ASSISTÊNCIA

Cão-guia: de onde surgiu a ideia e como auxiliam seus tutores deficientes visuais

Treinador e responsável pelos cães de assistência de Piracicaba, explica como atuam esses animais

Por João Paulo Silva Bombo | 03/06/2023 | Tempo de leitura: 3 min
joao.paulo@jpjornal.com.br

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Além de estabelecer uma relação de afeto e cumplicidade, proporcionam a inclusão de seus tutores
Além de estabelecer uma relação de afeto e cumplicidade, proporcionam a inclusão de seus tutores

Cães e tutores possuem uma relação de companheirismo e amor. Para pessoas com deficiência visual, a relevância do cão-guia na vida de seus donos torna-se ainda mais importante. Eles são especialmente treinados para ajudar, atuando como uma extensão de seus usuários.

De acordo com dados divulgados pelo IBGE, no Brasil, 7 milhões de pessoas são deficientes visuais e existem apenas 150 cães-guia em atividade no país, o que acaba resultando em um tempo maior na fila de espera – que pode ser de anos.

A história moderna dos cães de assistência teve início com o cão-guia, e começa durante a primeira guerra mundial, onde no front de batalha, era utilizado o gás de cloro que cegaram milhares de soldados. Foi quando o médico alemão Dr. Gerhard Stalling, teve a ideia de treinar cães em grande escala.

A partir desse momento, outros países começaram a treinar cães para guiar pessoas com baixa visão e cegas em todo o mundo, abrindo escolas e instituições para esse fim. No Brasil a Sra. Hilda Munhoz, refugiada de guerra, viu o treinamento desses cães na Alemanha e ao chegar aqui percebeu que não haviam cães com esse tipo de treinamento. Voltou a Alemanha para aprender e, na década de sessenta, treinou o primeiro cão guia do Brasil, uma boxer chamada Blenda, que foi entregue a uma pessoa cega do Nordeste do país.

O responsável pelos Cães de Assistência de Piracicaba e treinador desses animais, Oliveiros Barone Castro, explica que um cão deve ser selecionado, socializado e treinado para ser um cão-guia em um processo que leva mais de dois anos. Precisam apresentar habilidades e demonstrar potencialidades para entrar no processo de socialização e treinamento. No final do treinamento, é feito a formação da dupla para a adaptação da pessoa e do cão para caminharem juntos de forma segura e tecnicamente adequada, proporcionando melhor mobilidade do tutor, principalmente em ambientes urbanos.

São treinados não só para guiar, mas para desviar dos obstáculos rasteiros, médios e aéreos. Obstáculos rasteiros são todos aqueles que ficam no chão como buracos, degraus e depressões, os médios, são aquelas lixeiras que ficam na parede e os aéreos são galhos de árvores portões basculantes abertos, dentre outros.

"O cão-guia tem como função principal guiar a pessoa pelo melhor caminho com a maior segurança e melhor mobilidade, desviando dos obstáculos que possam surgir e chegar ao objetivo solicitado pela pessoa por comando verbal e gestual. Esses cães são treinados para chegar a uma farmácia, padaria, elevador, bilheteria, ponto de ônibus, metrô ou ao trabalho da pessoa sem errar", comenta Oliveiros.

Para que uma pessoa possa receber um cão guia, necessariamente precisa ter feito um curso de orientação e mobilidade e ter usado a bengala por pelo menos dois anos. Esse curso ensina pessoas cegas e com baixa visão a se localizarem nos espaços, bem como a se utilizarem dos sentidos remanescentes, principalmente a audição, para que, por exemplo, possam atravessar uma rua, embarcar em uma composição do metrô ou mesmo entrar em um elevador com segurança.

"Tecnicamente não é só o cão que guia, mas sim a dupla, pois o cão obedece a comandos do seu condutor e só age a partir deles. A única vez que o cão age com independência é o que chamamos de desobediência inteligente que é quando, em uma situação de perigo iminente ele desobedece a seu condutor para evitar acidentes. Outro ponto importante a se destacar é, ao se deparar com um cão-guia, não o distraia ou mexa com ele, principalmente se estiver guiando a pessoa. Se a dupla estiver parada, fale com seu condutor e tire suas dúvidas".

Esses animais se aposentam de sua função com a média de nove anos, e substituído por outro já treinado. Quase a totalidade dos cães-guia que exerceram sua função ficam com seus condutores e sua família ao se aposentar ou retornam ao centro de treinamento ou mesmo ao seu treinador e nunca são abandonados.

1 COMENTÁRIOS

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  • Augusta Munhoz Kerbauy
    04/06/2023
    Fico feliz que o sonho de minha mãe continuou evoluindo e hoje vemos por todo Brasil tantos cegos serem guiados pelos seus cães devidamente treinados!