ARTIGO

O tolo e triste “homo digitalis”

Por Cecílio Elias Netto | 23/05/2023 | Tempo de leitura: 3 min

O chamado “politicamente correto” não passa, na realidade, de outra armadilha para o domínio sobre as pessoas. É a arma do poder, através da qual se excluem maiorias. A insistência na lastimável questão de “gênero” é uma delas. E, talvez, a mais poderosa. A ignorância – proposital ou apenas culpável – escancara-se diante da palavra “homem”. Mediocrizaram-na, como se referisse apenas ao masculino.

O “Homem”, na plenitude da palavra, diz respeito ao ser humano, à espécie humana. É o “humus”, a argamassa que a alegoria histórica diz ter sido a nossa origem. “Tu és pó e ao pó voltarás”. Por sua vez, as diversas ciências manifestam-se em torno do surgimento do hominídeo há alguns milhões de anos. A “Lucy” – um dos mais completos hominídeos, encontrado na Etiópia – avalia-se que surgiu há cerca de 3,2 milhões de anos. Há quem assegure ter surgido, o humano, há quatro milhões de anos.

Estamos em perpétua evolução. O animal foi-se tornando “homo faber”, “homo habilis”, “homo erectus”, “homo sapiens” – e por aí vai. Pelo menos, até aqui, tem ido. A esperança de continuar a evolução é tal que estudiosos já preveem o surgimento de um novo ser humano: o “homo digitalis”. E isso amedronta. Pois a previsão é a de que o novo ser humano seja corcunda, cabisbaixo, olhando sempre para as mãos que terão outro formato: sobrarão somente dedos. Por isso, a qualificação de “homo digitalis”. Ele terá apenas dedos para continuar digitando em seus aparelhos celulares cada vez mais “inteligentes”.

Possível – ou presumidamente – o “homo digitalis”, dos seus cinco sentidos ainda existentes, terá apenas dois: visão e audição. Por falta de uso, perderá o tato, pois está deixando de “tocar” gente e coisas vivas; e o paladar, que já se vai perdendo à dependência de produtos artificiais, industrializados. E perderá, também, o olfato, desconhecendo outros odores que não os de celulares, computadores, máquinas. Aliás, o “homo digitalis” começa a abrir mão de sua própria inteligência – e da razão e de emoções e de sentimentos – cedendo-a ao seu novo e fatal concorrente, a “inteligência” artificial.

Na América Latina – e, portanto, também no Brasil – as grandes questões continuam chegando com grande atraso. Apenas agora, começamos a discutir a regulação das chamadas “redes sociais”, provocando a fúria da vilania de seus exploradores. Não há como contestar seus grandes e inumeráveis benefícios. No entanto – comprovando os horrores da estupidez humana – já se revelam verdadeira ameaça à humanidade por seu caráter também destrutivo. Na Europa e América do Norte, esse tsunami de mentiras, de farsas, de agressões já adquiriu nome próprio: “shitstorm” (shit + storm). Que deveria ser entendido como “tempestade de indignações”, mas que explicita exatamente aquilo em que se tem tornado: “tempestade de cocô”.

O problema, de tão grave, amedronta pela impossibilidade, até agora, de solução. As chamadas plataformas digitais tornaram-se um império de controle da vontade humana. São detentoras do poder máximo: o de conhecer tudo sobre todos e, assim, manipular conforme a sua insaciável fome de lucros. A chamada “inteligência artificial” é, apenas, uma plagiadora de obras alheias. Ela não cria. Simplesmente rouba o conhecimento humano alcançado ao longo de tantos séculos. E o “homo digitalis” aceita a submissão, a sujeição. O “eu” está tornando-se apenas “ele”.

Uma pergunta já se impõe: não tem sido temeridade oferecer celulares, indiscriminadamente, a crianças e adolescentes sem quaisquer restrições?

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