ARTIGO

Aceitação e mudança – 2

Por André Salum | 19/05/2023 | Tempo de leitura: 3 min

Todos passamos por momentos da vida em que somos desafiados a tomar determinadas decisões e a mudar, a fim de trilhar rumos até então desconhecidos. Em outras fases, somos sutilmente convidados a aceitar paciente e serenamente certas circunstâncias, algumas das quais consideradas desfavoráveis ou desagradáveis.

Devido ao nosso nível de consciência, graças ao qual tendemos a não nos mover espontaneamente rumo a realizações mais nobres e elevadas, principalmente quando tais realizações signifiquem a necessidade de esforço e perseverança, a vida se encarrega, por mil modos, de nos abalar a estrutura psíquica, afetando nosso modo de ser e de estar. Nesse movimento, pela resistência que opomos ao fluxo da vida, podemos chegar a situações-limite, em que sofrimentos e crises nos impulsionam a mudanças mais intensas e significativas. Aceitar esse processo e as lições decorrentes dele faz parte do nosso aprendizado, ao lado do reconhecimento de nossas temporárias limitações.

Ao nos questionarmos se devemos aceitar alguma situação ou nos empenhar em mudá-la, parece-nos importante saber a partir de que lugar interior, ou seja, de que estado de consciência tomamos essa decisão, pois quando estamos excessivamente sujeitos à nossa personalidade, tendemos a nos iludir e a tomar decisões imediatistas, motivadas por interesses superficiais, por impulsos desgovernados, pelo medo, pela ambição, pela raiva e pelas demais forças egoicas que ainda nos caracterizam. Como temos observado e sentido em nossa própria vida, decisões e ações provindas desse nível causam-nos inúmeros dissabores, perpetuam conflitos e agravam problemas.

Quando, mediante um processo de despertar interior, conseguimos acessar níveis mais profundos do nosso ser, reconhecê-los e agir a partir de sua inspiração, podemos agir com maior lucidez, clareza e correção. Sabe-se que quando as decisões são tomadas a partir dessa consciência, são isentas de conflitos e de dúvidas, e não são seguidas de arrependimentos ou culpas. Qualquer que seja a atitude – aceitação ou mudança – desde que provinda de uma consciência lúcida, traz integridade às ações tanto quanto proporciona efeitos positivos. A coerência e o alinhamento entre os propósitos da alma e as ações externas é fonte de serenidade e força que nenhuma condição exterior pode proporcionar, além de favorecer os melhores resultados possíveis. O contato consciente com a fonte do nosso ser nos permite, através da intuição, saber se é o momento adequado para tomarmos determinada decisão, ou se deveremos aguardar até uma ocasião futura mais favorável. É como aguardar o momento em que um fruto esteja maduro para, então, colhê-lo e saboreá-lo. Essa percepção ampliada e aprofundada permite compreender certos ciclos e ritmos da vida, agindo em harmonia com eles, colaborando, mediante ações corretas e harmoniosas, com sua realização. A partir desse estado passamos a seguir impulsos ordenadores e curativos, tanto na paciência diante daquilo que seja inevitável e necessário aceitar, quanto na prontidão e na coragem para romper estruturas que se mostrem obstáculos à realização dos impulsos evolutivos da vida.

Aqueles que desenvolvem a intuição aliada a uma correta instrução quanto aos propósitos da existência revelam a necessária sabedoria para que não ajam de modo impulsivo, egocêntrico ou irresponsável, nem deixem de agir com presteza e intensidade para a realização das mudanças que se façam necessárias.

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