ARTIGO

A vaidade e os outros

Por Luiz Xavier |
| Tempo de leitura: 3 min

Mais um ótimo artigo do querido Flávio Gikovate. Acompanhem:

“O prazer erótico de caráter exibicionista é um tanto independente de quem é que está assistindo nosso show. O observador não é totalmente irrelevante. Se as pessoas que estiverem nos olhando tiverem uma reação negativa, padeceremos da terrível dor da humilhação, ao passo que, se manifestarem admiração e respeito, nos sentiremos elevados, estimulados e sexualmente um tanto excitados.

Dependemos, pois, da reação das outras pessoas (os observadores). Não há como desconsiderar o fato de que nosso estado de alma é muito influenciado pela forma como nossa pessoa - ou algo que tenhamos feito - será recebida. Quem nunca ouviu ou pensou sozinho acerca do que é que os outros vão falar ou pensar a nosso respeito?

Quanto mais dependemos da opinião dos outros para nos sentirmos bem, menor será nossa liberdade individual. Pensaremos duas vezes antes de tomarmos alguma atitude menos comum. Pensaremos na repercussão que nossos atos, nossa forma de vestir e até mesmo nossos pensamentos terão sobre os outros. Os outros passam a ser nossos juízes, aqueles que julgarão se somos ou não criaturas legais, dignas. A vaidade nos leva, pois, a uma situação muito delicada na qual nós somos os juízes dos outros e os outros serão os que irão dizer se somos ou não criaturas válidas.

Quanto maior a vaidade, maior a dependência que temos das outras pessoas. Assim, os outros se transformam nos OUTROS, observadores todo-poderosos aos quais devemos obediência. O paradoxo é inevitável: para chamar a atenção deles temos que nos destacar, nos diferenciar. Se o fizermos de uma forma inaceitável, segundo os critérios deles, seremos objeto de chacota e ironia.

Na grande maioria dos casos, a questão se resolve apenas no plano da quantidade e não da qualidade. Ou seja, as pessoas buscam o destaque pela via da aquisição de uma quantidade maior de algo que seja valorizado por todos. Terão mais dinheiro, mais conhecimento, serão mais magras, mais belas (e recorrerão aos melhores cirurgiões para chegar a isso), mais viajadas etc. Usarão roupas caras e terão muitas delas. Não usarão, porém, aquelas que não sejam aprovadas pela maioria, as que não possuem uma grife (certificado de garantia de que se trata de algo precioso). Terão muitos carros, muitos relógios, farão dietas incríveis e dirão que são magras por força da natureza. A política do destaque será regida pelo lema ‘mais do mesmo’. As pessoas poderosas têm, portanto, muito das mesmas coisas; e são admiradas por isso. Destaque sem correr o risco de decepcionar OS OUTROS e serem objeto de rejeição e humilhação.

É claro que uma pessoa pode ser mais corajosa e tentar se destacar por ser, agir e pensar de uma forma original. Quase sempre será objeto de reações variadas e dificilmente agradará a todos os observadores. Será tida como pessoa extravagante e talvez desperte mais inveja pela coragem do que pelo modo de se comportar.

Sabemos que existem algumas pessoas com mais coragem para se exibir de forma incomum mesmo sem serem portadoras de grandes talentos. São poucas e, principalmente na adolescência, acabam se filiando a alguma tribo minoritária, passando a agir de acordo com o padrão daquele subgrupo. O desejo de destaque é grande e na falta de criatividade acabam por se integrar numa turma onde a originalidade é duvidosa e a extravagância é um objetivo em si mesmo. O que me encanta é não abrirmos mão de nossas convicções mesmo se venhamos a bater de frente com a opinião dos OUTROS”.

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