ARTIGO

Minhas memórias com Rita Lee (pt 2)

Por Rubinho Vitti |
| Tempo de leitura: 3 min

O sonho de uma criança como eu poder ver Rita Lee ao vivo era quase impossível de ser realizado, principalmente morando em Piracicaba, onde, entre o fim dos 1990 e o começo dos 2000 não havia uma quantidade razoável de shows acontecendo. Além disso, meus pais não eram lá fãs de muvucas como essas.

Em 1999, no entanto, Rita se apresentou no ginásio Waldemar Blatkauskas. Eu com 14 anos, menor de idade, obviamente não poderia ir ao show, muito menos sozinho. Mas me lembro que, por acaso, minha família e eu passamos de carro na frente do local e pude ouvir, por um milissegundo, a mesma canção que a ouvi cantar pela primeira vez: “venha me beijar… meu doce vampiro”.

Meus olhinhos marejados acompanharam o ginásio sumindo aos poucos no horizonte pelo vidro traseiro do carro e voltei pra casa pensativo.

A oportunidade de fato surgiu no ano seguinte quando, depois de muito espernear com minha família, eles aceitaram levar aquele aborrecente chato que só falava de Rita Lee para um show em São Paulo. Mas eles teriam que ir junto.

Nesta época, eu já era filiado ao Fã Clube Oficial Ovelha Negra (com carteirinha e tudo) e ganhamos ingressos para ver a gravação de um especial que Rita gravou para a TV Bandeirantes, no OIympia, casa de shows renomada da capital.

Meu tio Vadinho foi de motorista já que meu pai tem pavor de guiar pela Marginal Tietê. Eu, minha mãe e minha irmã fomos ao show, grudados na grade.

Na época com os cabelos alaranjados, Rita surgiu no palco e lágrimas jorraram incessantemente pelos meus olhos. Foi como se eu estivesse tendo uma visão daquela figura ensolarada recém-chegada do futuro com seu disco voador.

Passei aquelas duas horas em êxtase, vidrado, sem piscar, literalmente abduzido.

Na volta a Piracicaba, já bem tarde da noite, o carro quebrou. Estava chovendo muito e acabamos sendo socorridos por um guincho que nos deixou ao lado de um posto de gasolina. Todos tivemos que dormir no carro para esperar o mecânico na manhã seguinte. Coisas da vida!

Minha família, assistindo meus devaneios com Rita Lee, me acompanhou muito pelas primeiras aventuras atrás da ídola.

O fato é que naquela altura uma chaminha acendeu dentro de mim e passei a ter como objetivo de vida ir a shows de Rita Lee.

Em 2001, fui a uma gravação do programa do Jô Soares, na Globo, em que ela participou para divulgar o seu disco Aqui, Ali, em Qualquer Lugar.

Naquela semana, totalmente desprovido de senso de estética, compus e gravei uma música em homenagem a ela no formato de fita k7. Ela falava de uma energia cósmica que guiava gerações e seguia até o além do cosmos. Bem a cara dela!

Entreguei a fita para uma assessora junto com uma cartinha e assinei: “Rubinhow”, assim, com um “w” no final.

No mesmo ano, Rita fez uma tarde de autógrafos e lá fomos nós novamente. Aquele jovem de espinhas brotando na testa e cabelo repartido ao meio, caipira pra caramba, ajoelhou aos pés da diva pela primeira vez.

Nunca soube se ela tinha ouvido a fita, porém, ao autografar meu disco, ela escreveu “Rubinhow” com o tal “w” assinado na cartinha, algo que, a partir dali, virou nossa marca registrada.

O carinho de Rita com seus fãs era surreal. Ela sempre valorizou quem gostava dela e identificava, em cada um de nós, todo aquele amor todo com um gesto de carinho. Esse era o meu.

Devo ter ido em mais de 40 shows de Rita entre aquele primeiro até o derradeiro, em janeiro de 2013, quando se aposentou dos palcos. Em quase todos eles, Rita me recebeu de braços abertos no camarim.

E ao me ver, com aqueles olhos azuis brilhantes, um olhar carinhoso que só ela tinha, cantarolava com um sotaque americanizado em minha direção: “Ruuubinhowwww”.

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