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ARTIGO
O dia em que a terra parou – II
Por Edson Rontani Júnior | 18/12/2023 | Tempo de leitura: 4 min
Às 15 horas de 17 de janeiro de 1968, data da partida decisiva, o alvinegro ruma ao Pacaembu novamente em ônibus cedido pela prefeitura. A partida ocorreu à noite permeada por pancadas de chuva que castigaram a torcida.
Em sua edição desta data, um jornal da cidade relata que uma “caravana monstro” foi organizada para levar a torcida alvinegra para São Paulo. Desde o dia anterior já não era possível encontrar um ônibus disponível para ser fretado. Muitos foram de carro, trem ou táxi. Segundo Waldemar Romano, cirurgião-dentista e vereador na época, a Câmara Municipal fretou três carros para levar vereadores na disputa. “O Legislativo se via na obrigação de acompanhar os passos do time, e como não tinha veículos, contratou-se motoristas para levar alguns vereadores”, diz. Ele comenta que isso não pode ser considerado regalia, pois na época a função de vereador nem era remunerada.
Há notícias de que torcidas de cidades vizinhas também incentivaram o time piracicabano, destacando-se as cidades de Santa Bárbara D’Oeste, Americana, Rio Claro, Limeira e Rio das Pedras. O fato congestionou ruas e avenidas da capital, provocando a falta de vagas no estacionamento para os ônibus nas proximidades do estádio.
A bola começou a rolar em campo, e a torcida ainda estava na fila no portão do Pacaembu. Alguns sequer viram o primeiro gol alvinegro marcado aos dois minutos iniciais. Foi motivo para que, os que estavam fora, iniciassem uma correria para o interior do estádio, pulando catracas a fim de não perder nenhum minuto da disputa. O fato não atrapalhou o juiz Armando Marques e seus assistentes Wilson Medeiros e Eraldo Gongora.
A partida foi acirrada definindo-se no primeiro tempo quando o alvinegro marcou os seus quatro gols feitos por Amauri (aos 2’), Joaquinzinho (13’), Piau (25’) e Amauri (38’). Luizão fez o primeiro para o adversário ainda no primeiro tempo. O Bragantino marcou mais dois no segundo tempo, provocando pavor na torcida. Resultado : XV de Piracicaba 4 Bragantino 3.
Após a partida, mesmo molhada, a torcida caiu na folia em pleno Pacaembu, com música a noite toda. Nos vestiários, jogadores tomavam banho com champanhe.
Autoridades locais estudavam a recepção dos atletas-heróis para o dia 19 no período noturno. Todos circulariam em carro do Corpo de Bombeiros concentrando-se na avenida Independência próximo à atual sede do DER, percorrendo a avenida Armando de Salles Oliveira, a avenida Rui Barbosa, avenida Barão de Serra Negra, rua do Rosário, avenida Doutor Paulo de Moraes, rua Governador Pedro de Toledo, rua São José, finalizando em frente à catedral de Santo Antônio.
A cidade não funcionou normalmente no dia 19 de janeiro. Por volta das 15 horas, a praça José Bonifácio começa a receber os torcedores. A cidade vivia um clima de feriado e carnaval nesta data. Consta que a TV Tupi acompanhou a viagem do alvinegro de São Paulo a Piracicaba filmando manifestações de cidades vizinhas que esperaram à beira das rodovias para acenar aos campeões. A própria emissora, mais a TV Bandeirantes, cobriram as festividades levando o nome do alvinegro para todo o país.
A população comemorava com flâmulas, faixas, serpentina, confete, rojões … Era o carnaval – que cairia naquele ano em 5 de fevereiro – sendo antecipado. A Banda União Operária abriu as festividades tocando no palanque pontualmente às 18 horas. A comitiva chega por volta das 21 horas. Às 22h10m começa chover motivando encurtar o percurso. Decide-se que a equipe não daria a volta por toda a Praça José Bonifácio entre a população.
Todos os campeões saem do ônibus. Gritaria incontrolável. Rojões. Dos prédios vizinhos, moradores soltam água através de bisnagas e com serpentinas criam um clima festivo. É estendida nela uma faixa com mais de 24 metros quadrados com a inscrição “XV”. No palanque, prefeito Luciano Guidotti saúda os jogadores alvinegros, seguido pelo presidente do time comendador Humberto D’Abronzo, Lodovico Trevizan (Corregedoria) e Francisco Antonio Coelho (Presidente da Câmara Municipal). Outros pronunciaram-se até que os populares decidem subir no palanque criando um clima desconcertante para a equipe que é agarrada pelos mais afoitos, deixando alguns jogadores apenas de calça, levando como souvernirs suas camisetas, meias e calçados. Relatos da época dizem que cerca de mil pessoas sobem desordenadamente ao palanque, ocasionando sua queda e fazendo vários feridos. Como a aglomeração era intensa, a força policial encontrou resistência para prestar auxílio aos machucados. Mas, imperou o bom senso e as festividades seguiram por toda a madrugada sem qualquer outra ocorrência. O incidente adiou a entrega de medalhas, desenhadas por Archimedes Dutra, a ser feita pelo prefeito Luciano Guidotti.
Outras manifestações foram realizadas nas semanas seguintes. Foram feitas homenagens nos clubes recreativos locais com membros da diretoria e jogadores recepcionados junto ao Rei Momo oficial vivido pelo radialista Antonio José. Santa Bárbara D’Oeste, Saltinho e o Rotary Club, dentre outros municípios e entidades, realizaram sessões para recepcionar o time.
E, assim, a terra parou ...
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Tony Jose
18/12/2023