ARTIGO

Revelações

Por André Salum | 15/01/2024 | Tempo de leitura: 3 min

Em relação ao aprimoramento espiritual, não são apenas os textos considerados sagrados, das mais diversas religiões, que nos trazem revelações importantes. Por paradoxal que possa parecer, as situações mais comuns do cotidiano também podem conter úteis ensinamentos, desde que os reconheçamos.

Quem possui sincero propósito de se aperfeiçoar, com princípios e valores elevados a lhe orientarem a existência, procura reconhecer qualquer revelação acerca de si mesmo para, a partir do que seja percebido, promover as necessárias transformações, o que se revela natural e automaticamente nas ações externas.

Nesse sentido, refletindo sobre um ditado popular, pode-se concluir que a ocasião não faz o ladrão, como se costuma dizer, mas, segundo uma releitura desse dito, a ocasião simplesmente revela o ladrão, pois quem não tem uma índole criminosa, em nenhuma situação deseja se apropriar daquilo que não lhe pertence. Por outro lado, a pessoa imbuída de más intenções apenas aguarda o momento mais favorável para pôr em prática seu intento e somente não o fará se as condições não se mostrarem propícias ou se os riscos forem grandes demais.

Nas experiências da vida, muitas circunstâncias, como espelhos, simplesmente nos revelam, nem tanto aos outros, mas principalmente a nós mesmos. Desse modo, nossa reação nas situações do trânsito mostram nosso nível de educação e de civilidade; as provocações que sofremos demonstram, dependendo da resposta que damos, nosso equilíbrio e autocontrole; as ofensas a nós dirigidas, conforme nossa atitude, indicam nossa capacidade de perdoar; nossa postura diante de prejuízos materiais sinaliza o grau de nosso desapego; a iminência de nossa morte, ou a de alguém que nos seja próximo, evidencia, de acordo com nossa atitude, o quanto já conquistamos de paz interior; os reveses e desafios que todos enfrentamos, a depender de nossa postura diante deles, exibem o tamanho de nossa fé; os trabalhos que esperam por nossa contribuição, conforme os aceitamos e realizamos, manifestam nossa prontidão e boa vontade; os problemas de longo curso, dependendo de como os enfrentamos, desvelam nosso grau de paciência e de perseverança; os corpos desnudos e as bocas famintas que venhamos a reconhecer, segundo o que lhes fizermos, revelam a verdade sobre nós, em termos de amor e compaixão.

Toda e qualquer circunstância que afeta, de um modo ou de outro, nossa vida, diz respeito a nós mesmos, ainda quando produzida por outra pessoa. Como as leis que regem a vida são perfeitas e precisas, só nos acontece o que atraímos, por ações ou intenções, presentes ou passadas, ou aquilo de que necessitamos para nossa purificação, experiência e crescimento consciencial.

A partir de quando se busca compreender o sentido e o propósito da existência, procurando conhecer-se a si mesmo, passa-se a reconhecer pessoas, fatos e circunstâncias como portadores de mensagens reveladoras, as quais, desde que corretamente compreendidas, podem se tornar impulsos transformadores. Essa atitude, quando sincera e lúcida, muda a perspectiva sob a qual se consideram os acontecimentos da vida, abandonando-se a condição de suposta vítima e passando-se a assumir plena responsabilidade pelo próprio destino. Esse é, ao lado de tantos outros, um indicativo do quanto alguém se encontra em um caminho verdadeiramente espiritual, ou seja, de despertar da consciência, a partir de quando se passa a reconhecer e a cumprir a parcela que lhe cabe na promoção de um mundo melhor.

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