas cafonas à parte, as pessoas são livres para usar palavras como quiserem e os modismos são involuntariamente passageiros, mas podem causar irritabilidade durante sua vida útil (ou inútil).

Então, vamos a minha nova lista de palavras e expressões que têm sido usadas aos montes na atualidade, principalmente na internet, e, claro, me irritam muito.

“Entrega” (palavra destinada a elogiar quando alguém fez um bom trabalho: “fulano entregou tudo nesse show… ela entrega muito no look”).

Não que tenha algo fora de sentido em usar esse termo, mas se antes o uso era feito para celebrar algo extremamente de bom gosto, hoje já exageram e qualquer atitude medíocre alguém diz: “entregou tudo”.

Expressão que será datadíssima segundo previsões da minha cabeça.

“Clica, arrasta, aperta” (e demais verbos imperativos usados de forma errônea).

Aqui não é só uma mera implicanciazinha e nem querendo ser o professor Pasquale, afinal eu erro muito e tá tudo bem. Mas o erro, aqui, acabou virando vício.

O modo imperativo parece ter sido apagado das tabelas de conjugação verbal na cabecinha dos internautas.

Para lembrar, o verbo no imperativo é usado em frases de ordem, sugestão ou conselhos. É o autor da frase pedindo para que o leitor faça uma ação.

Mas ao invés de frases como “clique aqui para ler” ou “arraste para cima”, por exemplo, usa-se o verbo na terceira pessoa: “clica para ler” e “arrasta para cima”. Feio demais!

“Logo menos” (expressão erroneamente usada para substituir o “logo mais”).

Essa até eu uso. “Aprendi” no passado que logo mais seria errado, porque se a ideia é dizer que será em um tempo curto, então eu deveria usar “logo menos”.

Blééééé! Está errado! Mas isso ficou na minha cabeça e tem sido difícil mudar. A ideia de “logo mais” é “daqui a mais algum tempo”, ou seja, vai demorar ainda um pouco para a ação acontecer. Não faz sentido que a ação demore “menos um tempo”.

“Hablar” (tradução de “falar” em espanhol).

Essa eu acho até divertida. Alguém começou a usar “hablar” ao invés de “falar” para dizer que vai soltar o verbo. É bonitinha e talz, mas já enjoou. Fica engraçado na fala de sub celebridades dos reality shows durante brigas homéricas com os participantes que vemos na telinha. Mas aquele amiguinho que repete que “vai ‘hablar’ muito” mil vezes em uma conversa é chato demais.

“Estou pronto” (dos mesmos criadores do “já estou com a roupa de ir”).

A Beyoncé anunciou shows no Brasil? “Estou pronto!”. Um novo filme de uma diva pop vai estrear no cinema? “Estou pronta!”. Chato demais essa frase e que também está sendo usada em 90% das conversas com certo exagero. Está pronto o que, meu filho!

“Tudo” (redução do “Que Tudo” que um dia foi “Ai Que Tudo”. Serve para expressar contentamento com algo dito pelo interlocutor).

Quando uma expressão que já está extremamente cansativa em uso é reduzida, ela fica ainda mais irritante e denota preguiça do interlocutor ao expressar contentamento por algo dito.

“Passei no vestibular”. A pessoa responde com: “Tudo!”. Sério que isso é o máximo de reação que você terá? Soa meio falso e arrogante até.

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