Mais um pouco sobre esse tema que, para minha surpresa, teve e está tendo uma boa repercussão / identificação por uma boa parte dos leitores (rs). Então, vamos lá! Hoje o tema está sob a perspectiva da Bel Cesar que é psicóloga clínica com formação em musicoterapia no Instituto de Orff em Salzburgo, Áustria. Acompanhem:
“O ciúme é um sentimento desconfortável que nos desequilibra e enfraquece. Tomados pelo ciúme, sentimos que somos traídos por nós mesmos: afinal, sentimos que não deveríamos sentir o que estamos sentindo!
O ciúme nos divide internamente. Enquanto um lado de nosso ser clama por atenção ao sentir-se excluído, outro lado nos reprova por esta mesma atitude, pois o ciúme, ameaça destruir a ordem e o equilíbrio emocional de um relacionamento.
Apesar de ser poucas vezes admitido, o ciúme é uma emoção comum, que faz parte do cotidiano de todas as relações humanas. Reconhecer o ciúme e lidar diretamente com ele é uma ação interna saudável, que acelera o processo evolutivo do autoconhecimento. No entanto, ele passa a ser patológico quando nos leva a perder a capacidade de fazermos nossas escolhas.
Por isso, o ciúme não deve ser considerado como um sentimento banal e infantil que ‘com o ternpo passa’, mas, sim, ser visto como uma doença que compromete o bom funcionamento do sistema imunológico emocional de uma pessoa, assim corno a dinâmica de seus relacionamentos. Se o fogo do ciúme não for contido, ele nos queima e traz sérias consequências: alimentados pela desconfiança e pela agressão, geramos ansiedade, raiva, humilhação, vergonha, depressão e até desejo de vingança. O foco de infecção a ser tratado será o da autoestima, pois quando ela está rebaixada nos causa a sensação constante de insegurança e impotência, e, consequentemente, deixamo-nos levar pela imaginação (aliás, sempre voltada para o negativo).
O ciúme surge corno um sinal de alerta que nos anuncia que uma ameaça real ou imaginária está invadindo nosso território afetivo. Nosso instinto de preservação procura eliminar todo e qualquer risco de perda do ser amado ou situações que nos remetam a sentir-nos seguros e protegidos.
No livro ‘A Simetria Oculta do Amor’ de Bert Hellinger, uma interessante explicação sobre a dinâmica do ciúme: ‘a pessoa ciumenta deseja inconscientemente que o(a) parceiro(a) se vá’.
Hellinger é um psicoterapeuta alemão, falecido em setembro de 2019, criador de uma nova abordagem da psicoterapia sistêmica conhecida corno Constelação Familiar, na qual a origem dos conflitos de uma pessoa não é vista por uma ordem psicológica individual, mas sim por urna ordem sistêmica gerada por seu histórico familiar.
Segundo ele, algumas das dinâmicas sistêmicas inconscientes que nos levam a repelir nossos parceiros são:
- Para confirmar urna antiga crença de que não merecemos o amor, por exemplo, ou de que iremos causar infelicidade. Certas pessoas têm medo de serem abandonadas e, inconscientemente, afastam os parceiros: criam o que receiam, como se o abandono fosse preferível à separação voluntária.
- Para ser fiel às crenças e exemplos da família: digamos, agir como agiram os pais quando não conseguiram se aceitar plenamente, quando se separaram ou quando um deles morreu no começo de um relacionamento.
- Para operar uma identificação inconsciente com outra pessoa prejudicada pelo sistema: por exemplo, urna mulher não se casou porque tinha de cuidar dos pais já velhos; sua jovem sobrinha identificou-se inconscientemente com ela e também não se casou.
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