ARTIGO

Braga e Coimbra ao nosso alcance

Por Armando Alexandre dos Santos | 19/09/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Sou, por inveterado hábito, crítico implacável dos guias turísticos, que costumam ser superficiais e com frequência transmitem informações errôneas, contribuindo para a perpetuação de erros históricos elementares. Essa minha crítica se refere, sobretudo, às pessoas que servem de guia em locais históricos, mas se estende também aos guias turísticos impressos, sejam eles livros, sejam opúsculos ou simples folhetos.

Quanta bobagem não ouvi, por exemplo, dos guias turísticos que, nas cidades históricas de Minas Gerais, apresentam aos visitantes as maravilhas da arte barroca mineira! Lembro de um, na cidade de Tiradentes (antiga São José d´El Rei) que afirmava, com ares professorais, que algumas igrejas eram construídas com apenas uma torre para pagarem menos impostos à Coroa portuguesa que explorava o Brasil! Outro, numa igreja de São João d´El Rei, fazia uma confusão infernal na identificação dos santos, sem o menor conhecimento dos atributos que tradicionalmente a imagética conferia a cada um deles. Assim, a imagem de um santo com tiara e báculo pontifício, com chaves na mão, que era obviamente São Pedro, “virava” São Paulo ou São Joaquim. Um santo com hábito franciscano, com o cordão e os três nós, “virava” São Bento ou São Bernardo. Qualquer santo negro imediatamente era identificado como sendo São Benedito, embora o hábito branco, dominicano, indicasse tratar-se, sem a menor sombra de dúvida, de São Martinho de Porres. E assim por diante...

Infelizmente, fazem falta no Brasil guias turísticos como existem em muitos locais da Europa, precisos e profundos, com formação superior, verdadeiros especialistas na matéria que expõem, capazes de interessar o grande público visitante, mas capazes, também, de conversar de igual para igual com visitantes que já conhecem em profundidade o assunto que está sendo mostrado.

No que diz respeito a guias turísticos impressos, também estendo a eles minha prevenção. Neles, de um modo geral, se encontram menos erros históricos do que nas exposições orais dos cicerones, mas o que os caracteriza é, via de regra, a superficialidade.

Sendo tão preconceituoso - no sentido etimológico do termo - em relação ao gênero, foi com agradável surpresa que tomei conhecimento de dois belíssimos guias turísticos que recebi de Portugal, como presente do Dr. António Carlos de Azeredo, velho e querido amigo e companheiro de lutas desde os remotos tempos de nossa mocidade.

Possui ele uma editora especializada em guias turísticos de alto nível, a Caminhos Romanos. Os livros que publica, ele próprio os escreve, depois de pesquisa exaustiva e feita com severo senso crítico, e ele próprio os ilustra e edita, com apurado senso artístico. Sua formação é jurídica, mas ele é profundo conhecedor da história de Portugal e pertence a uma família em que são numerosos os arquitetos, especializados em monumentos históricos de Portugal. Isso o aparelha a produzir livros turísticos excelentes, da mais alta utilidade para quem visite Portugal. Tanto o turista comum, sem conhecimentos especializados, como o mais exigente e crítico, todos podem ler com gosto e proveito seus magníficos guias.

Ele me enviou dois, o primeiro dos quais tem como título “Braga”. Nele é exposta a história, as origens, as tradições da cidade nortenha que, pelo grande número de igrejas, se tornou conhecida como “Roma Portuguesa”. Desde os tempos da velha Bracara Augusta dos romanos até os atuais, passando pelo período páleo-cristão, pelos tempos dos Suevos, dos Visigodos, da invasão maometana, da Reconquista medieval e, mais recentemente, pelos quase nove séculos de Portugal independente. Depois dessa visão de conjunto inicial da cidade, vêm expostos, em capítulos curtos, densos e bem escritos, os principais atrativos que, hoje em dia, ela tem para os turistas: igrejas, palácios, solares abertos à visitação, bibliotecas, museus etc. Especial destaque merecem as duas célebres igrejas de Braga, o Santuário do Bom Jesus do Monte, com sua lindíssima escadaria, verdadeira joia arquitetônica, e a Basílica do Sameiro, consagrada a Nossa Senhora da Conceição no século XIX, para celebrar a proclamação do dogma da Imaculada Conceição pelo Papa Beato Pio IX.

O segundo livro, intitulado “Coimbra, cidade do conhecimento”, segue o mesmo esquema do anterior. Dessa cidade, Azeredo evoca a história, destacando o papel eminente que teve na afirmação da independência lusa no século XII, quando foi escolhida pelo primeiro Rei, D. Afonso Henriques, para sua capital. Mostra em detalhes o gótico Mosteiro de Santa Cruz, onde quis ser sepultado o monarca; as duas catedrais da cidade, a Sé Velha e a Sé Nova; estende-se na exposição da Universidade, na lindíssima Biblioteca Joanina, na Sala dos Capelos, na Capela universitária etc. Passa, depois, para numerosos pontos de atração que a cidade oferece aos turistas. Entre muitos outros, a Quinta das Lágrimas, onde foi morta Inês de Castro, a amada do Príncipe D. Pedro, que depois foi o rei D. Pedro, chamado o Cruel pela vingança que tomou dos matadores da “linda Inês”, “que depois de morta foi Rainha”, como cantou Camões.

Esses esplêndidos guias, profusamente ilustrados, um brasileiro que visite Portugal não pode deixar de conhecer. Mesmo que não possa, de momento, deslocar-se até lá, a leitura deles vale por uma viagem. Podem ser comprados pelo e-mail caminhosromanos@gmail.com Garanto que vale a pena.

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