Movimento e ação expressam a vida de todos os seres, os quais sempre realizam algo, conforme sua natureza. Com relação ao ser humano, cada um, a seu modo e segundo seus anseios e aspirações, concretiza o que elaborou em sua mente ou expressa o que surge como impulso. Agimos segundo determinados estímulos, obedecendo a inspirações, motivados por ideais ou impulsionados por desejos. Disso decorre a importância de tomarmos consciência das forças que nos induzem à ação. Sem essa clara percepção tendemos a repetir padrões de comportamento que temos alimentado por longo tempo, reproduzindo atitudes e condutas que nos têm levado – individual e coletivamente, ao longo da história – a conflitos, dores, guerras, numa interminável sucessão de sofrimentos. Esses padrões e tendências revelam nossa real condição e independem de rótulos ou títulos religiosos, acadêmicos ou sociais que ostentamos, os quais frequentemente escondem ações decorrentes de nossa natureza inferior, de impulsos primitivos ou disfuncionais que ainda nos influenciam a conduta.
Tomar consciência, a cada momento, do que nos motiva a agir parece-nos muito importante, pois mediante tal reconhecimento tornamo-nos capazes de perceber o quanto somos condicionados, seja reproduzindo comportamentos alheios ou obedecendo a impulsos muitas vezes destrutivos, frequentemente egocêntricos, de consequências negativas para nós tanto quanto para os demais.
Quando atentos e vigilantes, podemos reconhecer a influência e a atuação de áreas de nosso psiquismo que habitualmente nos passam despercebidas. Esse processo, imprescindível para o autoconhecimento e a consequente transformação interior libertadora, possibilita-nos, ao identificarmos determinados padrões inadequados de conduta, evitá-los e mudar para outros melhores, mais harmoniosos, construtivos e saudáveis.
Ao conseguirmos perceber que alguma ação em vias de se realizar é fruto de condicionamento, desejo, ambição, medo ou raiva, essa simples percepção permite o fluir de energias transformadoras. É como acendermos a luz em um cômodo antes escuro, podendo ver claramente o ambiente, preservando a ordem e usando o que for necessário. Sem essa luz, poderíamos derrubar inadvertidamente certos objetos, além de nos ferir ou não encontrar algo de que necessitamos e que se encontra à nossa frente. Essa luz – a consciência lúcida – é necessária para reconhecermos as forças que nos impulsionam a agir, assim como o ambiente em que nos encontramos. Quando alguém desenvolve essa percepção mais aguçada e profunda, torna-se mais ponderado e seletivo em suas palavras e ações, alimentando aquelas que se mostrem construtivas e curativas.
Em um mundo no qual ainda predominam o materialismo e o imediatismo, o consumismo e o hedonismo, torna-se imprescindível a atenção quanto àquilo que nos move as ações, a fim de que possamos agir não apenas a partir do ego, mas de níveis mais profundos do nosso ser, quando então podemos reconhecer a natureza divina inerente a todos os seres, desse modo agindo em harmonia com propósitos saudáveis e evolutivos, sempre benéficos a todos.
Esse exercício de percepção consciente nos parece um dos mais importantes aspectos das práticas consideradas espirituais, pois sem ele as próprias ações que venhamos a praticar, ainda que vinculadas a alguma confissão religiosa, podem não ser motivadas por uma autêntica aspiração à transcendência nem pelos ideais puros e sinceros que nos devem guiar os passos na jornada existencial.
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