Em nossa vida de relações, geralmente temos noção da própria condição ao compará-la com a dos outros: somos considerados ricos ou pobres em relação aos recursos financeiros dos demais. Na frenética busca pelo destaque social, muitos usam como parâmetro de sucesso o número de seguidores em redes sociais, comparando-o com outros influenciadores digitais.
O processo de comparação, quando movido por intenções menos nobres, destituído de propósitos edificantes, pode distorcer a percepção e perverter a qualidade das relações, ao gerar uma necessidade de se olhar para fora, para o outro, não de modo amoroso, mas com vistas a se saber em que lugar se encontra cada um no jogo de interesses em que frequentemente nos encontramos envolvidos.
Em uma sociedade predominantemente materialista, consumista e competitiva, confere-se importância àquilo que em essência não tem nenhuma relevância. Criam-se falsas necessidades, estimulam-se ambições e desejos, alimentam-se conflitos cujos resultados negativos todos conhecemos.
A comparação é o outro lado da moeda da competição, e ambas se nutrem uma da outra, pois em qualquer ação competitiva alguém só é vencedor se seu desempenho for comparado com o de outros. Obviamente as comparações técnicas, em termos de previsões, planejamento e ações a serviço do bem, são necessárias e úteis, como é o caso de parâmetros que devem ser usados para melhorar a qualidade de produtos e serviços oferecidos à população.
Do ponto de vista da personalidade, ao nos compararmos com outras pessoas, alimentamos nossa natureza egoica, o que nos prende, condiciona e limita. No caso de nos sentirmos melhores, isso nos estimula o orgulho e a vaidade. Quando, ao contrário, nos achamos em condições inferiores aos demais, acionamos a autodepreciação e o sentimento de humilhação, ou, movidos pela ambição ou inveja, envidamos esforços para alcançar ou suplantar a posição de quem nos parece melhor. Em todos esses casos, existe um jogo destrutivo, causador de incontáveis conflitos, dissabores e frustrações.
Ao tomarmos consciência desses aspectos, podemos despertar para níveis mais profundos da realidade e da vida, passando a buscar a superação de nós mesmos, anelando pela vitória sobre nossos próprios impulsos inferiores e tendo como meta a conquista de valores transcendentes propiciadores de paz, harmonia e felicidade. Quem se aproxima de tal estado passa a considerar pessoas e circunstâncias sob perspectiva totalmente diferente. Diante de quem se mostre em condição inferior, busca auxiliá-lo a fim de que manifeste seus potenciais, sentindo-se feliz em colaborar para tal intento. No caso de reconhecer alguém portador de conquistas que ainda não possui, inspira-se em quem já trilhou os caminhos que ora percorre. Essa mudança de perspectiva favorece relações interpessoais em que os jogos perversos do ego dão lugar a um convívio fraterno, no qual cada um oferta aos demais o melhor de si.
Se o essencial na jornada de autorrealização é a superação de si próprio e a transcendência do ego, a busca psicológica de comparação e a competição perdem o sentido. Isso muda a concepção e consequentemente a percepção da vida, transformando para melhor as condutas e atitudes.
Quem descobre e cumpre seus propósitos de vida não tem tempo, energia nem interesse em comparações inoportunas, utilizando-os para trabalhar e servir mais e melhor, pois compreende que não existe vitória real sobre o outro, mas apenas sobre si mesmo.
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