Depois de tantos anos acompanhando a luta de famílias contra os vícios, consegui entender de forma bem clara que não é só de álcool e drogas que o cérebro humano se torna dependente. Mas também de sentimentos, posturas e atitudes que podem nos projetar no outro de forma doentia.
Em muitos atendimentos, ficou clara a visão que um ou mais membros da família têm para tentar justificar determinados desequilíbrios em suas relações. O excesso de amor aparece logo como algo que, no momento, não foi pensado como algo prejudicial.
Mas eu quero te contar uma coisa: não existe excesso de amor! Existe amor dado da maneira errada, ou algo que não é amor. Quando uma mãe ou um pai amam mais seu filho do que a si mesmos, isso vai acabar mal.
Para que seja uma família equilibrada, ela tem que amar o próximo como a si mesma. Os pais devem amar o filho, mas têm que se amar também. Eles devem querer o bem do seu filho, mas tem de querer o seu próprio bem. Eu quero que meu filho se realize, mas também devo me realizar.
A felicidade ou a tristeza dos pais é uma escola emocional para os filhos. A forma com que eles se superam a cada dia ensina os filhos a se superarem também.
Muitas pessoas confundem excesso de amor com algo que não é amor: a superproteção. Superproteção é desamor, falta de amor, uma condenação. Muitos pais acham que aquilo é amar demais, mas não é. É uma destruição, machuca as emoções da criança. Cada pessoa tem sua própria história, e muitas vezes, quando dói, evoluímos. Por isso, não permitir que seu filho passe por situações difíceis, superprotegendo-o, podando uma das maiores habilidades que o ser humano possui: a de pensar, ser livre e superar-se sempre.
Muitos pais superprotetores acabam, em algum momento da vida, encontrando uma verdade incômoda mas muito importante: a superproteção pode ser o enconderijo de suas próprias inseguranças, dos medos de encarar a rejeição ou até uma forma de compensar aquilo que faltou em sua infância ou juventude. Em relatos mais comuns do que se imagina, escuto os filhos expressando sentimentos de inferioridade e sentindo-se subestimados em suas capacidades perante os pais. Isso tudo pode ser curado com verdade, coragem e técnica! Mas, sobretudo, com amor. Por si e pelo outro, num exercício continuo de consciência e interesse pela transformação das relações.
Mudar pode demorar ou ser mais breve, isso depende de muitos fatores individuais e familiares. Mas o mais importante é olhar de frente e com clareza para a necessidade da mudança a favor de uma vida mais feliz e fluida, na qual o amor não pesa (amor nunca pesa), não é demais (amor nunca é demais), nem sufoca o cotidiano (amor não sufoca).
Lembre-se: tudo é perfeito mesmo nas imperfeições. Seu filho também é assim! Você também é assim, todos SOMOS assim. E sendo imperfeitos, aprendemos todos os dias pois somos seres em construção.
--------------
Os artigos publicados no Jornal de Piracicaba não refletem, necessariamente, a opinião do veículo. Os textos são de responsabilidade de seus respectivos autores.