ARTIGO

O dia em que a terra parou

Por Edson Rontani Júnior | 12/12/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Existe uma história, a qual não é desmentida por ninguém, de que a nossa “terrinha” parou por um dia. Outros dizem que isso é mentira. Pois era parou por vários dias… Este fato completa em janeiro seus 56 anos. Foi quando os piracicabanos aguardavam a decisão do Torneio Acesso ao Futebol Profissional de 1967. A cidade acompanhou na expectativa as três partidas da semifinal decisória. Parou também para comemorar a vitória do E. C. XV de Novembro e para receber como heróis os jogadores do alvinegro local. Toda essa festividade ocorreu em janeiro de 1968.

Foi exatamente na noite de 17 de janeiro de 1968 que o XV venceu o Bragantino, em pleno Pacaembu, na capital paulista, sagrando-se Campeão do Acesso (atual Série A-2), retornando, assim, à elite do futebol paulista onde ficou de 1948 a 1965.

Testemunhos da época relatam que, no início de 1968, a cidade torceu para o alvinegro como se fosse a Seleção Brasileira de Futebol disputando uma final do mundial. Até o carnaval começou cedo. As festividades prosseguiram por semanas pois foi um orgulho o retorno do time às partidas junto aos grandes, como São Paulo, Palmeiras, Santos, Corinthians e outros, sem levar em conta a projeção que a cidade conseguiu em todo o país. A cidade estava em efusão constante devido à ousadia do prefeito Luciano Guidotti que instalava obras grandiosas para tudo que era canto. Foi o ano de crescimento da cidade.

Especialistas acreditam que a euforia de janeiro de 1968 só foi sentida em 1947 quando o time subiu para a divisão principal decretando ser equipe profissional, e, em 1976, quando foi o segundo colocado no Campeonato Paulista.

O professor Rubens Braga, ex-dirigente do basquete e do futebol do XV, lembrava que a conquista de 1967 serviu para ratificar na cidade o esporte como profissão de sucesso. “Os anos 60 serviram para as grandes contratações do alvinegro e, com este retorno à Divisão Especial, houve a necessidade de contratar jogadores de grandes times”, diz. A equipe contratada pelo presidente Humberto D’Abronzo, industrial proprietário da Caninha Tatuzinho, é considerada uma das melhores em toda sua história. Braga durante uma conversa que tive foi mais enfático e disse que as comemorações pelo título não duraram apenas algumas semanas. “A comemoração foi o ano todo, pois até dezembro, quando se decidiria o próximo campeão, o título era de Piracicaba”.

Era uma época diferente, período em que o futebol era transmitido apenas pelas emissoras de rádio, gerava rodinhas nos bares, era motivo de festa até para a alta sociedade e celebrado até por aqueles que não possuíam qualquer simpatia pela bola.

Comércio, indústria, escolas … Tudo parou nos dias 11 e 17 de janeiro, quando o alvinegro foi a São Paulo jogar, respectivamente contra o Paulista F.C., de Jundiaí, e o C. A. Bragantino, de Bragança Paulista. A cidade acompanhava as partidas pelas emissoras de rádio, sendo que três delas transmitiam pela freqüência A.M.

Nestas duas disputas, os jogadores viajaram em ônibus da Prefeitura Municipal cedido pelo prefeito Luciano Guidotti (que faleceria no dia 7 de julho do mesmo ano), um amante do esporte e assíduo incentivador do time. Guidotti tinha paixão imensurável pelo time, utilizando seus jogadores como garotos-propaganda para espalhar a imagem da cidade. Ele chegou a presidir o XV por vários anos.

Em ambas as partidas, o Executivo Municipal pediu atenção especial à segurança no Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho (o Pacaembu), sendo que foram disponibilizados cerca de 200 soldados da Força Pública e Guardas Rodoviários.

No dia 11 de janeiro de 1968, o alvinegro partiu a tarde para São Paulo. Venceu o Paulista por 2 a 0 (Piau aos 19’ do primeiro tempo e Amauri aos 45’ do segundo), garantindo vaga para a final que ocorreria seis dias depois. No dia 14, o Bragantino vence o Paulista por 1 a 0 definindo sua vaga na final diante do XV.

A partir de então, a euforia tomou conta de Piracicaba. A vitória era previamente comemorada pois o time havia feito uma excelente campanha no Paulista de 1967. Para chegar à fase decisiva, o alvinegro esteve junto a outros 29 times divididos em duas séries. Na primeira fase foi campeão do grupo B, tendo como vice o Paulista. A campanha foi positiva pois foram 30 jogos, sendo 22 vitórias, seis empates e duas derrotas. Foram feitos 68 gols e a defesa deixou passar 15 gols dos adversários.

Contavam-se os minutos para a disputa final. Os comandados do técnico Renganeschi eram a esperança da terra. Motivaram, inclusive, os vereadores a realizar uma sessão extraordinária, no dia 12, para votar a cessão de NCR$ 150 mil ao E.C. XV de Novembro, valor que seria utilizado para premiar os jogadores caso ocorresse a vitória. Foi aprovado por unanimidade pelos 15 presentes do legislativo municipal que participaram da sessão. Um dia antes, o time participa de uma missa de ação de graças celebrada pelo então padre Jorge Simão Miguel na Matriz Imaculada Conceição.

--------------

Os artigos publicados no Jornal de Piracicaba não refletem, necessariamente, a opinião do veículo. Os textos são de responsabilidade de seus respectivos autores.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do SAMPI

COMENTÁRIOS

A responsabilidade pelos comentários é exclusiva dos respectivos autores. Por isso, os leitores e usuários desse canal encontram-se sujeitos às condições de uso do portal de internet do Portal SAMPI e se comprometem a respeitar o código de Conduta On-line do SAMPI.