ARTIGO

Diz que é de Piracicaba, mas...

Por Edson Rontani Júnior | 31/07/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Diz que é de Piracicaba, mas nunca andou de elevador na ponte arquiteto Caio Tabajara... Diz que é de Piracicaba, mas nunca visitou o Salão de Humor ... Diz que é de Piracicaba, mas nunca foi aEsalq...

Tiradas como estas povoaram o Facebook anos atrás e, se a memória não atrapalhar, foi antes da pandemia, possivelmente em 2018, perpetuando-se por meses. Era um jogo de adivinhação salutar, com as lembranças sendo expandidas pelos comentários nas postagens. Atrás destes comentários, fazíamos a massa cinzenta cerebral reviver momentos gostosos do passado. Chegamos a mexer em coisas do tempo do Zagaia! Quem?!? Ora! Que adianta dizer que é piracicabano e não conhecer Zagaia? Aliás, usamos este termo sem saber quem foi distinta pessoa.

Bom. Este preâmbulo serve para dizer que, com mais de 400 mil habitantes, Piracicaba, acolheu muita gente que encontrou a “terra arada, semeada e com plantação dando frutos”, desconhecendo aqueles que por aqui lutaram, deram suor e sangue. Piracicaba como conhecemos é uma. Piracicaba como ele é realmente, é outra. Os mais antigos e tradicionais a enxergam de uma forma diferente da visão dos “estrangeiros” que por aqui se aportaram.

É a “síndrome da ponta do nariz”. Pois, bem. Por mais que a ponta do nariz esteja diante de nosso olhar, nunca a notamos. Piracicaba é assim. Está na ponta do nariz e muitas vezes não damos valor aos pontos turísticos, à sua gastronomia, à sua riqueza cultural. Saímos do pejorativo “quintal de Campinas” para sermos o jardim de nossa própria cidade. Exemplos disso? Vejam os motociclistas que, de outras cidades, vem a rua do Porto no final de semana ... Os pontos atrativos e turísticos cheio de gente durante as férias de julho, as movimentações em pontos de caminhada como o Parque da Rua do Porto ou a Estação da Paulista. Querer enxergar além da ponta do nariz exige um exercício que nos perpassa o estrabismo ou miopia, com grande ganho de cultural.

Até os anos 1980, não tínhamos um centro cultural na Estação da Paulista. Tínhamos trens de carga que impossibilitavam nossa entrada no espaço. Hoje caminhamos, andamos de bicicleta, utilizamos equipamentos (com acessibilidade, inclusive) ... O Engenho Central era tão fechado quanto a Chácara Nazareth ou o Casarão de Luiz de Queiroz. Eram pontos particulares. E hoje? O Salão Internacional de Humor, que entra em agosto na sua 50ª. edição, é um bom exemplo desta ocupação. E a gastronomia? Quem viveu os anos 80 comia o churrasquinho do Bar do Décio, o prensadão da avenida Armando de Salles de Oliveira ou a canja ou sopa de cebola do Saravá. Que mais? Tínhamos de esperar um ano todinho para provar uma esfirra aberta na Festa das Nações que ocorria no Lar Franciscano de Menores. Pastel, então, apenas no Mercado Municipal, consumido apenas no horário comercial – impróprio para quem trabalha o dia todo. Churros? Apenas na Eletroradiobraz (atual Pão de Açúcar da Cidade Alta). E hoje? Compramos churros e esfirras a qualquer momento por aplicativo! Melhorou ou não?

Vivemos períodos pós pandemia, voltando a circular pelos pontos turísticos. O fato não é conhecer o que já se conhece e sim enxergar além da ponta do nariz. Ver a beleza de pontos como o Aquário Municipal, recentemente reaberto, os Teatros Municipais, saborear uma boa gastronomia à beira do rio Piracicaba ... Enxergar com amor é acabar com estereótipos e principalmente preconceitos.

Pois, bem. Nos últimos dias, o poder público municipal nos deu a chance de conhecer ou revisitar locais. Um ônibus colocado a disposição, levou as pessoas para subir o elevador ao lado da Ponte do Mirante! Durante a semana e em horário comercial! O piracicabano teve a chance de conhecer ou revisitar a história da Estação da Paulista (que já foi um sambódromo), Estádio Barão da Serra Negra, Cemitério da Saudade, Esalq, Museu da Água, Aquário Municipal, Engenho Central, Ponte Pênsil, Casa do Povoador ... Ufa! Além disso, pôde ver como é a logística da Polícia Militar no hangar do helicóptero Águia e as obras de Volpi nas paredes da capela do Monte Alegre.

Ou ainda partir para os redutos dos tiroleses em Santana e Santa Olímpia, onde souberam que Olímpia não é santa e sim diaconisa. Existe vida além da cucagna e também da Festa da Polenta. Enxerga quem quiser.

Aliás, confesso que vivi míope por muitos anos. Por 37 anos morei a três quadras da Estação da Paulista e nunca vi um trem na vida. Apenas conheci a Maria Fumaça quando fui para Jaguariúna. Tambémnunca pisei no Barão mesmo sendo neto de um dos presidentes do XV (Humberto D’Abronzo) e filho do criador do Nhô Quim (Edson Rontani).

Finalizo parabenizado a Semdettur pelo projeto Férias – Visite Piracicaba, encerrado sexta-feira passada. Consegui mais uma vez tirar meu estrabismo e minha miopia e enxergar além do nariz, vendo uma Piracicaba tão bela quanto ela é. Parabéns à equipe – Fernanda (coordenadora), Júlia (guia turística) e Reinaldo (motorista), além da Patrícia no Santa Olímpia. Que venham mais ações como estas em dezembro/janeiro. Feliz 265 anos, Piracicaba!

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