ARTIGO

Vapor barato

Por Rubinho Vitti | 18/09/2023 | Tempo de leitura: 3 min

As cartas não chegam mais pelo correio, o jornal não está mais na porta da casa, o telefone fixo está empoeirando na sala, assim como o toca discos. A prateleira de livros não recebeu mais exemplares e a câmera gravadora está mofando junto com as fitas VHS.

Basicamente, tudo está disposto com facilidade e modernidade dentro de um dispositivo eletrônico, no caso, o celular. E isso tem um lado bem positivo já que bem menos lixo é produzido devido à desnecessidade de objetos físicos.

Mas a tecnologia não é nenhuma santa.

Eu bem me lembro quando, lá em 2010, a atriz Katherine Heigl apareceu publicamente no programa de David Letterman com um cigarro eletrônico em mãos em uma época que já fazia tempo que fumar na televisão era considerado chique.

Na época, foi como: “você pode substituir o cigarro por vapor de água, que não faz mal”.

Ledo engano! Treze anos se passaram e os cigarros eletrônicos, ou vapes, como são conhecidos na maioria dos países, são uma febre. E não apenas em quem resolveu substituir o fumo tradicional pela versão futurística dos “vapes”. Mas por jovens – muito jovens.

Aqui na Europa, não é difícil você se deparar com crianças, nos intervalos escolares, sustentando um pedaço de plástico na boca de onde exalam um montante grande de fumaça que mais parece aquelas máquinas de balada dos anos 1990.

Nem tão antigamente assim, um aparelho de vape era caro e você comprava cápsulas que serviam de combustível para a fumaça. Agora, popularizou-se os vapes descartáveis que nada mais são que canetas de plástico de onde é possível dar cerca de 600 baforadas. Depois disso, tchau!

E, claro, a maior parte dos fumantes de cigarros eletrônicos não está nem aí para onde vai parar aquele pedaço de plástico que acabou de consumir.

Para se ter uma ideia, cerca de cinco milhões de cigarros eletrônicos descartáveis são jogados fora toda semana no Reino Unido. Isso significa um aumento de quatro vezes em relação ao ano passado.

Do total, apenas 17% dos usuários usam lixeiras de reciclagem adequadas para descarte, de acordo com o Material Focus, organização de fomento à reciclagem.

E é importante ressaltar que os vapes não são apenas plástico, mas contém materiais como fios de cobre e baterias de lítio que, se descartadas erroneamente, poluem ainda mais.

Apesar da comercialização, importação e propaganda de todos os tipos de dispositivos eletrônicos de fumar serem proibidas no Brasil, por meio de resolução da Anvisa, é facinho encontrar usuários e lojas vendendo os produtos.

E não faltam relatos de jovens fumantes que tiveram problemas sérios de saúde. Os cigarros eletrônicos acabam sendo mais prejudiciais que os normais – como se isso pudesse ser possível.

Entre eles está a história de Gabriel Nogueira Souza, que em 3 meses fumando cigarro eletrônico foi para o hospital tossindo sangue. Resultado: bronco pneumonia e enfisema pulmonar.

Os exames mostraram que dentro dos brônquios tinha óleo vindo dos cigarros eletrônicos fumados, um problema irreversível já que não pode ser extraído com facilidade.

Eu mesmo testei o produto por semanas quando cheguei para morar na Europa. Devido à facilidade de transporte e até por ser menos fedido que o cigarro normal, com sabores que vão da framboesa à banana, era uma delicinha.

Mas a possibilidade de fumar dentro de casa, no quarto, no banheiro, sem deixar vestígios, me fez um fumante assíduo.

Um dia acordei sentindo o pulmão como se estivesse cheio e o fôlego mínimo para atividades cotidianas. Parei no mesmo dia!

Apesar da tentativa de governos proibirem o uso dos gadgets pulmonares, parece que esse bichinho eletrônico ainda vai exalar muitos problemas por aí.

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