ARTIGO

‘Da Colina Kokuriko’ ao ‘kata-kakareko’

Por José Osmir Bertazzoni |
| Tempo de leitura: 3 min

Nas barrancas do Piracicaba enfrentamos uma degradação sem precedentes. Lembro-me da juventude, quando nossas praças brilhavam como cristais, e nossos espaços públicos eram cuidados por aqueles que se dedicavam verdadeiramente a fazê-lo. Naquela época, apesar das divergências, as diferenças eram ouvidas de maneira proativa, transformando-se em bem-estar.

Jornalistas brilhantes como Dr. Losso Netto, Cecílio Elias, Sebastião Ferraz, Antônio Messias Galdino, Evaldo Vicente e Maurício Cardoso retrataram o universo piracicabano de maneira única. Suas linotipos e impressoras rotoplanas ficavam vermelhas devido aos inúmeros comentários, críticas e observações. No entanto, isso ocorria dentro dos limites do respeito e da ética, com o objetivo de dar voz aos cidadãos, apontar erros e apresentar soluções.

Atualmente, a cidade sugere, de maneira mórbida, que uma certa anestesia tenha sido aplicada na 'vox Populi' e na 'vox Dei'. Nossos gestores e legisladores parecem ter mudado a concepção de que, mesmo sendo imperfeitos, podemos sempre melhorar. Quais são as demandas de Piracicaba que estão sendo atendidas para promoverem melhorias urbanas e condições de vida dignas em todos os aspectos?

Na área de zeladoria, estamos abandonados; na saúde pública, vivemos tragédias consecutivas; a segurança pública é notoriamente insuficiente; o saneamento básico tornou-se motivo de piada; e, apesar dos esforços do Tribunal de Contas em apontar deficiências, paira uma nuvem nebulosa sobre a educação na Colina.

Na arena política, o mar está propício para os pescadores, que não se preocupam em içar as redes, deixando que decisões polêmicas envolvam a cidade, sem alcançar, na maioria das vezes, uma função social efetiva.

É lamentável que, em nome da 'Nova Política', as velhas raposas continuem perseguindo as ovelhas, enquanto alguns poucos pastores preferem aliar-se ao ódio em detrimento do amor de Cristo. Fazendo eco à sabedoria latina: 'Si hortum in bibliotheca habes deerit nihil' (se tens um jardim e uma biblioteca, nada lhe faltará), observamos que a biblioteca e a pinacoteca foram atacadas – uma ação silenciada por conveniência, mas até quando isso perdurará? Quanto aos jardins, nossas árvores frondosas estão sendo arrancadas impiedosamente, cedendo lugar a estacionamentos e asfalto, servindo, sem dúvida, aos interesses de poucos.

Não vislumbro um futuro promissor para nossa cidade. Aqueles que jogam lixo o fazem por se identificarem com a sujeira, enquanto os que destroem os patrimônios históricos e naturais o fazem por adorarem o lixo, especialmente aquele que a história lhes reservará.

Ao nosso estimado prefeito, fiz a pergunta: qual obra deixará como marca de sua gestão em nossa cidade? Ele me disse: investimento na educação para ser percebido daqui a trinta anos, estou disponibilizando laptops e uniformes para as crianças na rede municipal.

Nesse contexto, sugiro assistir com atenção ao filme japonês de animação de 2011, 'Da Colina Kokuriko', produzido por Goro Miyazaki, com roteiro de Hayao Miyazaki e Keiko Niwa. A trama, situada em 1963 – teria ocorrido em Yokohama em reconstrução pós-guerra, Japão – segue a história de Umi Matsuzaki, uma estudante do ensino médio que, ao encontrar Shun Kazama, decide revitalizar um local. Enquanto enfrentam a ameaça de demolição pelo diretor Tokumaru, questionam: como podemos educar os jovens sem proteger nossa cultura? Darei continuidade à pergunta aos nossos agentes políticos: como educar sem preservar o patrimônio histórico, cultural e ambiental de nossa cidade para as próximas gerações, para os nossos jovens?

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