ARTIGO

Down no high society

Por Rubinho Vitti | 17/06/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Qual é a relevância da high society? Por que esse povo tem tanto destaque? Por que dar toda esta atenção?

Em cidades do interior, principalmente, dá-se um valor enorme a esta fatia minúscula da população como se fosse uma pletora de fórmula mágica para a felicidade.

Nem mesmo programas de televisão como Amaury Jr. são levados a sério, tornaram-se cafonas e motivo de piadas.

No interior paulista é diferente! A elite é tratada como heroína da província. É como se, para chegar ao “status” onde estão, eles tenham lutado, e muito. Uma “lição de vida” para o restante da população. Não é bem assim.

Essa “alta sociedade” tem voz para contar suas “histórias de superação”, que mais parecem piadas prontas da página de memes White People Problems (que ironiza as mazelas diárias “sofridas” pelas pessoas ricas e brancas em um país extremamente racista e aporófobo como o Brasil).

É de rubrar de vergonha alheia ouvir frases de lousinha de café gourmet sair da boca de uma socialite durante uma entrevista. Filosofia à la Augusto Cury, (que elas adoram!), de resoluções fáceis e resultados imediatos.

Tá “down no high society”, como já cantaram Rita Lee e Elis Regina outrora.

Não que muitos ricos não lutaram para conseguir ficar ricos, mas porque enriquecer individualmente precisa ser sinônimo de sucesso e exemplo de vida? É como se todos os dias essas “personalidades” soltassem dicas em um “manual prático” da “arte de ser rico”. Um ode ao alpinismo social.

Isso sem contar que a maioria desse sucesso, geralmente, vem de uma boa e velha herança de família.

Mas a real é: o que essas pessoas vão deixar para a história da humanidade? A não ser a caridade registrada para sair em jornal, esbanjando um sorriso Colgate, o nome de seus familiares nas ruas da cidade, por influência política e econômica. Influências estas que também deveriam ser questionadas. Que ano estamos para sermos tão reféns desta “alta sociedade”?

É um  sonho americano abrasileirado, megacafona e clichê. É a realidade com filtro de Instagram e máscara de gatinho.

Nem todos nós sonhamos com uma casa decorada pelo arquiteto do momento, com piso laminado, pé-direito alto e garagem para cinco carros, sendo um deles a última versão do Corolla, cor prata.

Ou ter dentes de cerâmica e fazer bronzeamento artificial para ser convidado VIP em uma festa de Liège Monteiro regada a flûtes de champanhe com bolo.

A high society vem gerando herdeiros de sua própria riqueza e influência desde as famílias reais. Parece que a sociedade precisa deles como se não tivesse superado a monarquia.

Isso explica muito o que acontece no Brasil, onde acham que o poder tem que ser tomado por famílias ricas, por um “gestor” elegante e cheiroso, vestindo um terno de marca, carésimo. Como se esse combo fosse sinônimo de competência e inteligência. Um caminho triste, cafona e cheio de botox.

Existem histórias de superação reais que rondam o planeta todos os dias, de gente que realmente lutou e fez algo para mudar o mundo. Elas podem nos inspirar a querer crescer profissionalmente ou mudar nosso caráter. Questionar nossos preconceitos, enfrentar nossos medos, admirar o outro pelo que ele é, não pelo que ele tem.

Histórias muitas vezes ofuscadas pelo brinco reluzente das socialites e suas insignificâncias.

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