ARTIGO

Tubo de lata

Por Rubinho Vitti | 28/08/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Voar de avião me deixa ansioso e ao mesmo tempo incrédulo. Como tantos voos saem pelo mundo afora, carregando milhares de passageiros, em um procedimento louco como esse?

Pense bem, estamos falando de um tubo de lata com asas que amontoa um monte de gente enfileirada, acelerando com uma turbina que arranca o objeto para frente em segundos e que o faz subir além das nuvens.

Ufa, cá estou com as mãos suando em mais uma decolagem.

Como diz a canção do Pato Fu, “acima das nuvens, o tempo é sempre bom”. De fato, faça chuva ou faça sol lá embaixo, depois que a lata sobe eu me deleito em ver o sol nascer naquele mar nublado que parece um tapete de algodão doce.

Já devo ter feito uns trocentos voos na vida, mas minha caipirice é sempre a mesma: querer ficar na janelinha e assistir ao espetáculo do céu e das nuvens enquanto o resto dos passageiros tiram suas sonecas.

E cada voo, para mim, tem uma experiência com sabor diferente, seja  um pontinho no meio do nada que vejo e penso: quem será que vive ali? Como faz para chegar?

Durante esta viagem, enquanto escrevo esse texto, passamos por um conjunto gigantesco de montanhas altíssimas.

Claro que não sei o que eram elas, afinal não temos acesso à internet durante a viagem, mas fiquei ali, boquiaberto, admirando a paisagem.

Entre as montanhas, pequenas vilas aparecem ao redor de um rio. Os olhos vão acompanhando aquele corrimento de água, que aqui de cima mais parece uma minhoca, se tornar uma serpente e seguir até se tornar um grande manancial.

Não há mais montanhas, mas uma cidade surge ao redor dessa imensa corrente de águas. Reflito em como estamos todos próximos, sempre, de rios. E como cidades com rios - Piracicaba, por exemplo, ou outras que já visitei ou passei - são especiais.

O rio carrega desenvolvimento, mas também histórias, que se transformam em lendas, que fazem parte da arte visual, da música, do teatro…

Aquele cenário mais rústico das montanhas, com pequenas vilas, dá lugar a uma terra mais costurada.

Daqui de cima, o solo parece uma colcha de retalhos, dividido em quadrados de tons de verde diferentes, provavelmente são as áreas delimitadas de proprietários de terra e suas plantações.

Enquanto pisquei, o solo desapareceu com mais um manto de nuvens.

A viagem segue entre pequenos balanços e leves turbulências que me levam a panicar novamente sobre a ideia de estar em um tubo de lata que avoa.

Sorte que as nuvens me distraíram. Comecei a “viajar” em seus formatos e cores. Lá no fundo, o sol pintava elas em tons de rosa e laranja, como uma fumaça psicodélica.

Outras formam bichos, plantas, naves espaciais… pera, tô vendo um dinossauro comendo a folha de um coqueiro. Tudo pode ser no âmbito complexo das formas dos algodões doces do céu.

Mais uma piscada de olho e elas desapareceram, dando lugar ao imenso oceano. Seria o pacífico, o atlântico? Onde estou? E se o avião cair aqui e sobrevivermos ao impacto? Será que tem tubarão? Pensamentos de um ansioso a bordo.

Até que um rastro branco me faz enxergar uma embarcação. Do alto, mais parece um barquinho do Playmobil que eu brincava quando criança, mas, na certa, é um grande navio.

Provavelmente de mercadorias, que pode estar levando o colarzinho que você comprou na Shein. Quem sabe?

Terra à vista! Mas pouco antes dela chegar vejo hélices que produzem energia eólicas ainda na água. Sei que elas são gigantes, mas daqui parecem cataventos.

Acho que estamos nos aproximando do destino. Como não consigo dormir em viagens de avião, resolvi escrever esse texto a algumas dezenas de pés de altura!

Será que o avião vai pousar bem? Esse tubo de lata que voa não vai despencar antes da aterrissagem?

Bom, se vocês estão lendo isso, é porque deu tudo certo.

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