ARTIGO

Nascer de novo

Por André Salum |
| Tempo de leitura: 3 min

O Natal, celebrado há pouco, remeteu-nos ao nascimento de Jesus e seu significado, não apenas para o mundo cristão, mas para toda a humanidade. A vinda pessoal do Mestre ao mundo, além de ensinamentos e exemplos excepcionais, trouxe a possibilidade de a semente crística nascer e crescer em cada um de nós, modificando para melhor todos os setores de nossa vida, tanto individual quanto coletiva. O nascimento de Jesus transcendeu aspectos religiosos convencionais, revestindo-se de significado global, impulsionando a humanidade a novos padrões de conduta. Parece-nos especialmente importante a afirmação do Cristo acerca da nossa natureza divina, ensejando que morrêssemos para o homem velho – como sucedeu com Paulo de Tarso e outros discípulos – e nascêssemos para uma nova vida, mais plena e abundante.

Com o ano que se aproxima, novamente somos convidados a encerrar um ciclo e começar outro, iniciando nova fase de nossa jornada terrena, o que, de fato, pode ocorrer a qualquer momento, desde que o queiramos, pois sempre podemos recomeçar e reescrever capítulos de nossa história, nas páginas da vida que sempre se renovam.

O ano novo nos remete a esse símbolo universal de morte e renascimento, de fim e recomeço, ambos fazendo parte da vida. Tudo na Natureza obedece a leis e ciclos, e morrer é nascer sob forma renovada. A noite morre para o nascimento do dia, a semente morre para que surja a planta, a infância morre para que apareça o adulto. O ano porvindouro, porém, somente será novo na medida em que renovarmos nosso modo de ser e nossas atitudes, e certamente muita coisa precisa morrer em nós – ódios, mágoas, ressentimentos, temores, ansiedades, inseguranças, vícios – a fim de que haja espaço interior para o surgimento de uma vida nova.

Os próximos doze meses somente terão um significado especial a quem lhes der esse sentido, por suas atitudes e ações ao longo do ano. Não é o tempo externo, cronológico, que é determinante, mas sobretudo o estado de consciência com o qual o vivenciamos. Por isso, a abertura a uma vida nova torna-se fundamental, para que nos tornemos receptivos aos impulsos renovadores sempre presentes, especialmente na época atual.

Renascer com o próximo ano pode ser, dentre tantas possibilidades, expressar-se de modo diferente, sentir a vida e compartilhá-la a partir de uma nova, mais ampla e profunda percepção da realidade, a qual torna-se capaz de renovar tudo, mudando a óptica sob a qual se considera e aprecia a vida e as relações entre os seres. Esse renascimento, que pode se dar de muitas formas, enriquece, encanta e embeleza a vida.

Sabe-se que estamos, como humanidade, em período de grandes transformações em todos os âmbitos e áreas da vida planetária. Tal processo assemelha-se, de certo modo, à morte dos padrões predominantes até hoje, para o nascimento de uma forma de viver mais harmônica com leis evolutivas. Estamos em plena crise de mudança, durante a qual velhos e disfuncionais padrões, sejam psicológicos, sociais, políticos ou religiosos, tornaram-se incapazes de preencher as necessidades humanas. Aqueles que reconhecem a transição pela qual passa o planeta e todos os seres que aqui vivem sentem a necessidade de se despojarem de tudo o que não mais serve aos propósitos evolutivos da nova fase que se inicia. É uma espécie de morte daquilo que precisa ser abandonado, abrindo possibilidades a uma nova forma de viver e de conviver, mais fraterna e saudável, pacífica e feliz.

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