ARTIGO

Ciúme, até que ponto é normal?

Por Luiz Xavier |
| Tempo de leitura: 3 min

A partir desta semana trarei alguns artigos sobre o Ciúme. Começamos hoje com a reflexão da psicóloga clínica Eda Fagundes. Acompanhem:

“Costumamos dizer que quem ama tem ciúme e que, portanto, o ciúme é uma demonstração do amor, do bem querer, do cuidar. Convivemos com essa ideia e com esse sentimento praticamente desde que nos entendemos como gente e raramente paramos pra pensar que muitas vezes essa normalidade desaparece completamente, deixando lugar para o aparecimento do ciúme patológico.

É comum a presença do ciúme na relação dos pais com os filhos, entre irmãos, entre amigos e, dentro dos padrões de normalidade, são como um temperinho a mais na vida das pessoas e de modo algum provocam danos à qualidade das relações. O problema começa quando esse doloroso sentimento excede o razoável e domina as pessoas, aí sim provocando grandes danos às relações e muitas vezes gerando violência verbal, física e até homicídios passionais.

O verbete ciúme está definido no dicionário como: sentimento doloroso causado pela suspeita de infidelidade da pessoa amada, zelo; angústia provocada por sentimento exacerbado de posse. Esse é exatamente o ciúme patológico. Dificilmente quem é tomado por esse mal consegue se libertar sem ajuda profissional.

O ciumento patológico passa grande parte do tempo com pensamentos obsessivos, o tempo inteiro convivendo com a quase certeza de que está sendo traído, enganado, passado para trás. No fundo essas pessoas não conseguem acreditar que podem ser amadas e, mesmo que estejam sendo, vivem como se não estivessem; logo, julgam que vão ser trocadas a qualquer momento. Transformam-se em detetives eficientes e perdem completamente o senso de privacidade e respeito ao parceiro. Fuçam carteiras, celulares, computadores, telefonam demasiadamente tentando controlar os passos do outro e, o que é ainda pior, ainda que nada encontrem, continuam sofrendo e tendo certeza de que a qualquer momento vão descobrir alguma coisa. Desenvolvem uma percepção distorcida dos fatos e têm certeza de que viram e ouviram o que não necessariamente existiu. Olhares, troca de bilhetes e, pasmem, julgam serem capazes de adivinhar os pensamentos, muitas vezes afirmando terem certeza de que seus parceiros estão desejando outras pessoas. O sofrimento é agudo e argumentos racionais parecem insuficientes para neutralizar essa dor ou mesmo amenizá-la. As causas precisam ser encontradas e geralmente tem relação com níveis muito baixos de auto aceitação e desenvolvimento deficiente de amor próprio. É preciso compreender que o foco do ciumento patológico é sempre o outro e seu comportamento. Perde-se tempo indo nessa direção. O foco precisa ser quem está sofrendo desse mal.

Por que tenho sempre a sensação de que meu amor encontrará alguém melhor do que eu e vai me trocar? Por que não consigo perceber e acreditar que outras pessoas podem me amar? Por que me admiro e me amo tão pouco? Essas são algumas questões que todos que estão vivendo esse drama devem se fazer incessantemente. Parem de pensar no comportamento dos parceiros e passem a tentar responder essas perguntas até que as respostas sejam encontradas.

Infelizmente, mas comumente, essas pessoas acabam realmente sendo traídas e aí confirmam suas hipóteses e partem para outra relação com a doença ainda mais solidificada. Isso acontece exatamente porque a autodesvalorização e as brigas constantes levam à falência do sentimento amoroso.”

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