ARTIGO

O tempo de cada coisa

Por André Salum | 07/07/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Nossa relação com o tempo permeia todas as atividades que exercemos e, de modos diversos, nossa existência se expressa no decorrer do tempo.

Tudo o que acontece é processo em desenvolvimento, havendo sucessivas fases e momentos específicos para cada ocorrência. Ao observarmos a Natureza procuramos compreender um pouco desse mistério. A semente lançada ao solo obedece à sua constituição genética, desenvolvendo-se gradualmente, segundo a época propícia a cada manifestação, até o florescimento e a frutificação. O agricultor que conhece a espécie que cultiva sabe o quanto deverá esperar até a colheita. Desse modo, aguarda a época correta para que os frutos estejam maduros, nem antes, nem depois. Analogamente, a vida humana também obedece a ciclos e períodos específicos.

Além do tempo cronológico ao qual estamos vinculados, há o tempo psicológico, que nos possibilita fazer incursões ao passado, seja vivido ou imaginário, tanto quanto antecipar o futuro, às vezes de modo especulativo e improdutivo, quando nos desloca da plena vivência do presente.

Portanto, apurar a percepção interior e adequar o próprio ser com o tempo é processo educativo que reflete uma correta sintonia com os ciclos vitais que nos regem a existência na matéria.

Os indivíduos de maior sabedoria caracterizam-se, dentre outros atributos, pela paciência com que sabem esperar o momento oportuno para obter algo almejado, assim como pela prontidão com que agem, quando algo precisa ser realizado imediatamente.

Ainda temos certa dificuldade de compreender que cada coisa tem seu tempo, pois, pela preponderância do ego e de sua influência em nossa vida, a percepção que temos do tempo costuma ser alterada, seja pela ansiedade que nos impele a antecipar o que necessita ser aguardado ou pela tendência à procrastinação que nos leva a adiar indefinidamente aquilo que deve ser resolvido.

A compreensão de que tudo tem um tempo oportuno para ocorrer nos harmoniza com o fluxo da vida. Essa compreensão nos habilita a reconhecer o momento em que devemos agir, bem como a melhor forma de fazê-lo. A partir dessa atitude lúcida, não esperamos passivamente por aquilo que depende de nossa ação. Por outro lado, não geramos tensão nem preocupação desnecessários frente a situações que nos requerem paciência e espera.

No mundo atual, em que o imediatismo e a ansiedade predominam, torna-se especialmente desafiador exercitarmos a espera serena daquilo que pode demorar um tempo maior do que desejaríamos para se realizar.

Nossa relação com o tempo também nos coloca diante da incerteza, pois muitas vezes não sabemos se determinada ocorrência se dará no tempo que esperamos, nem sequer se realmente ocorrerá. Tal realidade nos desafia o desejo de dominar o que na verdade nos escapa ao controle. Quem se relaciona de modo harmonioso com o tempo, os ciclos e as ocorrências imprevistas da experiência humana, certamente sofre menos e consegue desfrutar de cada momento de modo mais pleno, apreciando e valorizando o agora como dádiva permanente da vida, desvinculando-se do que não mais lhe sirva em relação ao passado e despreocupando-se do futuro que ainda não chegou.

Ao reconhecermos que parcela significativa de nossa existência compõe-se do imponderável, do imprevisível e do inusitado, a abertura ao novo, a prontidão à mudança, a adaptabilidade e a aceitação se mostram fundamentais para permitir um mais leve e harmonioso fluir na corrente da vida.

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