ARTIGO

2 de outubro

Por Edson Rontani Júnior | 02/10/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Dois de outubro. Há 91 anos atrás, mais precisamente em 1932, São Paulo assinava o armistício diante do governo federal, liderado pelo presidente Getúlio Vargas. Assim terminava o último conflito bélico interno no Brasil, a denominada Revolução Constitucionalista. Existe uma ideia errada de que o estado paulista tenha perdido a guerra ou que lutava para se separar do resto do país.

Curioso é ver que a imprensa da época noticiava, ainda em 3 de outubro, que a vitória dos paulistas estava em franco avanço. A partir das edições seguintes, retorna a rotina nas gráficas. Nenhuma linha era publicada com relação à insurreição. Pudera ! Getúlio Vargas deportou aqueles considerados líderes do movimento para Portugal, onde permaneceram por cerca de dois anos. Quem se arriscava ? A mordaça à imprensa foi imposta. Jornais locais só voltaram a falar da Revolução um ano depois, com missa pelos piracicabanos mortos e pela instalação do mausoléu ao soldado constitucionalista no Cemitério da Saudade.

O ponto de partida disso foi em 23 de maio daquele ano – hoje Dia da Juventude Constitucionalista – quando, na capital paulista, Praça da República, houve uma revolta popular contra Vargas e foram mortos quatro homens que formaram o acrônimo MMDC, depois uma sociedade secreta que mobilizou a sociedade e empunhou armas para evitar o avanço das tropas federais. Foram 100 mil voluntários em todo o estado, com cerca de 900 pessoas mortas, maior que o número de brasileiros participantes da Segunda Guerra Mundial.

Piracicaba se envolveu com corpo e alma, despedaçando famílias que perderam seus entes nos campos de batalha.

As notícias relativas à Revolução de 1932 mereciam a capa do jornal “O Momento”, com contribuição de Francisco Lagreca que tinha uma coluna fixa intitulada “A Guerra Santa”, a qual durou quase todo o período do levante. Eram publicadas determinações do município, liderado pelo prefeito Luis Dias Gonzaga, conforme orientações da força revolucionária. A imprensa não deixou de lado a rotina, anunciando diariamente a programação do cinema, os convocados para a patrulha na cidade assim como a guarda feita pelo Tiro de Guerra em locais considerados como essenciais (teatros, cinemas...), falecimentos e aniversários. Havia espaço considerável destinado às religiões como a coluna do catolicismo e o culto evangélico (destacando as ações dos metodistas e presbíteros). Muitas manchetes ecoavam a vitória de São Paulo sobre as forças federais.

Muitos nomes e fatos foram omitidos. Jornais da época tinha limitação de espaço e serviam para explicar situações complementares que era ouvidas no dia a dia no boca a boca.

Os jornais locais tinham seus informantes, voluntários que atuavam como fonte de notícias: Mário Neme (“O Momento”), Jacob Dihel Neto, Pedro Krähenbühl (O Momento) e Antonio Moraes Sampaio (Jornal de Piracicaba). Jornais locais não tinham correspondentes. Alguns escreviam cartas para seus amigos e familiares e estas eram reproduzidas nos veículos de comunicação, servindo como base para um jornalismo narrativo e investigativo.

O Batalhão Piracicaba é assim denominado pela primeira vez. Depois é alterado para Batalhão Piracicabano. Em seguida, é denominado de Coluna Boaventura, em homenagem ao seu comandante. Alguns registros mostram que os piracicabanos também receberam o cognome Coluna Maldita (Columna Maldicta, na grafia da época), pelas barbáries cometidas e não descritas nos veículos de comunicação. Há apenas uma citação de Jacob Diehl Neto dizendo que o grupo parecia como mercenários mal liderados.

O número exato de voluntários servidos por Piracicaba é incerto. Os documentos, se existiram, sumiram. Alguns piracicabanos se alistaram em outras cidades. Outros que escolheram Piracicaba como cidade para residir, trabalhar ou estudar, não eram natos aqui. Estavam de passagem ou constituíram vida após o levante de 1932. Muitas das inscrições de determinações em quais grupamentos serviriam foram designadas em São Paulo, sem registro único. Luiz Dias Gonzaga, prefeito de Piracicaba disse em “O Momento” que partiram da cidade 2.500 voluntários e que mais deveriam seguir a causa constitucionalista. Assim, estima-se que mais de 3 mil pessoas se engajaram à causa, ou seja, 10% da população à época.

Os piracicabanos foram agrupados no 14º Regimento de Infantaria, 4º. Batalhão de Caçadores da Reserva, 5º e 6º. Regimentos de Infantaria, 2º. Batalhão dos Funcionários Públicos, Exército Constitucionalista dos setores Leste e Norte e outras divisões. Atuaram em Bocaina, Areias, Silveiras, Queluz, Itapira, Cruzeiro, Vale do Paraíba e áreas situadas no norte do estado.

A Revolução Constitucionalista terminou em 2 de outubro de 1932. A cidade volta, então, à sua normalidade.

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