ARTIGO

Massacres e violência nas escolas brasileiras

Por Erica Gorga |
| Tempo de leitura: 3 min

Na segunda-feira, 23 de outubro, contabilizou-se o nono massacre em escolas brasileiras neste ano, desta vez na Escola Estadual Sapopemba na zona leste de São Paulo, onde um adolescente cometeu ataques a tiros, deixando três estudantes feridos e uma aluna morta.

Segundo estudo do Instituto Sou da Paz, o Brasil presenciou uma escalada no número desses trágicos acontecimentos em 2022, que somou 6 casos, e em 2023, que até outubro acumula nove casos de massacres em escolas. O ano de 2023 registra ao menos o triplo do número de casos ocorridos em cada um dos anos da década anterior. De acordo com a série histórica, em 2002 e 2003 houve um caso em cada ano; em 2011, dois casos; em 2012, 2017 e 2018, um caso em cada ano; em 2019, três casos e em 2021, dois casos.

Primeiramente, deve-se apontar que não se trata de fenômeno exclusivo brasileiro, mas que foi importado dos Estados Unidos, país que presenciou o brutal “massacre de Columbine”, na escola e cidade de mesmo nome, em 1999, que findou com 13 mortes e suicídio dos dois estudantes autores do crime. A partir de então, infelizmente, ataques a escolas tornaram-se recorrentes no contexto educacional mundial, a exemplo das ocorrências brasileiras relatadas acima.

Tendo em vista os dados nacionais, algumas reflexões são relevantes. Em geral os crimes são cometidos por adolescentes ou adultos do sexo masculino, que se caracterizam por serem alunos ou ex-alunos das escolas alvo.

Busca-se justificar a ocorrência desses massacres em razão de “bullying” sofrido na rotina escolar, do sentimento de isolamento e exclusão social, e do apelo à violência dos dias de hoje. No entanto, são necessários mais estudos aprofundados para se poder determinar a motivação, dada a gama de fatores que pode influenciar o comportamento criminoso, tais como problemas psiquiátricos e fatores familiares, sociais e influência da mídia e das redes sociais, que involuntariamente promovem a fama e a notoriedade dos autores dos crimes, ao expô-los com maciça audiência de modo a gerar inspiração para o planejamento de novos ataques.

Não se pode concluir que existe correlação clara com política armamentista. Isto porque, se analisarmos os nove ataques nas escolas em 2023, em sete casos foram utilizadas armas brancas, como facas e machadinhas, instrumentos de uso constante em todas as casas brasileiras. Em apenas dois episódios foram usadas armas de fogo, incluindo-se o caso recente da escola Sapopemba.

Alguns veículos da imprensa brasileira inverteram os papéis em suas manchetes jornalísticas, apresentando o assassino como a “vítima” do suposto “bullying” escolar. Porém, cabe aqui uma crítica no sentido de não se esquecer jamais que a real vítima do ataque foi a estudante de 17 anos, banalmente assassinada, sem qualquer razão que pudesse remotamente amparar a morte lhe foi imposta.

A ideologia do vitimismo, que tenta justificar assassinatos brutais contra inocentes em razão de motivos fúteis, só incentiva novas formas de agressões por parte daqueles que se sintam vítimas, especialmente no caso de jovens. Precisamos condenar com veemência ideologias que pregam o vitimismo e “passam a mão” na cabeça dos agressores.

O aumento da violência no ambiente escolar, e inclusive dos casos de bullying, ocorre ao mesmo tempo em que as escolas passam por crise de escopo principal. A aquisição de conhecimento deixa de ser o objetivo à medida que ideologias identitárias acirram e promovem a sectarização de alunos, segundo grupos de raças, gênero ou sexualidade. Neste contexto, o professor passa a ser um administrador de conflitos em sala de aula, ao invés de focar no seu papel principal como transmissor de conhecimento.

É preciso resgatar a função da escola como ambiente de aquisição de conhecimento e enriquecimento do caráter e das virtudes que promovem a verdadeira formação dos alunos.

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