Faz parte da nossa natureza criar e nutrir expectativas, seja em relação a pessoas, acontecimentos ou instituições. Em parte, pelos nossos condicionamentos, tanto quanto pela ansiedade em relação ao futuro, tornamo-nos inquietos quanto ao que possa ocorrer, alimentando em nosso psiquismo aquilo que desejamos que venha a suceder.
Ocorre que em grande parte das circunstâncias da vida não temos controle sobre os acontecimentos, principalmente sobre aqueles que não dependem de nossa ação imediata nem de nossas escolhas. Desse modo criamos, muitas vezes sem o perceber, expectativas que não se cumprem, ocasionando frustrações e dissabores. Nesses casos, geralmente atribuímos aos outros a responsabilidade ou a culpa por aquilo que nos haja frustrado os anseios.
Muitas de nossas expectativas são frutos de desejos, apegos, medos, fantasias, ambições, projeções e demais expressões do nosso ego, sempre insaciável, por isso mesmo sempre insatisfeito. Nesse processo criamos incontáveis situações, as quais, por si sós, são geradoras de conflitos, insatisfações e sofrimentos.
À medida que despertamos a compreensão acerca de certas leis e mecanismos evolutivos, tornamo-nos aptos a reconhecer e aceitar o fato de que aquilo que nos acontece é fruto de leis precisas e infalíveis, as quais nos devolvem exatamente o que anteriormente geramos, seja por pensamentos, palavras ou ações. Essa compreensão se torna fundamental para que passemos a assumir plena responsabilidade sobre nossa própria vida, saindo do lugar de vítimas e tomando o papel de protagonistas do próprio destino. Essa mudança, embora possa ser inicialmente difícil e desafiadora, é essencialmente libertadora, ao mesmo tempo que nos habilita a determinarmos, de modo cada vez mais pleno, o rumo de nossa vida.
Devido à nossa imaturidade, frequentemente nutrimos expectativas fantasiosas e irrealistas, seja em relação àqueles com os quais convivemos, seja em relação a nós mesmos, tanto nos superestimando quanto nos desvalorizando, o que – em ambos os casos – distorce nossa percepção e dificulta a resolução das questões existenciais que enfrentamos no dia a dia. Essa atitude inclui nossa postura diante das religiões e movimentos espiritualistas, pois não raramente temos expectativas de receber revelações e mensagens transcendentes, de sentir especial proteção ou de ser-nos confiada alguma tarefa que nos distinga nas realizações de natureza religiosa. Esquecemo-nos de que é no cotidiano, em cada encontro, tarefa e desafio de nossa vida comum que somos convidados a manifestar e praticar as instruções espirituais que recebemos.
Parece-nos importante, como parte essencial do nosso autoconhecimento, observarmos em nós mesmos qual é a origem e a natureza de nossas expectativas, a fim de compreendermos até que ponto são verdadeiras, corretas e alinhadas com os propósitos maiores que nos orientam a vida.
É sempre muito fácil esperarmos de pessoas, instituições, governos ou mesmo de alguma instância espiritual que nos resolva os problemas mais complexos e angustiantes. Embora sempre possamos contar com inúmeras formas de ajuda, a vida, silenciosa e sabiamente, espera que cumpramos corretamente as tarefas a nós confiadas, a fim de que possamos, com coerência e harmonia, aguardar serenamente por um futuro promissor e benéfico, como natural colheita de uma semeadura correta.
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