PERSONA

‘Busco ser melhor a cada dia e inspirar mais pessoas a praticar o esporte’

Por Erivan Monteiro | erivan.monteiro@jpjornal.com.br
| Tempo de leitura: 8 min
Will Baldine/JP

A ginasta piracicabana Nicole Pircio Nunes Duarte, de 21 anos, sonha alto: quer ser medalhista olímpica em Paris, na França, neste ano – o maior torneio esportivo da terra será realizado de 26 de julho a 11 de agosto -, para entrar de vez para o rol dos grandes atletas brasileiros da história.

Talento para isso, ela tem! Filha do caldeireiro Valdecir Franco Duarte e da instrutura de autoescola Simone Pircio Nunes Duarte; e irmã de Ingrid Pircio Nunes Duarte, 25, esse talento do esporte nacional descobriu a ginástica rítmica de forma precoce, ainda aos 5 anos. Foi amor à primeira vista!

Após passar pela academia Pira Olímpica, na Vila Rezende, onde treinou ginástica artística, Nicole começou a treinar pelo PDB (Programa Desporto de Base), da Prefeitura de Piracicaba, levada pelos pais, que sempre foram seus grandes incentivadores. Mas, a menina queria mais e, sempre atenta às oportunidades, passou em um teste para atuar na Unipar, tradicional clube da cidade de Londrina/ PR, em 2016.

No ano seguinte, um dos momentos mais importantes: participou de uma seletiva para atuar na Seleção Brasileira. E também passou. Depois disso, a história foi escrita com incontáveis conquistas com o time canarinho.

Agora, ela está diante de seu maior desafio: vai para a sua segunda olimpíada e quer marcar sua carreira entre as melhores do planeta ao lado de suas colegas de time.

“Estamos todas no mesmo querer, com muita fé e vontade de realizar nosso objetivo. E sabemos que temos chances reais de estar no pódio”, conta, citando os selecionados de Israel, China, Itália e Espanha como os maiores rivais do time brasileiro em busca das medalhas.

E o que mais gosta de fazer durante às apresentações? Resposta: a série de arco. “É uma série que atrai o público e ainda tem um pouco do ritmo brasileiro nela”, relata.

Fora do dia a dia dos treinos, a piracicabana não esquece de suas raízes e, sempre que pode, dá um “pulinho” na Noiva da Colina para rever aqueles que mais a incentiva na carreira esportiva.

“Eu amo minha cidade e sempre me sinto muito feliz em voltar para Piracicaba; é sempre muito bom visitar meus familiares e amigos, e também matar a saudade dos meus pais”. Nesta entrevista ao Persona, do Jornal de Piracicaba, ela conta um pouco sobre sua carreira e como está a preparação para os Jogos Olímpicos.

Como foi que você começou sua caminhada na ginástica rítmica? Foi por influência de alguém, indicação médica ou foi por vontade própria? Conheci a ginástica no Colégio Tales (Tales de Mileto, na Vila Rezende), com 5 anos; depois comecei a fazer ginástica artística na Pira olímpica, com 8 anos. E, com 10, comecei a praticar a ginástica rítmica no PDB (Programa Desporto de Base, da Prefeitura). Foi por vontade própria. Sempre assistia na TV e tentava fazer igual em casa. E quando surgiu a oportunidade de fazer uma seletiva para treinar na equipe de Piracicaba, pedi para meus pais me levarem.

Você começou a se destacar muito cedo no esporte. Quando notou que poderia se tornar uma das principais ginastas do Brasil? No final de 2015, teve um festival do Sesc e a técnica Virgínia Nobre (na época estava como treinadora do conjunto juvenil da Unopar que iria representar o Brasil no campeonato sul-americano) veio se apresentar e também dar um curso para as ginastas de Piracicaba. Nesse treino com ela, recebi um convite para fazer uma seletiva para entrar na equipe da Unopar, em Londrina-PR. Em 2016, passei a fazer parte da equipe e participar de competições de níveis mais altos. Ao participar do Campeonato Brasileiro de 2017, fui uma das ginastas convidadas também para fazer uma seletiva para fazer parte da seleção Brasileira. A partir daí só me deu mais certeza de que aquele sonho poderia se realizar.

Com quantos anos você foi pela primeira vez para a Seleção Brasileira e qual foi o sentimento? Com 15 anos. Foi um sonho que sempre acreditei muito, mas que ao mesmo tempo parecia distante. E quando se tornou real, foi um dia muito feliz e emocionante e que valeu a pena todo o esforço e abdicações para chegar ali. Tive muito apoio e esforço da minha família; não foi fácil mudar de cidade e começar a vida toda do zero em Londrina. Mas em nenhum momento eles mediram esforços para me ajudar e me dar a possibilidade de tentar chegar ao meu sonho.

