ARTIGO

Hotéis e concierges de Piracicaba

Por Edson Rontani Júnior | 20/09/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Almeida Júnior, pintor que viveu do mecenato de Dom Pedro II, foi morto em frente a um hotel. Na região, o Grande Hotel de Águas de São Pedro funcionou como cassino. Dom Bertrand de Orléans e Bragança se hospedou no Hotel Beira-Rio em 2021. Estes são alguns faltos que nos remetem a hotéis da região de Piracicaba. Mesmo em época de hostess, moradas em containers e Airbnb, os hotéis ainda são sinônimos de luxo, não apenas em Piracicaba, mas mundo afora.

Isso tudo teve seu ponto de partida ao comentar dias destes com o amigo cirurgião-dentista Waldemar Romano sobre a arquitetura do Hotel Paulista. Uma foto que estampava o Teatro Santo Estêvão trazia à uma de suas laterais – onde se encontra hoje o Poupatempo Estadual – referida acomodação, numa arquitetura de dois pavimentos, com portas e varandas altíssimas, como aqueles casarões dos anos 1700 e 1800 que vemos em cidades com Tietê e Itú. Segundo Romano, ao lado deste, também sitou-se o Hotel do Lago, da família do compositor e ator Mário Lago, naquilo que era conhecido como o Largo do Teatro, na então praça 7 de Setembro (hoje, praça José Bonifácio). Não muito distante tivemos também o Hotel Central e décadas depois o Grande Hotel, próximo ao Mercado Municipal.

Estas rememorações surgem, pois, foram várias as contribuições destes hotéis para a cidade. Não apenas pela arquitetura de dois séculos atrás retidas apenas em pouquíssimas fotos como também para a vida social e a vida profissional da cidade. Um dos exemplos foi Aurora Conceição que por aqui clinicou como médica, formada pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, atendendo moléstias de senhoras e perturbações digestivas. Chegou a residir no Hotel Central de 1929 a 1931. Outra situação, desta vez de movimentação social: o Hotel do Lago, aliás, era ponto de partida dos troles que funcionavam com tração animal – atuavam como transporte coletivo na época – saindo pontualmente às cinco horas da manhã, isso em 1900.

A dimensão de alguns fica por conta da imaginação do leitor. Poderiam ter sido albergues, pensões, ou redutos de romeiros e retirantes. Samuel Pfromm Neto no seu “Dicionário de Piracicabanos” (Editora IHGP) lembra do “Hotel Europa”, situado na rua Governador, pertencente aos pais de ida Schalch (o pai era engenheiro suíço e a mãe era alemã), uma das primeiras missionárias brasileiras educadas por metodistas.

Cartões postais nem tanto, mas os almanaques que povoaram Piracicaba no século passado traziam divulgações (textos e publicidades) de hotéis locais. Aliás, este era o papel dos almanaques, realizar a divulgação da cidade para o “estrangeiro nacional”.

Luciano Guidotti foi um cultuado “mestre de obras”. Criou a Pinacoteca, canalizou o Ribeirão do Itapeva, finalizou em seu segundo mandato o Estádio Barão da Serra Negra e tinha por intenção criar o Hotel Municipal. Este estava situado no parque ecológico de Luiz de Queiroz, pouco antes da Ponte dos Irmãos Rebouças, sendo Centro-Vila Rezende. O local também foi denominado de Parques Sachs em homenagem a André Sachs, local onde, na segunda metade do século 1800, a sociedade piracicabana desfilava. Era o espaço onde ocorriam os piqueniques, apresentações de bandas em coreto edificado, e disputas de “partidas hamburguesas” ou boliche. O Hotel Municipal começou a ser erguido na década de 1960. Foi passado para iniciativa privada e arrematado anos atrás pela família que administra o Beira-Rio Palace Hotel.

Os hotéis locais também eram ponto de referência para a gastronomia. Anúncio em jornal de 1882 deixava claro que o Hotel Piracicabano, sr. Vicente Russo, disponibilizava a partir das 8 horas bifes a 400 réis com batatas ou ovos. Vicente comprou o hotel de Modesto Antonio Corrêa Lemos e este situava-se, lá por 1880, no Largo do Teatro. “O Piracicaba”, jornal da época o definiu como antigo e acreditado hotel, com cômodo e comida todas as horas e serventes para promover o giro do estabelecimento, além de veículos de tração animais para passeios, viagens e transporte as estações da Paulista e Ituana.

Referência na cidade, o “Hotel dela Giardineira” situava-se onde próximo de encontra-se hoje a rede Oyo, rua XV de Novembro esquina com a Benjamin Constant. Era propriedade dos irmãos italianos – Paulo e Ricardo Pucci – e Archile Ghiara. Tinha quartos também para solteiros com gastronomia italiana. Para uma viagem ao tempo como esta, não se paga passagem ...

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