“Agora, em relação ao paciente poder facilitar o bom resultado do tratamento, o que observo é que é muito diferente quando ele procura o profissional por vontade própria, porque resolveu lidar com a situação, do que quando vai empurrado pela mulher ou pelo marido. Além disso, é preciso ter visão de que a sexualidade, tanto de quem trabalha com ela quanto de quem traz o problema para o consultório, é única, não dá para padronizar.
Existem algumas diferenças entre a sexualidade de homens e mulheres. De uma maneira geral, as disfunções sexuais masculinas tendem a ser mais biológicas que as das mulheres. Apesar disso, para uma grande queixa masculina, a ejaculação precoce, ainda não se descobriu uma causa biológica. Na disfunção erétil, uma parte é devida a problemas orgânicos e outra parte é mista. Entre as causas orgânicas é possível destacar o tabagismo, a hipertensão. o envelhecimento físico, o estresse, a depressão, o diabetes e os problemas cardíacos.
Na questão das disfunções femininas, o que mais se sabe hoje é da sexualidade da mulher climatérica. E grande parte de seus problemas. E grande parte de seus problemas sexuais decorrem da falta de estrógeno. Essa falta leva à atrofia vaginal e à diminuição da lubrificação. Outro aspecto que influencia na sexualidade é que a estética aqui no Brasil é algo muito valorizado. Por isso a perda da beleza é muito sentida pelas mulheres e pode prejudicar seu desempenho. Acho que as mulheres têm outra interpretação do que seja relação sexual. Consequentemente, os elementos que interferem no bom desempenho da mulher são diferentes do homem. O pico de excitação acontece num tempo muito diferente do homem. No visual ele já se excita. A mulher pode olhar e até se sentir interessada, mas vai depender de uma série de outros elementos para ela chegar ao orgasmo. É à medida que se prepara o paciente para estudar sua sexualidade, que ele vai aprendendo a discriminar o que é seu e o que é do outro.
Sempre que a dificuldade causar sofrimento, esse é o momento para se buscar ajuda. É importante dizer que não é o profissional que determina se a sexualidade do outro é normal ou não. É o próprio indivíduo que determina se tem ou não a dificuldade. Historicamente, quando começaram as descobertas da ciência, passou a fazer parte da competência do profissional de saúde o tratamento da sexualidade. Seguindo essa trajetória, podemos afirmar que a homossexualidade, por exemplo, deixou de ser uma doença até por um amadurecimento da ciência. Doença é o que se trata, mas como vamos fazer para alguém ser o que não é. Fazendo uma comparação, não ter cárie é que é fora de padrão. Mas a doença é ter cárie. Da mesma forma, quando falamos de sexualidade, é muito perigoso dizer que o saudável é o padrão. É muito grotesco definir saúde e doença por um padrão. Padrão. hoje, é ter celulite e vida sedentária, mas será que podemos chamar celulite e vida sedentária de saúde?
A informação é importante, mas não resolve tudo. São necessárias mudanças de hábitos, mas mudar hábito é mudar cultura, é exigir das pessoas uma forma de ser que não lhes é natural. E isso é algo a ser mudado, não com informação, mas com educação. Por exemplo, mudar a atitude diante da camisinha exige educação contínua, não ocasional, em períodos como o carnaval. E também não adianta usar uma linguagem muito genérica”.
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