ARTIGO

Saber e viver

Por André Salum | 02/06/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Aquilo que sabemos pode ser compreendido como a ínfima parcela de verdade que conseguimos conceber e incorporar ao nosso modo de ser e de viver. Diante da infinita sabedoria universal, nosso saber é insignificante e, embora necessário, não pode ser parâmetro principal nem suficiente para a resolução dos problemas fundamentais da existência, o que nos leva a considerar a validade do acesso a fontes mais profundas de sabedoria, como a intuição.

Nesse sentido, as incontáveis revelações e instruções espirituais que têm sido ofertadas à humanidade como manancial de sabedoria e orientação a uma existência harmoniosa, individual e coletiva, nos convidam a assimilarmos a parcela que nos cabe dessas revelações e a aplicá-la em nossa vida pessoal tanto quanto nas relações que estabelecemos com os demais. Parece que, devido às nossas atuais limitações, deixamos de praticar tais ensinamentos, por mais preciosos sejam, quando contrariam nossos interesses imediatos e desejos egocêntricos.

Temos sido instruídos que o desenvolvimento da consciência é gradual, da sombra para a luz, como no ciclo noite-dia, em que a claridade se faz crescente. Desse modo, seres mais maduros espiritualmente são os que já assimilaram a verdade de modo mais amplo, tendo se tornado portadores de virtudes extraordinárias de sabedoria e bondade, por vezes considerados santos, sábios e mestres. Sabe-se que, pela inexorável lei evolutiva, todos nós, mais cedo ou mais tarde, alcançaremos um nível de compreensão e de vivência mais elevado, como a criança que cresce e se torna adulta, obedecendo ao natural desenvolvimento humano. Da mesma forma que existem métodos pedagógicos e práticas educacionais que facilitam o desenvolvimento das potencialidades infantis, há ensinamentos de natureza espiritual que catalisam as potencialidades anímicas, a fim de que os seres que a eles se dediquem as manifestem mais plenamente. Assim como existem diferentes propostas e métodos educativos, há diversidade de caminhos espirituais, adequados aos diversos temperamentos, níveis de consciência e necessidades que se apresentam na humanidade. Compreender e aceitar essa diversidade nos parece fundamental para que respeitemos as experiências e os saberes alheios, assim como os rumos e escolhas diferentes dos nossos.

Na jornada existencial, saber algo e não vivenciá-lo gera uma dissonância entre os diversos níveis da existência, refletindo-se em conflitos e sofrimentos. É o que pode ser chamado de omissão, quando se pode e deve fazer algo que, no entanto, não é realizado. Portanto, à medida que novas revelações, concepções e compreensões se incorporam à mentalidade humana, novos padrões de comportamento, atitude e ação são requeridos, para que a vida exterior seja a expressão dos valores e princípios assimilados. Se assim não fosse, não haveria sentido nem finalidade em todos os ensinamentos e exemplos que nos têm sido ofertados ao longo da história, aprendizes que somos, em estágio ainda primário de compreensão dos desígnios e propósitos da vida.

É sabido que, diante das leis que nos governam a vida e o destino, a nossa responsabilidade é proporcional ao nosso conhecimento. Portanto, saber mais significa, antes de tudo, maior compromisso em colaborar com o bem geral. Dessa compreensão deriva o imperativo de que todo saber deve se converter em fazer, ou seja, toda compreensão ampliada deve se expressar em novas e melhores formas de agir e de interagir, aprimorando as condições de vida para todos.

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