ARTIGO

Sentido e propósitos da religião

Por André Salum |
| Tempo de leitura: 3 min

Ao se constatar o sentimento religioso e suas manifestações como fenômenos relevantes da história da humanidade, percebe-se que esse sentimento é inato e inalienável, expresso nos mais diferentes matizes.

Muitos podem ser os fatores que motivam a adesão a uma religião e a sua prática, desde os que refletem interesses egocêntricos até aqueles de natureza superior, como expressão da busca de transcendência, inata no ser humano. Desse modo, sofrimentos físicos ou psíquicos, insegurança, convenções sociais, imposições familiares, condicionamentos culturais, busca de sentido existencial, dentre tantas outras razões que nos escapam à compreensão, podem ser impulsos na procura de uma religião ou de um caminho espiritual. Atendendo aos anseios humanos, além das instruções, do conforto e da esperança que proporcionam, as religiões podem cumprir muitas funções benéficas de natureza psicológica, material e social, motivos pelos quais são dignas de respeito e consideração.

Certamente existe um propósito maior nas manifestações religiosas e nas propostas espiritualistas, cada uma endereçada e adaptada a determinadas parcelas da humanidade, cumprindo seu papel, caso contrário não haveria nenhum sentido nas revelações espirituais, nos livros sagrados, tampouco nos exemplos de sabedoria, amor e santidade que nos têm sido ofertados há incontáveis milênios. Esse legado espiritual, graças a muitos seres que, através da própria vida, demonstraram seu valor, torna-se convite a todos nós, para que possamos mais facilmente superar os incontáveis desafios que se nos apresentam nas experiências do cotidiano, sobretudo nos tempos atuais em que a fé, a paz e o amor se mostram imprescindíveis para o prosseguimento na realização das tarefas que a cada um é confiada.

Ao longo da jornada existencial, à medida que se amadurece, chega-se a níveis de consciência mais amplos, graças aos quais a busca espiritual e a expressão religiosa alcançam diferentes expressões. A busca por instituições, pessoas e ajudas externas, embora muitas vezes necessária e útil, cede espaço para as experiências interiores, graças às quais torna-se possível sentir e manifestar o que antes era questão de crença, tornando-se experiência pessoal. Esse amadurecimento espiritual permite que se reconheça a intuição como fonte de sabedoria, a oração e a meditação como direta comunhão com o divino e fortalecedoras da fé e o serviço ao próximo como expressão mais pura e legítima da própria religiosidade.

Se a dimensão espiritual, como os instrutores sempre têm afirmado, é a mais importante de nosso ser e de nossa vida, parece coerente refletirmos se estamos dando a ela a necessária atenção, se a buscamos como referência segura e se usamos os recursos e ferramentas que nos oferecem para melhor enfrentarmos e superarmos os problemas de um mundo instável, incerto e desafiador.

Sabe-se que, em matéria de espiritualidade, o essencial não é o conhecimento teórico nem a adesão a nenhuma religião formal, mas o quanto se pratica, com sinceridade, os ensinamentos em que se acredita e aos quais se dá valor. Nesse sentido, parece coerente considerar que o desenvolvimento da percepção do divino em nós mesmos tanto quanto nos demais signifique nos tornarmos mais compassivos, respeitosos, puros, amorosos, cooperativos, desapegados e pacíficos. Esses, dentre outros, parecem-nos parâmetros importantes para percebermos se nosso caminho espiritual faz sentido e cumpre seu propósito.

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