Marielle Vive, ficou! Esse tem sido o grito de luta e resistência da população do acampamento Marielle Vive do MST, em Valinhos. O Acampamento reúne mais de 450 famílias, que reivindicam o direito fundamental à terra, à moradia. Apesar de toda violência dirigida contra a população acampada, violência inclusive que ceifou covardemente a vida do seu Luiz, o Acampamento Marielle Vive resiste em sua luta por direitos de cidadania.
Preservação ambiental e produção agroecológica! Ocupando uma área de pouco mais de 130 hectares, antes ociosa pela lógica da especulação imobiliária e destinada para a construção de luxuosos condomínios, o Marielle Vive se tornou um território de preservação ambiental, de proteção de mananciais e de produção agroecológica. Um verdadeiro exemplo do que significa a função social da terra.
Sem água, sem energia elétrica, sem saneamento básico, sem cidadania! No Marielle Vive, as famílias enfrentam a precarização do acesso à água e à energia elétrica. Direitos básicos que são recusados às famílias do Acampamento. É obrigação do Estado garantir a todas as pessoas o direito a estes serviços essenciais. Mesmo em situações extremas de guerra, o direito ao acesso à água sempre é reivindicado. As famílias do Marielle Vive lutam cotidianamente pela vida, dignidade e liberdade.
O companheiro Lopes, liderança no Acampamento, responsável pela formação política, relata que, apesar de todas as dificuldades e carências, no Marielle Vive todos têm acesso à alimentação e ninguém passa fome. A cozinha comunitária prepara três refeições diárias, garantindo às famílias do Acampamento o café da manhã, o almoço e o jantar. Na ética comunitária do Marielle Vive, tudo que chega ao Acampamento deve ser compartilhado. Não há excessos, mas também não há as severas carestias. Essa é a outra lógica da partilha!
Tudo no Marielle Vive aponta para uma educação comprometida com uma outra concepção de sociedade, pautada no direito, na justiça e na autonomia. Sob a liderança da companheira Cícera, a escola é comunitária, contando com a atuação de educadores voluntários, que desenvolvem projetos com perspectiva interdisciplinar. Totalmente inserida na realidade cotidiana do Acampamento, é interessante mencionar o trabalho educativo desenvolvido pela professora Cintia Zapa, do Instituto Federal, campus Campinas.
A horta comunitária, em formato de mandala, além de possibilitar uma produção agroecológica, livre de qualquer tipo de agrotóxico que envenena o alimento, também é um lugar de formação política, na dinâmica do trabalho comunitário e da corresponsabilidade. A horta somente existe porque é fruto de um trabalho coletivo. Os pressupostos e a aplicação da agroecologia despontam para a base de formação, indicando novas formas para uma sociabilidade sustentável e autônoma.
Um lugar onde ninguém passa fome! A cozinha comunitária se projeta no centro de uma organização social na qual ninguém fica de fora. Todas as pessoas têm direito a um prato de comida, que é preparado de maneira coletiva, utilizando inclusive produtos advindos da própria horta mandala, com divisão de tarefas, sob a égide de uma participação que constrói o bem comum.
Na luta por direitos de cidadania, o Acampamento não deixa de indicar que um outro mundo é possível, com outra economia, com outra forma de exercício do poder e de estruturação político-social, ancorada no senso de pertencimento, de construção coletiva e de corresponsabilidade, livre das formas arraigadas de exploração e opressão. O MST é o grande movimento que guarda às esperanças revolucionárias de nosso tempo!
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