ARTIGO

Vazio Criativo

Por Rubinho Vitti |
| Tempo de leitura: 3 min

As redes sociais são verdadeiros universos digitais que habitamos todos os dias. E, a cada nova tendência, todos somos afetados, mesmo que virtualmente.

Nos últimos dias, as redes estão repletas de imagens que se assemelham a obras de arte da Disney Pixar.

Você deve ter visto algum perfil que segue caracterizado no mesmo traço icônico do estúdio de animação.

As postagens mostram pôsteres de filmes, álbuns musicais e fotos de locais turísticos, todos modificados por ferramentas de Inteligência Artifical como Microsoft Bing, DALL-E, Midjourney e Stable Difusions.

À primeira vista, as representações encantadoras e fofas parecem encher os olhos. Eu mesmo me deparei, encantado, com o cenário da capital paulista ou de Piracicaba com cores fortes e o ar mágico-disneylândico de locais que sabemos bem que não são bem assim.

Os personagens bochechudos, com olhos grandes e altamente fofos tomou conta do X, o antigo Twitter, e do Instagram,

E como tudo o que a IA faz, foram baldes e baldes de desenhos alagando as redes sociais de uma falsa criatividade.

O novo alvoroço dos últimos dias afetou pessoas comuns, celebridades e até políticos. De Ivete Sangalo a Luciano Huck com Angélica, passando por Ana Maria Braga, Whindersson Nunes e políticos como Maria do Rosário (PT) e o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União Brasil) passaram pelo filtro da inteligência artificial.

O próprio prefeito de Piracicaba caiu na onda, deixando muita gente se sentindo meio “cringe”, para usar uma expressão moderninha.

Mas, enquanto a viralização dessas imagens parece inofensiva e divertida à primeira vista, há algo que não podemos ignorar: a falta de criatividade por trás desse fenômeno.

Muitos podem argumentar que essa é uma forma criativa de explorar as possibilidades da IA, e eles não estão totalmente errados.

A IA é uma ferramenta poderosa que pode ser usada para criar e inovar de maneiras impressionantes. No entanto, o que estamos vendo nesse caso é uma repetição vazia e sem sentido de uma fórmula pronta.

A inteligência artificial faz o trabalho pesado ao transformar rostos em personagens de desenho animado, mas onde está a verdadeira criatividade?

O que vemos nas imagens geradas pela IA é um processo mecânico que segue um padrão preestabelecido, produzindo um resultado uniforme e sem alma. Não há a faísca da originalidade.

“Ah, que chato você, Rubinho”. Pode até ser. Mas já parou para pensar quantas vezes você ficou animado ao ver uma obra de arte de verdade? Criada por um artista de fato, que usou de seu talento, tempo de estudo e trabalho para criar uma obra?

Qual foi a última vez que você entrou em uma galeria de arte ou pelo menos seguiu a conta de um artista de verdade em uma rede social? Ou melhor, quando foi que você pagou para aquele artista da praça fazer um desenho do seu rosto?

Mas pagar para o aplicativo de IA criar seu rostinho no formato da Pixar, muita gente paga sem dó.

A verdadeira criatividade requer tempo, esforço e inspiração. A facilidade com que a IA nos permite criar essas imagens pode ser tentadora, mas também nos deixa mais propensos à preguiça criativa e à repetição cansativa.

A tecnologia, incluindo a IA, deve ser uma ferramenta a serviço da criatividade humana, não um substituto para ela. A verdadeira magia da criatividade reside na mente e no coração das pessoas, e não em algoritmos e processos automatizados.

Enquanto desfrutamos dessas imagens adoráveis na internet, podemos refletir e pensar em quantos artistas reais foram necessários para que o robô pudesse aprender, com o talento humano, como fazer tudo isso.

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