Das coisas que a Irlanda tem me proporcionado, morando por aqui há quase seis anos, e atuando como jornalista, é conhecer cada vez mais o Brasil.
“Conhecer mais o Brasil? Você escreveu certo, Rubinho?”
Sim, senhores! Parece estranho falar isso, mas com a expansão da agenda cultural, da exportação da arte brasileira ao redor do mundo, muitos artistas da nossa terrinha têm aterrissado na Europa para apresentar sua arte, seja na música, no humor, na dança ou no teatro.
E a Irlanda é um dos "pit-stop" do momento das turnês internacionais, que vão de grandes nomes da música brasileira até artistas independentes, tornando a agenda cultural brasileira do país em uma salada de ritmos, para alegria dos brasileiros que moram aqui e dos irlandeses – ou não-brasileiros – que podem conhecer cada vez mais a cultura do Brasil.
Como, geralmente, os artistas brasileiros se apresentam em Dublin, e a capital da Irlanda não é gigantesca, não é difícil assistir a quase tudo que chega em tons de verde-amarelo por aqui.
E eu, que estava acostumado com uma vida cultural dinâmica no Brasil, tenho me esbaldado.
Além disso, com a minha função jornalística atuante aqui na Irlanda, aproveito para bater-papo com muitos deles. E a resposta tem sido incrível. Já foram tantos nomes nestes anos que já perdi a conta, mas pode incluir Mart’Nália, Johnny Hooker, Emicida, Gloria Groove, Criolo, Lulu Santos, Alceu Valença, Adriana Calcanhotto, Fábio Porchat, Renata Carvalho, e muitos outros.
Nesta semana, por exemplo, tive a oportunidade de conhecer a incrível rainha da ciranda, Lia de Itamaracá, que saiu de Pernambuco para espalhar sua arte tradicional pela Europa. Melhor ainda é ver a dança e a música tradicional, que é um patrimônio cultural imaterial do Brasil, a milhares de quilômetros distante de casa, junto com Lia, que é considerada patrimônio cultural vivo do Brasil.
Ainda neste mês, também tive a oportunidade de conversar com Hermeto Pascoal, que, aos 87 anos, seguia em uma grande turnê pela Europa e Estados Unidos. É claro que sua performance não é a mesma de anos anteriores – quando usava de objetos diversos para fazer música – mas ele continua absolutamente ativo, escrevendo composições por onde passa e doando elas, em papel mesmo, para o público.
Luedji Luna, uma “nova voz” na Música Popular Brasileira, ainda não é conhecida absoluta, mas fez os espectadores ficarem extasiados com sua voz, fossem eles estrangeiros – sabendo ou não o que suas letras tinham a dizer – ou brasileiros que nunca ouviram falar dela.
Em três datas esgotadas, como a popstar que é, Liniker voltou para Dublin para o deleite de seus fãs e mostrando um show de formato intimista inédito, que deixou todo mundo de queixo caído.
Ainda vi o sucesso e animação de Saulo, que literalmente trouxe a Bahia para Dublin em uma festa incrível cheia de axé. Para mim, ele disse que o público de brasileiros na Irlanda é o mais animado. E eu não duvido!
Thiaguinho foi outro que já descobriu a animação dos brasileiros por aqui, retornando a Dublin pela terceira vez.
O estreante Zeca Pagodinho, na certa, vai voltar. Foram centenas de brasileiros presentes em seu show que nos transportou imediatamente para o Brasil.
Deu para ver que a salada mista brasileira é grande em terras irlandesas. E a própria Irlanda já percebeu isso.
O Dublin Theatre Festival, maior festival de teatro irlandês, inseriu duas apresentações brasileiras em sua programação deste ano:
Zona Franca, espetáculo de dança que vem direto do Rio de Janeiro, e Depois do Silêncio, peça baseada no livro Torto Arado.
É, como muitos dizem por aqui, a Irlanda é o segundo Brasil – e parece que está ficando cada vez mais.
O que é ótimo!
--------------
Os artigos publicados no Jornal de Piracicaba não refletem, necessariamente, a opinião do veículo. Os textos são de responsabilidade de seus respectivos autores.