ARTIGO

Ao Soldado Constitucionalista

Por Edson Rontani Júnior | 10/07/2023 | Tempo de leitura: 5 min

Este é o valor da terra estremecida

É o poema da glória piracicabana

Pela pátria a lutar, vida por vida,

Tombaram com bravura soberana!

Dor e martírio de uma raça forte

Que é luz e ideal de um sentimento novo!

Sobre as pedras não existe a morte,

Porque não morre quem defendeu um povo!

As letras de poema escrito por Francisco Lagreca ainda repousam sob o Monumento ao Soldado Constitucionalista, também denominado Monumento aos Voluntários de Piracicaba. Ele situa-se na Praça José Bonifácio em frente à emissora Rádio Difusora de Piracicaba. A localização é estratégica pois ao seu lado funcionou o Teatro Santo Estevão, um dos principais pontos de entretenimento e de encontro da sociedade piracicabana na primeira metade do século passado. O Teatro não existe mais. O Monumento permanece no local original, mesmo tendo sido transferido no início dos anos 1980 para a praça em frente ao Cemitério da Saudade, no Bairro Alto.

A concentração dos voluntários piracicabanos ocorreu em frente ao Santo Estevão. Dados históricos mostram que pelo menos 600 pessoas saíram de Piracicaba rumo a São Paulo, onde pegariam suas armas, receberiam treinamento e partiriam para o fronte de batalha, na região norte de São Paulo, com maior ênfase para o Vale do Paraíba e cidades como Cruzeiro. A concentração trouxe um fervor a Piracicaba. A cidade parou para acompanhar a marcha dos voluntários que se aglomeraram diante de tão pomposo Teatro. Cantando, tomaram subida pela Rua Boa Morte, escoltados por membros da de bandas da época, que tocavam hinos de exaltação, findando o trajeto na Estação de Trem da Paulista.

A obra homenageia os combatentes voluntários na Revolução de 1932. Sua construção foi decidida pelo poder público, através do prefeito Luiz Dias Gonzaga, em conjunto com voluntários e familiares daqueles que tombaram na luta pelo 9 de julho.

O monumento foi instalado na Praça José Bonifácio em 1938, seis anos após a Revolução Constitucionalista em que paulistas se rebelaram contra o governo federal liderado por Getúlio Vargas.

Para a obra, foi contratado o escultor Lélio Coluccini, italiano da cidade de Pietrasanta, região da Toscana, nascido em 3 de dezembro de 1910. Este chegou com a família ao Brasil quando tinha dois anos. Era de uma família de artesãos em mármore que na cidade de Campinas (São Paulo) fundaram a Marmoraria Irmãos Coluccini. Tinha um dom natural com a escultura que a família acabou investindo profundamente nele. Lélio, em 1924, retorna para a Itália, morando com a avó Teresa, e estudando no Instituto de Arte Stagio Stagi em Pietrasanti. Tinha 28 anos quando concluiu o Monumento ao Soldado Constitucionalista em Piracicaba. Deixou obras memoráveis no Brasil, como a escultura A Caçadora, pertencente ao acervo do Museu da Arte Moderna de São Paulo. Faleceu em Campinas em 24 de julho de 1983.

O Monumento ao Soldado Constitucionalista segue o estilo art déco e é tombado pelo CODEPAC – Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural de Piracicaba.

Em 1979, o prefeito João Herrmann Neto inicia a remodelação da Praça José Bonifácio, criando um calçadão presente até a primeira gestão do prefeito Barjas Negri (2004/2008). Com o calçadão, o poder executivo acreditava que o piracicabano teria um local para se distrair com a família. Não havia uma Rua do Porto forte como hoje, Parque da rua do Porto, um local para se caminhar como o existente na Estação da Paulista. A diversão do piracicabano era ir à Escola Agrícola (ESALQ). Shoppings só viriam anos mais tarde. Foram incentivados o programa “Domingão” com atividades de lazer e práticas esportivas na praça. Para isso, seriam retirados todos os monumentos situados em seu entorno, como o Monumento a Luiz de Queiróz, o busto de José Bonifácio, a marquise das bandeiras existente ao final da rua Santo Antonio e o Monumento ao Soldado Constitucionalista. Este foi o último a ser desmontado. João Herrmann Neto chegou a subir um trator enfrentando familiares de voluntários que montaram por dias um cordão diante do monumento para impedir sua retirada. De nada adiantou. Em 1980, o Monumento foi transposto para a praça em frente ao Cemitério da Saudade (hoje Praça Vitório Angelo Cobra, o Cobrinha).

Após polêmicas, a justiça determina o retorno do Monumento ao local original, seguindo decisões do Tribunal de Justiça de São Paulo e do Supremo Tribunal Federal. A reinstalação ocorre em 18 de dezembro de 1988.

Uma das placas homenageia os piracicabanos mortos em combate na Revolução de 1932: Alexandre Petta, Antonio de Barros, César Claudionor Barbieri, Ennes Silveira Mello, Francisco Honório de Souza, Jorge Jones, Jorge Zohlner, José Homero Roxo, José Soares, Lamartine Mariano Leme, Louro de Barros Penteado, Natal Meira Barros, Plácido Barbosa, Prudente Meirelles de Moraes, Romário de Mello Nery, Silvio Cervellini, Virgilio Gomes e Walter Scaglione.

O IPPLAP (Instituto de Pesquisas e Planejamento de Piracicaba) catalogou o Monumento como tendo sua estrutura em granito com estátuas em bronze. A art déco se faz presente conforme o padrão da década de 1930, com blocos de pedra com diferentes medidas, com um obelisco na parte central com o brasão da república brasileira feito em bronze. As estátuas encontram-se em três faces, com exceção daquela cuja parte direciona-se à rua Prudente de Moraes. Numa delas, uma mulher estende para o alto uma coroa de louro; noutra, um soldado em pé segurando uma espingarda diante de outro sentado ao chão; na terceira face um soldado abraça uma mulher com um bebê com ares de ser sua esposa e seu filho, enquanto a outra mão acalenta a cabeça de outra mulher aparentando ser sua mãe, em prantos, com a face para o chão.

O Monumento está completando este ano seus 85 anos de construção e 35 anos de retorno ao local de origem.

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