Todos passamos por fases difíceis na vida: problemas de saúde física ou mental, relacionamentos conflituosos, dificuldades familiares, financeiras, profissionais ou sociais. As crises, seja de que natureza forem, fazem parte da vida humana, e não há como evitá-las de todo. Muitos dos problemas que faceamos nos convidam à reflexão, ao autoconhecimento, à mudança de rumo, e podem se tornar impulsos à autossuperação, ao desenvolvimento e manifestação de aptidões e potencialidades latentes.
Muitas vezes, diante de situações que nos parecem demasiadamente difíceis, as quais nos fazem supor termos atingido nossos limites de resistência, tendemos a buscar ajuda externa, o que nos parece perfeitamente válido, pois a fraternidade é um imperativo da vida. Ocorre que frequentemente apelamos para procedimentos que fogem à racionalidade, os quais demonstram nossa imaturidade, ao buscarmos soluções mágicas para problemas complexos que requerem nossa efetiva participação, esforço, paciência e perseverança para serem solucionados.
O pensamento mágico faz com que alimentemos fantasias em relação a diversos problemas, além de nos criar expectativas irreais quanto a possíveis soluções. De modo algum desmerecemos o valor da fé nem deixamos de acreditar no seu poder de cura e transformação; apenas refletimos acerca de subterfúgios que usamos para nos evadir das responsabilidades que nos cabem e dos esforços que nos aguardam para a efetiva solução daquilo que se nos apresenta.
Mesmo em relação a questões de natureza psíquica e espiritual tendemos a buscar soluções imediatistas e superficiais, esquecendo-nos de que os caminhos espirituais ressaltam a importância do empenho pessoal, da resignação, da paciência, da humildade e da submissão aos desígnios superiores que nos regem a vida e o destino. Devido ao predomínio de nossos aspectos egóicos, ainda buscamos soluções que nos pareçam mais rápidas, fáceis e agradáveis, livrando-nos de maiores esforços.
Em períodos de maior fragilidade, desequilíbrio e sofrimento, impulsionados pelo medo e ansiedade, podemos apelar para aquilo que, em sã consciência, não nos pareceria razoável nem coerente. Essa atitude nos torna vulneráveis a toda sorte de mistificações e superstições, tanto quanto nos coloca reféns de falsas promessas e manipulações de pessoas oportunistas e inescrupulosas, que infelizmente se imiscuem em todas as atividades humanas, especialmente naquelas que tratam de seres vulneráveis e ansiosos por ajuda. As pessoas emocionalmente fragilizadas tornam-se menos criteriosas e especialmente propensas a buscar soluções miraculosas para seus problemas, infantilizando-se e aceitando aquilo que, em condições de clareza mental, refutariam prontamente. Parece-nos difícil estabelecer a linha divisória entre a fé verdadeira e a crença ingênua. Tal fato ressalta a necessidade de um constante cultivo espiritual, autoconhecimento e comunhão interior, a fim de nos prepararmos para os momentos que nos requeiram especial clareza e aguçada percepção quanto ao melhor caminho a seguir. Esse preparo nos permite acessar nossa essência mais profunda, de onde a intuição pode nos orientar com segurança, inclusive em relação a possíveis ajudas externas às quais venhamos a recorrer. Tal cuidado e discernimento tornam-se imprescindíveis para diferenciarmos a ajuda verdadeira de interferências indevidas ou prejudiciais, quando a procuramos para nós e quando a oferecemos aos demais que necessitam de nosso auxílio.
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