PATRIMÔNIO

Tour no cemitério traz aprendizagem histórica sobre personalidades

Historiador e membro do IHGP fala da importância de se preservar o Saudade, alvo de vandalismo

Por Nani Camargo | 02/07/2023 | Tempo de leitura: 5 min
nani.camargo@jpjornal.com.br

Alessandro Maschio/JP

Os cemitérios não são locais apenas de saudade e tristeza. E muito menos assombrados (nesse quesito, há controvérsias!). O fato é que a morada dos mortos traz muita cultura, conhecimento e história.

O Cemitério da Saudade, por exemplo, abriga túmulos de personalidades que marcaram a história de Piracicaba e que, ainda, participam do nosso cotidiano, pois levam seus nomes em ruas, leis municipais, espaços tombados e públicos. Algumas dessas figuras são: Prudente de Moraes, Manoel Barros, José Ferraz de Almeida Júnior, Padre Galvão, Fortunato Losso Netto, Thales Castanho de Andrade, Coronel Fernando Febeliano da Costa, Olívia Bianco, Barão da Serra Negra, Barão de Rezende, Senador Manoel de Moraes Barros, Comendador Luciano Guidotti, Paulo José de Moraes Barros, Erotides de Campos, Armando Césare Dedini e Mário Dedini e muito mais.

No dia 27 de junho, uma situação chamou a atenção do historiador Paulo Renato Tot Pinto, que também é membro do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico de Piracicaba) e da ABEC (Associação Brasileira de Estudos Cemiteriais). Trinta e oito alunos da escola municipal Pedro Crem Filho, de Charqueada, visitavam o local para um estudo de educação patrimonial e história. “Para alguém que estuda cemitério, foi espantoso saber que nenhum dos alunos tinham ciência que tínhamos sepultado em nosso cemitério o primeiro Presidente Civil do Brasil, senadores e artistas de renome nacional”, declarou o historiador.

Durante o passeio, que começou pela sepultura do milagreiro Nelsinho, foi explanado, conforme contou Tot, como surgem os milagreiros de cemitério, devoções populares que surgem através da comoção coletiva da sociedade e se mantém, depois de muito tempo, integradas as vivencias da comunidade local.

“Dentro do viés da educação patrimonial, a intenção foi mostrar aos alunos que dos furtos, que frequentemente acontecem no cemitério, não são subtraídos apenas bronze e sim histórias, a história da cidade, a nossa história. Isso também pode ser visto e foi mostrado, através das pichações que hoje chamam mais a atenção que o próprio portal monumental do cemitério, de mais de 100 anos. A condição da entrada do cemitério de Piracicaba mostra a relação que temos com nosso patrimônio”, relata o membro do IHGP.

Um exemplo que deu certo dentro do escopo patrimonial, cita Tot, são os muros do cemitério defronte à Avenida Independência. Após receber em toda sua extensão obras de artes de artistas, não sofreram mais ações de vândalos, mostrando novas perspectivas de preservação. “Claro que devido ao tempo de conclusão dessas obras, o tempo já castigou bastante e um restauro já se faz necessário”, pontua.

Voltando ao passeio, o historiador contou que a caminhada no cemitério evidenciou também o compositor Erotides de Campos, a sepultura dos pais de Tarsila do Amaral, que foi estudada pelos alunos e tal fato lembrado pela professora de língua portuguesa, o grande artista Almeida Junior, Barão de Serra Negra, Padre Galvão, Barão de Rezende, o conjunto de sepulturas da comunidade protestante alemã, o médico Alfredo Cardoso, o senador Moraes Barros e o presidente Prudente de Moraes. “Tudo isso entrelaçando com as relações desses personagens com a história”, cita.

Tot também pontua que "para além dos mortos ilustres, outro ponto de reflexão importante foi das micro histórias, da importância de cada um ali sepultado que contribuiu para a formação da cidade". O cemitério como um repositório de histórias.

"Após a finalização desse passeio que, como disse é experimental e pode quem sabe fazer parte de uma agenda frequente, ficou clara o grande potencial que temos em nossa cidade para desenvolvimento de diversas atividades pedagógicas ou turísticas que permitem aos visitantes conhecer um pouco mais de nossa cidade, da sua história e ajudar as futuras gerações na preservação desse espaço que, embora seja um aparelho sanitário importante é o reflexo da cidade dos vivos e nos ajuda a entender nossa história", diz.

POSTURA POLÍTICA
Prudente José de Moraes Barros, nome dado pelos seus pais, definiu por toda a vida o seu perfil de homem prudente demais. É desta forma que o acervo do Museu Histórico e Pedagógico Prudente de Moraes, de Piracicaba, se refere ao patrono.

"Os princípios morais, éticos, legais e a busca pela justiça marcaram sua vida pública e privada. Meticuloso e regrado nos atos, articulador e firme nas palavras, construiu sua imagem e as bases políticas para a consolidação da República no Brasil".

Nasceu em 04 de outubro de 1841, na cidade de Itú. Após formar-se Bacharel em Ciências Jurídicas, Academia de Direito de São Paulo no Largo São Francisco, veio residir em Piracicaba, passando a exercer sua profissão de advogado e político. Deixou Piracicaba como vereador e gradativamente conquistou cargos em âmbito estadual e federal, até atingir o maior grau político de poder, a Presidência da República.

Entre os anos de 1865 a 1868, foi eleito vereador e presidente da Câmara Municipal pelo Partido Liberal. Atuou como Deputado Provincial nos seguintes mandatos: 1868-1869, 1878-1879, 1882-1883 e 1888-1889. No ano de 1885 e 1886 foi eleito Deputado Geral. Após a Proclamação da República, Prudente de Moraes foi indicado pelo então Presidente do Brasil, Marechal Deodoro da Fonseca, ao cargo de Governador do Estado de São Paulo, de 1889 até 1891, renunciando após esta data para assumir seus trabalhos no Senado. Neste cargo o feito mais marcante ocorreu ao presidir a sessão para Promulgação da Constituição Republicana, em 1891.

Com mandato de 1894 a 1898, foi primeiro Presidente Civil eleito pelo povo. Defendia a paz e a unidade nacional. Considerado um grande propagandista do idealismo republicano e o primeiro político a representar os paulistas no cenário federal.

"Prudente de Moraes soube galgar estrategicamente sua postura política, concepção partidária e liderança na propaganda republicana. Como estrategista partidário garantiu o apoio de órgãos da Imprensa republicana para construção da imagem e propaganda dos candidatos perante a nação. As imagens em torno de Prudente de Moraes foram construídas ao longo de sua vida e representadas através dos apelidos a ele atribuídos: Caipira, Biriba, Pacificador, Prudente Demais e Santo Varão da República", aponta o acervo do museu.

Prudente faleceu em Piracicaba, no dia 3 de dezembro de 1902, vítima de tuberculose. Seu túmulo, que também está em Piracicaba, pode ser visitado no Cemitério da Saudade. O monumento é composto pela estátua do presidente, com colunas e escadarias de granito. A inscrição em letras de bronze indica: "Prudente José de Moraes Barros, nascido em Itú a 4 de Outubro de 1841. Falecido em Piracicaba a 3 de dezembro de 1902".

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