ARTIGO

Telas exibidoras em Piracicaba

Por Edson Rontani Júnior | 23/10/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Falar em cinema nos dias de hoje é evocar a nostalgia daqueles que, nos anos 1980, foram ao Tiffany, Broadway ou Cines Center 1 e 2. É relembrar uma época em que os filmes demoravam para chegar a Piracicaba. Lembrar da bala de menta comprada na bomboniere e ressaltar que a pipoca no cinema surgiu muito tempo depois, não falhando a memória, na segunda metade da década de 80 quando o Grupo Paris Filmes instalou suas lojas exibidoras no Shopping Piracicaba, comandadas pelo CEO Márcio Fracarolli e pelo gerente seu Silvio, figura de extrema educação e finesse.

Samuel Pfromm Neto tem estudo dizendo que os filmes cinematográficos possuem registros de exibição desde 1896. Em outubro deste ano, Klene e H. Mewe apresentaram aos cidadãos o “primeiro cinetógrafo projetando vistas naturais animadas”, em cinco horários seguidos. O ingresso para a novidade – a fotografia em movimento – era de 1 mil réis. E Piracicaba, entre os seus projetos pioneiros – entre eles a iluminação elétrica, a fluoretação da água e outros – fez a exibição dez meses após os Irmãos Lumière realizarem a primeira apresentação pública de cinema que se tem história, em Paris.

O cinema também percorreu pelas mãos de Antônio de Mello Filho que exibiu filmes no térreo do sobrado existente à rua Prudente de Moraes nº 112, com ingresso a 200 réis.

Já em 1901 possuía uma sala exibidora no Restaurante Porta Larga, de José Maria Fernandes, um empreendedor nato, dono de confeitaria, restaurante e uma casa de concertos líricos (ele cobrava ingressos de uma plateia que se reunia para ouvir discos – cada ingresso custava 500 réis). Adquiriu um projetor Lumière, vindo da França, no qual realizava exibições de filmes mudos.

O Teatro Santo Estêvão situado na praça 7 de Setembro (hoje José Bonifácio) foi, além de teatro, uma sala permanente de cinema. Criado em dezembro de 1908, o “Cinematógrafo Cháritas” tenha renda revertida à Santa Casa, dona do projetor de filmes. Na mesma época, em barracão situado na rua Boa Morte, tivemos o “Ideal Cinematógrafo”. Nada como conhecemos hoje. Mutas vezes, a plateia assistia em pé aos filmes, que eram curtos, ou ainda sentados em cadeiras de madeira. Os filmes eram mudos e existem registros de que para entender essa nova narrativa (estávamos acostumados com o teatro e com os livros), havia uma pessoa explicando : “olha ! o ator agora vai chorar porque a namorada lhe deu um sopapo!”. Depois veio a sonorização ao vivo com piano ou orquestra. O som só aparece no início dos anos 1930.

Hoje é comum ir às salas existentes no Shopping Piracicaba, propriedades da Cinematográfica Araújo, e ver nas filas pessoas com travesseiro ou almofadas. Sim ! Isso ocorre pois existe um conforto danado nas salas, com poltronas que reclinam como sofás ergométricos ou ficam estiradas como camas. É uma forma de fazer as pessoas saírem de casa e terem acesso a uma experiência diferente. Talvez até uma forma de atrair as pessoas numa época em que predomina o streaming. O mesmo ocorreu nos anos 1980 com as proliferações das videolocadoras. Para que sair de casa se em meu lar posso assistir ao filme que quero ?

Quando o som não era acoplado ao celuloide, a música ao vivo era executava para dar um ar especial ao que ocorria à tela e também para tirar o marasmo de muxoxos, pigarros, tosses etc etc etc. A Orquestra Piracicabana tocava em filmes e também em apresentações solo nos cinemas Íris e Politeama. Osório Dias de Aguiar e Sousa (1869/1937) foi um de seus máximos expoentes, utilizando também o pseudônimo Orênio Sabaúna. Nos anos 20, ainda jovem, Jayme Rocha de Almeida (1907/1964) era flautista nos cinemas. Depois virou agrônomo e professor da Escola Agrícola.

Erotides de Campos foi outro que animou exibições em cinemas. Foi contratado por Antônio Campos ilustrar as apresentações cinematográficas no seu Polytheama, situado então à rua São José mais ou menos onde está hoje o Poupatempo Estadual. O cinema foi desativado e no seu interior funcionou um rinque de patinação. Os cinemas ocuparam por boas décadas a área central da cidade. O Supermercado Jaú Serve na Governador, já foi Kalunga, Shopping Zilliat, Balas Atlante e nos anos 1920 um cinema.

J. B. Andrade tinha empresa com seu nome a qual administrava os cines Broadway e São José. Um dos seus funcionários, de prenome Max, era um exímio letrista criando cartazes e letreiros. Isso tudo de forma artesanal. Além de acomodações, os cinemas também tiveram pinturas que hoje deixam boquiabertos qualquer um, como o Teatro (depois cinema) São José, cujo interior tem obras de Bruno Barcelli.  Cabe lembrar que as salas de teatro e cinema eram bem rentáveis. Eram diversões que não deixavam as pessoas presas em casa. Anos mais tarde enfrentaram a concorrência do rádio e mais depois da televisão. (I’ll be back)

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