Na sua opinião, qual a importância dos projetos de ginástica pelos quais você passou em Piracicaba, na infância e adolescência, para sua formação como atleta de alto nível e de Seleção Brasileira? Foi de total importância. Foi por meio dele que abriu as portas para eu ser a atleta que sou hoje. Foi por meio desse projeto - PDB (Programa Desporto de Base) - que me deu a possibilidade de se apaixonar pelo esporte e me deu a oportunidade de treinar com a Helena e a Mariana W., que me apresentaram o que era a ginástica rítmica. E graças a isso surgiu oportunidades que mudaram a minha vida.

Cite suas principais conquistas, que foram muitas nessa sua curta carreira. E, dentre todos títulos e medalhas, qual a que você considera a mais importante até agora? Medalhista nos Jogos Pan-Americanos de Lima (Peru), em 2019; Campeã-geral dos Jogos Sul-Americanos Cochabamba (Bolívia), em 2018; Atleta Olímpica dos Jogos de Tóquio (Japão) em 2021; Finalista no Campeonato Mundial 2021; Medalhista na Copa do mundo da Itália 2022; Campeã Pan-Americana no Rio de Janeiro, em 2022; quinto lugar geral no Campeonato Mundial; Medalhista em várias etapas de Copas do Mundo 2023; Campeã Pan-Americano, em Santiago (Chile), em 2023; Classificação para as Olimpíadas no Mundial de 2023; quarto lugar no conjunto de 5 arcos no Campeonato Mundial; Campeã absoluta dos Jogos Pan-Americanos 2023. E uma das mais importantes foi a conquista da vaga olímpica em um campeonato mundial.

As conquistas recentes no Campeonato Mundial e no Pan-Americano surpreenderam ou estava dentro dos planos? Nos lembre de todas as medalhas e as provas em 2023... Em 2022, quando o Brasil se consagrou o quinto melhor conjunto do mundo no Campeonato Mundial; um dos maiores objetivos da nossa treinadora Camila Ferezin. Foram anos de trabalho, dedicação e de muitos profissionais excelentes. Essa meta alcançada foi a comprovação de que estávamos no caminho certo e provou que podíamos ainda mais. Então, nossos planos de 2023 eram fazer mais história. E foi assim nosso ano, um dos melhores anos da ginástica Brasileira. Conquistamos a medalha de Bronze da nossa primeira copa do mundo na Grécia no Geral (a soma das duas coreografias). Fomos campeãs na final de arco no Challenge Cup de Portugal. Fomos campeãs absolutas do Campeonato Pan-Americano no México (3 ouros). Na Copa do mundo da Romênia conquistamos; Bronze no geral, prata na final de arco e ouro na final do Misto. Nos consagramos hexa campeã dos jogos Pan-Americanos. Campeã absolutas em Santiago 2023.

Em Paris, será a sua segunda Olimpíada. Acha que irá mais preparada, já que a primeira que participou foi em meio à pandemia? Com certeza! Além do grande crescimento da nossa equipe, também estamos mais experientes e maduras; prontas para fazer mais história. Estamos todas no mesmo querer, com muita fé e vontade de realizar nosso objetivo. E sabemos que temos chances reais de estar no pódio.

Dentro de todas as provas de conjunto, qual a sua favorita? Amo a série de arco. É uma série que atrai o público e ainda tem um pouco do ritmo brasileiro nela. Eu amo fazer lançamentos com o pé também (risos). Mas a série nova do misto também vai surpreender muito, está incrível!

Na Olimpíada, quais os países que devem dar mais trabalho para o Brasil na busca pelo possível pódio inédito? Israel, China, Itália e Espanha.

Queria que falasse um pouco sobre a estrutura de treinos na Seleção Brasileira, em Aracaju, e sua rotina por lá... Temos uma ótima estrutura e um grande suporte da CBG (Confederação Brasileira de Ginástica), do Ministério do Esporte, do patrocinador máster Loterias Caixa e de todos nossos apoiadores. Treinamos 8 horas por dia, quatro vezes na semana; e 4 horas às quartas e sábados. Além do treinamento técnico, fazemos treinamento físico, fisioterapia, massoterapia, acompanhamento com nutricionista, psicóloga, médicos e ginecologista. E também temos o apoio da Faculdade Estácio, e hoje estou cursando Educação física.

Você, pelos últimos resultados, é hoje uma das principais atletas da ginástica rítmica do Brasil. Como lida com essa responsabilidade? É uma grande responsabilidade, mas também é algo que eu amo e dedico toda minha vida em para esse esporte, sempre com muita disciplina, persistência, foco e fé e busco ser melhor a cada dia e inspirar mais pessoas a praticar o esporte!

Para terminar: qual sua relação com sua cidade-natal hoje? Vem sempre a Piracicaba rever familiares e amigos? Eu amo minha cidade e sempre me sinto muito feliz em voltar para Piracicaba; é sempre muito bom visitar meus familiares e amigos, e também matar a saudade dos meus pais.

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