ARTIGO

O 7º

Por Armando Alexandre dos Santos | 26/06/2023 | Tempo de leitura: 4 min

Retomamos nesta semana a história dos Voluntários da Pátria, que atenderam à convocação do Império para fazer frente à situação gravíssima criada em 1864, quando o Brasil, com seu exército de menos de 20 mil homens dispersos por todo o seu território, foi invadido pelo Paraguai, que dispunha de uma poderosa máquina de guerra, com cerca de 80 mil homens bem equipados com moderno armamento europeu.

Não seria possível relatar aqui as atividades de todos os numerosos corpos de VP. Vamos nos concentrar pontualmente na atuação dos Voluntários da Pátria de São Paulo, que constituíram, inicialmente, o 7º Corpo de Voluntários da Pátria. Embora mais tarde esse corpo tenha recebido reforços de outro CVP paulista, o 42º, e mais tarde do 45º CVP, foi “o Sétimo” que marcou a História de São Paulo e nela ficou imortalmente consignado.

Na “Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo”, publicação mais que centenária da qual tenho a honra de ser editor-responsável, encontra-se, no vol. XXII, referente ao ano de 1923, um estudo de 180 páginas, escrito pelo então Tenente-Coronel Pedro Dias de Campos, intitulado “O Espírito Militar Paulista”. É desse estudo que extraio as informações a seguir, sobre “o Sétimo”.

Logo no início de 1865, em atenção ao Decreto Imperial de 7 de janeiro daquele ano, foi constituída em São Paulo, com sede no Largo da Sé, uma Associação Promotora de Voluntários da Pátria, que rapidamente recrutou grande contingente de soldados voluntários. Essa mesma associação também fardou, armou e transportou os voluntários que formaram o 7º CVP, composto de oito companhias, tendo cada uma delas um capitão, um tenente e dois alferes. Como comandante, o Tenente-Coronel Francisco Joaquim Pinto Pacca, major reformado do Exército.

Relaciono a seguir os demais oficiais do 7º CVP: Major Joaquim Antonio Dias; Alferes Ajudante Cândido Belisário Quintanilha Jordão; Alferes Quartel Mestre Francisco Assis Castro e Silva; Alferes Secretário Henrique Alves de Carvalho; Capelão Alferes Padre João Francisco de Siqueira Andrade; Capitão Antonio Ferraz do Amaral; Capitão Antonio Alves Marques; Capitão Diogo Antonio de Barros; Capitão Antonio Carlos da Silva Telles; Capitão Felício Ribeiro dos Santos Camargo; Capitão Francisco de Assis Pereira de Castro; Capitão Fortunato de Campos Freire; Capitão Joaquim Compton D´Elboux; Tenente Antonio de Pádua Silveira Franco; Tenente João Antonio Vieira; Tenente João Francisco de Azevedo; Tenente Gustavo Adolpho Peixoto de Azevedo; Tenente Martinho da Silva Prado; Tenente Antonio Pedroso Goulart; Tenente Cypriano Francisco de Assis; Tenente João Monteiro de Toledo; Alferes Francisco de Paula Penteado; Alferes Francisco Libório de Oliveira; Alferes Antonio Nardi de Vasconcellos; Alferes Antonio Lopes Guimarães; Alferes Joaquim Monteiro Soares; Alferes Carlos Augusto Ramalho da Luz; Alferes Pio Corrêa da Rocha; Alferes Claudio de Paula Machado; Alferes Joaquim Thomas Cardoso de Mello; Alferes Francisco Justino dos Santos Moura; Alferes Belisário Augusto de Senna; Alferes João Antonio de Paula Vieira; Alferes João Fabiano da Costa Machado; Alferes José Francisco de Assis Penteado; Alferes Francisco Benedicto de Mattos; Alferes José Antonio de Albuquerque. Destaquei em negrito o Capitão Fortunato de Campos Freire, que foi um dos cinco piracicabanos que fizeram parte do 7º e tiveram seus nomes recordados no “Almanak de Piracicaba” de 1900.

A essa relação, acrescentem-se ainda os oficiais adidos: Capitão Elias José de Oliveira; Capitão Tristão de Almeida; Tenente Valentim José Rodrigues; Tenente Roldão Martins de Britto; Alferes Matheus Marques de Moura Leite; Alferes Joaquim José de Almeida; Alferes Francisco de Paula Nogueira; Alferes Pedro Palhares de Andrade; Alferes Raymundo do Espírito Santo Fontenelle; Alferes João José da Silva Costa; Alferes Affonso Aurora Terra; Alferes Eugenio Luciano de Sampaio.

Quis relacionar essa ampla nominata de propósito, porque ela permite facilmente identificar elementos das principais famílias do establishment paulista, o que demonstra como a rica e poderosa aristocracia cafeeira de São Paulo deu efetiva colaboração para a formação do 7º CVP. O mesmo ocorreu no Brasil inteiro: membros de famílias de posses, pessoas que não precisavam de promessas de recompensas financeiras ou em terras para acorrerem ao combate se alistaram por verdadeiro patriotismo.

Contrariamente ao que diz o jornalista J. J. Chiavenato, os Voluntários da Pátria não foram “um mito”, mas foram uma realidade. Houve, sem dúvida, episódios tristes e dolorosos de “voluntários” forçados e de escravos aliciados; nem tudo foi luz no quadro, houve nele também sombras. Mas destruir a memória nacional e a glória das armas brasileiras, como faz o panfletário Chiavenato no seu livro “Os voluntários da pátria (e outros mitos)” é um verdadeiro absurdo, para não dizer um crime de lesa Pátria.

Registra o Tenente-Coronel Pedro Dias de Campos, no seu citado estudo: “Era o 7º um corpo luzido, formado com a flor da mocidade paulistana, estuante de brio, de entusiasmo patriota e de desejos de marchar para o teatro de luta, que se feria em toda vasta fronteira do Sul. Ansiavam os voluntários pela ordem de marcha, que aguardavam, havia já seis longos meses”.

Veremos, na próxima semana, como foi o desempenho do 7º.

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