ARTIGO

Minhas memórias com Rita Lee (pt 4)

Por Rubinho Vitti |
| Tempo de leitura: 3 min

Quando eu era adolescente, perdi minha gatinha Mia, que nos acompanhou por 13 anos na nossa vida em família. Ela foi atropelada e era muito velhinha para resistir.

Depois de chorar muito eu resolvi mandar um e-mail desabafando minha história para uma das pessoas que me acolhia sempre com sua música. Claro, Rita Lee. Qual não foi minha surpresa quando recebi a resposta quase que imediatamente:

-- Queridinho meu, não tem jeito. Nessas horas a gente se sente no fundo do poço mesmo, eu entendo muito bem sua dor. Em nome do amor que sua gatinha lhe dedicou durante tanto tempo, o melhor a fazer é adotar uma filhotinha para dividir com ela mais outros 13 anos de sua vida. Tenho certeza de que, lá no céu, sua ex vai ficar mais iluminada. Chore tudo o que tiver que chorar, mas não demore muito para se apaixonar por outra gatinha companheira, isso vai lhe fazer um bem danado, acredite. Fique forte, beijos, Ritz.

O tempinho que ela tirou para afagar aquele coração machucadinho fez um bem danado ao adolescente chorão.

Rita era assim com seus fãs e comigo não foi diferente. O carinho era mútuo. E tenho muitas provas disso!

Em 2002, Rita fez um show em Piracicaba. Eu e minha amiga Edna combinamos de dar um presentinho para ela. Encontrei uma coleção de miniaturas do Peter Pan na internet! Eu sabia que ela amava, assim como eu.

Depois do show, entramos no camarim e entregamos o presentinho pra ela. Ela pirou! Ainda na nossa frente, virou criança, brincando com os personagens.

Algumas semanas depois, lá vou eu para Ribeirão Preto ver outro show da Rita. Quase no finalzinho, ela viu a gente do palco, no meio de uma multidão espalhada na praça, e disse no microfone, para todo mundo ouvir, que adorou o presente que demos a ela, oferecendo a música Mania de Você para nós! Aí fomos nós que piramos.

Em 2003, Rita lançou o disco Balacobaco, o primeiro de inéditas depois de alguns anos! E qual não foi minha surpresa de ver os bonequinhos de Peter Pan e Sininho, aquele que nós demos a ela, na capa do disco, que era tipo um relicário com coisas que ela gostava.

Pouco tempo depois, fomos à pré-estreia da turnê em Campinas. Logo no camarim, Rita veio correndo falar com a gente! “Vocês viram a capa do disco?”, com aquele olhão azul arregalado e ansiosa para ver nossa reação. Todos piramos juntos em uma festa que só ela sabia fazer em seu camarim!

Dezoito anos se passaram e lá fui eu na exposição sobre a Rita no Museu da Imagem e do Som, em São Paulo. E lá estava o relicário ainda intacto e exposto, e nosso presentinho ali junto, agora parte da história de sua imensa carreira musical.

Rita também acompanhava nossa vidinha besta. Uma vez, ela insistiu em querer saber o que eu estava estudando. Na época, ainda fazia faculdade de jornalismo e contei pra ela.

Tempos depois, já trabalhando no Jornal de Piracicaba, me pediram para escrever uma matéria sobre os 30 anos de morte da Elis Regina. Rita veio logo à minha cabeça, mas sabia que ela não dava muitas entrevistas. Fui lá e tentei. Deu certo!

“E aí Rubinhow, já está dando o ar de sua profissão…”, escreveu, antes de responder às perguntas que enviei por email. A gentileza continuou e Rita, que sempre contou a mesma história sobre Elis por aí, me deu um adendo de algo que, mesmo lendo trocentas matérias sobre o assunto, nunca soube:

Certa vez, estava ela falando sobre novas cantoras e disse uma frase genial, eu anotei e avisei que iria roubar: “As Noviças do Vício”. Tem sacação melhor do que esta?

A frase de Elis virou uma canção de seu álbum de 1985, aliás, ano que nasci.

Ao longo dos anos, Rita ainda me deu algumas outras entrevistas para sites que eu fazia “freela” como o Música e Letra e o Ziriguidum. Sempre com a generosidade que ela, e apenas ela, tinha!

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